Enquanto o governo federal debate decretar novo estado de calamidade pública no Brasil por conta do aumento da fome, os efeitos da hiperinflação seguem a impactar a vida dos brasileiros. A medida cogitada pelo Executivo, definida pela última vez no início da pandemia, daria abertura fiscal para bancar os subsídios dos combustíveis, um dos vilões no aumento dos preços.
O economista Márcio Pochmann, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) acredita que o próprio governo é responsável pela alta da inflação. "Sem enfrentar as causas, precisa atuar sobre as consequências", destacou. Dentre as possíveis políticas que poderiam ser atacadas para resolver o problema, Pochmann destacou a alta da energia elétrica, a Política de Paridade de preços de Importação (PPI) praticado pela Petrobras para calcular o valor do litro de gasolina ou diesel, e os recentes anúncios de reajuste nos preços dos planos de saúde.
"É uma indicação inequívoca de que o governo de Jair Bolsonaro não está interessado em atuar nas causas da inflação", concluiu Pochmann, que integra o grupo de Economia do programa de governo do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva, principal adversário do atual chefe do Executivo às eleições 2022.
O pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Giacomo Balbinotto indica que o problema vai além de medidas interventivas. "As medidas não têm efeito imediato. Há uma defasagem nas ações de política econômica, que levam algum tempo a serem sentidas pela população", explicou.
Vilões
Combustíveis, alimentação, transporte são alguns dos principais vilões do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que foi de 12,13% nos últimos doze meses. A situação é pior entre as famílias com renda entre um e cinco salários mínimos de renda, que mostra que os preços subiram 12,47% no mesmo período.
Por consequência, houve um aumento substancial no número de famílias em situação de extrema pobreza inscritas no CadÚnico. Somente no Auxílio Brasil há cerca de 18 milhões de famílias que recebem o benefício de R$ 400. Reflexo de um total de 11,3 milhões de desempregados.
Balbinotto discorda da especulação de interesse do governo em manter a inflação em alta. "De uma maneira geral, nenhum governo aceita a responsabilidade da inflação. Ela impõe custos significativos para a população, principalmente de baixa renda, que tem dificuldades em manter o poder de compra e tem um acesso dificultado ao mercado de trabalho", avaliou.
Para o período eleitoral, Balbinotto aponta que os candidatos deverão ter planos de governos elaborados tendo o combate à inflação como elemento central. "Os candidatos têm que ter propostas bastante claras sobre como combater a inflação. Quais os instrumentos utilizar e deixar claro para população que esse efeito não é imediato", aponta.
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