Situação econômica

'Acreditamos que o pior momento da inflação já passou', diz presidente do BC

Campos Neto ainda comentou que a inflação brasileira hoje se situa na média dos últimos 20 anos em relação aos países desenvolvidos

Agência Estado
postado em 27/06/2022 11:05
 (crédito: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
(crédito: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira, 27, que o Brasil ainda tem fatores de aceleração da inflação, como o componente fiscal, embora os últimos dois dados tenham sido, pela primeira vez, dentro da expectativa. "Acreditamos que o pior momento da inflação já passou. Temos algumas medidas desenhadas pelo governo que precisamos entender qual é o impacto no processo inflacionário, ainda não está claro."

Campos Neto ainda comentou que a inflação brasileira hoje se situa na média dos últimos 20 anos em relação aos países desenvolvidos.

"O Brasil sempre trabalhou com inflação acima do mundo desenvolvido. Inflação hoje está até abaixo da mediana. Ao contrário dos últimos anos, em que era inflação brasileira, há um componente global muito forte da inflação", disse ele. "Obviamente temos que combater a inflação. Não vamos usar isso como desculpa, mas é importante entender os componentes da inflação."

Além disso, afirmou que, no mundo, já se observa uma indexação de salários, mas que ainda não se vê isso na inflação brasileira.

Política monetária capaz de frear processo inflacionário

Campos Neto assegurou que a política monetária adotada pela autarquia é capaz e vai frear o processo inflacionário no Brasil e avaliou que a maior parte do processo já foi feito. "Acreditamos que a ferramenta disponível é capaz e vai frear o processo inflacionário. Acreditamos que a maior parte do processo já foi feito", disse. "Precisamos fazer trabalho de ancorar expectativas, é muito importante", afirmou, em outro momento.

Na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC indicou uma nova alta da taxa básica de juros, hoje em 13,25%, na reunião de agosto, de igual (0,50pp) ou menor magnitude do que em junho.

Além disso, sinalizou que a taxa Selic deve ficar mais tempo em terreno significativamente contracionista, terminando o ano que vem em nível mais alto do que no cenário de referência (10%).

PIB

O presidente do Banco Central destacou ainda que o Brasil é um dos únicos países que está tendo revisão positiva para o crescimento econômico este ano.

Em sua avaliação, o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre deve ser forte, mas ponderou, em linha com a ata do Copom de junho que a expectativa é de desaceleração no segundo semestre devido ao aperto monetário.

Mercado de trabalho

Campos Neto também comentou sobre o desempenho melhor do que o esperado do mercado de trabalho no Brasil. "Desemprego está muito abaixo de antes da pandemia. Brasil está gerando mais vagas", disse, completando que a renda está menor do que no período pré-pandêmico e que a inflação alta tem corroído o poder de compra da população.

Energia

O presidente do Banco Central afirmou também que vários países têm feito medidas para atenuar a crise de energia com custo fiscal muito maior do que no Brasil, principalmente os países mais dependentes do gás. Para o presidente do BC, o Brasil não é "nem de longe" um dos piores países no que tange ao problema de energia. "É um tema global".

 

Segundo Campos Neto, diante da crise alimentar e energética no mundo, vários países adotaram a redução de tributos desses produtos, algo que o governo do presidente Jair Bolsonaro também tem feito.

Mostrando uma tabela com medidas na zona do euro, Campos Neto também disse que todos os países também têm feito políticas de transferência de recursos para as classes mais vulneráveis. "Vemos que onde há mais dúvida é sobre regulação de preços ou ações via empresa estatal e alguma coisa de lucros. O que está sendo mais adotado é a parte de tributos ou transferência", disse, sem comentar as discussões sobre o tema no Brasil.

Na avaliação do presidente do BC, a crise energética e alimentar tem raiz na ação descoordenada de governos pelo mundo para garantir a segurança nesses dois quesitos para sua população. "Desconexão entre preços e produção não acontece só com petróleo, mas com alimentos. O anseio de gerar segurança alimentar e energética está sendo descoordenado."

Campos Neto ainda repetiu que os problemas globais de inflação ainda estão ligados com as políticas de enfrentamento da pandemia de covid-19 no âmbito econômico, com o estímulo fiscal e monetário sem precedentes no mundo.

Endereçar problemas das classes mais baixas sem desviar da práticas do mercado

O presidente do Banco Central alertou ainda que os governos têm que endereçar problema das classes mais baixas sem se desviar da prática de mercado, no comentário sobre as políticas que vêm sendo adotadas pelo mundo para assegurar a segurança energética e alimentar em vários países.

Na avaliação de Campos Neto, esse esforço tem sido feito de forma descoordenada pelo mundo, com efeitos negativos sobre as decisões de investimento do setor privado, que é quem produz energia e alimentos.

Campos Neto não citou o Brasil, mas a política de preços para os combustíveis e os lucros da Petrobras estão no centro do debate no País, com ataques diretos do presidente Jair Bolsonaro e de membros do Legislativo, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Em relação ao Brasil especificamente, Campos Neto citou que, no curto prazo, os dados fiscais têm melhorado, com ajuda da inflação, do congelamento do salário de servidores e também da redução de gastos em geral do governo. "Teto de gastos teve papel fundamental."

Campos Neto participou nesta segunda-feira do Fórum Jurídico de Lisboa, promovido pelo Instituto de Ciências Jurídico-Políticas e o Centro de Investigação de Direito Público da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (ICJP/CIDP), o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e a Fundação Getulio Vargas (FGV).

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