conjuntura

Destravar desenvolvimento econômico é desafio do país, dizem especialistas

Produto Interno Bruto registrou aumento de 1% no primeiro trimestre, mas alta da inflação e dos juros impede o crescimento

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o último trimestre de 2021, se trata de uma alta momentânea. É o que, em consenso, avaliam os especialistas ouvidos pelo Correio. Segundo os economistas do mercado, a perspectiva para 2022 permanece pessimista, com inflação alta e juros altos, o que são fatores que travam o crescimento econômico.

O PIB, que é a soma dos bens e serviços produzidos no país, chegou a R$ 2,249 trilhões em valores correntes. Com esse resultado, ficou 1,6% acima do patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia, e 1,7% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica, registrado no primeiro trimestre de 2014. O patamar atual está próximo do verificado no primeiro trimestre de 2015.

Com a flexibilização das medidas de restrição sanitária e a maior circulação de pessoas, o setor de serviços turbinou a economia pelo lado da oferta. O segmento, que responde pela maior parte da atividade econômica do país, avançou 1% ante o quarto trimestre de 2021, enquanto a indústria, por exemplo, cresceu apenas 0,1%. Já a agropecuária, que sempre funcionou como motor do PIB, caiu 0,9%, devido à quebra da safra de soja pela seca que atingiu a região Sul.

Do lado da demanda, o consumo das famílias avançou 0,7%, sendo o principal responsável pela alta do PIB. Chamou a atenção, por outro lado, a queda de 3,5% dos investimentos, um indicador de quanto a economia pode se expandir no futuro.

O Ministério da Economia considerou que a elevação de 1% no PIB foi "robusta" e que consolida o crescimento da economia brasileira, que está "resiliente". A equipe econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes prevê que o desempenho deve continuar ao longo do ano, na contramão de avaliações de analistas de mercado — que veem desaceleração da atividade a partir do segundo semestre. O governo aposta em alta de 1,5% do PIB em 2022. Mas especialistas não avaliam o crescimento como algo positivo.

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Impedimento

Segundo Vinícius do Carmo, economista e sociólogo, o Brasil está impedido de crescer. "Há uma inflação resistente, que tem sido puxada por preços administrados pelo governo, sobre os quais as políticas de juros tem pouco efeito", disse. "Com o nível alto de juros, a atividade econômica fica contraída e quando as grandes economias acenarem para juros ligeiramente mais altos, a fuga de capital será grande", avaliou.

O economista citou que o ministro da Economia disse, em Davos, que a inflação no Brasil foi controlada mais rápido do que em países desenvolvidos. "É verdade. Contudo, quando os desenvolvidos moverem-se para fora da zona de juro negativo, a liquidez mundial começará a cair e sofreremos as consequências mais duras da estagnação."

Para o economista, o principal obstáculo ao crescimento é o modelo. "Crescer é aumentar o PIB. Se há uma subida na demanda por commodities, o Brasil pode se beneficiar disso e crescer junto", apontou do Carmo. "O Brasil não tem um projeto, nem um modelo. A riqueza produzida no campo não tem grande capacidade de dar início a um ciclo de crescimento que se autoalimenta, sempre depende da demanda externa e de condições que estão fora do controle da nação", afirmou. De acordo com o economista, o Brasil precisa, além de crescer, desenvolver-se.

Inflação

O economista Fábio Tadeu Araújo, pontuou que, sem dúvidas, o grande problema do país é a inflação — o que faz com que o Banco Central permaneça com os juros elevados e ainda sinalizando possíveis novas altas a longo prazo. "A inflação este ano continuará muito acima do teto da meta, e acredito que nós temos 50% ou de mais chance da inflação ficar acima de 50%, por que a distribuição da inflação para os diferentes segmentos está muito alta, a dispersão dela também", projetou. Segundo ele, mais de 80% dos bens e serviços estão apresentando alta nos preços, o que torna necessário um controle maior por parte do Banco Central.

Araújo apontou que seria preciso discutir a possibilidade de que a própria meta de 2023 talvez tenha que ir para 2024. "Por que depois de dois anos com a inflação acima de 10%, é muito complicado de acomodar isso em um único ano, até pelo contexto das eleições", disse. "Cada vez que a inflação aumenta o preço de um tributo, de um bem, os governos estaduais e federal arrecadam mais também", afirmou Araújo, que ainda destaca tal fator como uma alavanca para os investimentos públicos nos estados.

"Minha perspectiva é de um crescimento econômico daqui até o final do ano melhor do que foi o primeiro semestre. Uma taxa de inflação talvez até melhor do que a do primeiro semestre, porque, em especial entre janeiro e abril, ela foi muito alta", explicou. "A guerra e o petróleo tiveram um impacto importante neste aspecto, além dos planos de saúde, em um segundo momento, e os juros já praticamente no topo."