América Latina

Na Argentina, ministra tem desafios múltiplos

Rafaela Gonçalves
postado em 05/07/2022 00:01

A nova ministra da Economia argentina, Silvina Batakis, herdou uma longa lista de desafios. Para começar, ela tem a missão de firmar um acordo da dívida do governo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Nomeada ontem, Batakis assume o cargo após a saída abrupta de Martín Guzmán, que renunciou no último sábado, em um momento de profundas divisões na coalizão governista.

Para apaziguar a crise, o presidente Alberto Fernández escolheu como sucessora de Guzmán um nome próximo ao grupo liderado pela vice-presidente Cristina Kirchner. Segunda mulher a ocupar o cargo na história do país, Batakis foi ministra da Economia da província de Buenos Aires entre 2011 a 2015, no governo de Daniel Scioli.

O ex-ministro deveria viajar para a França nesta semana para renegociar um acordo de dívida com o grupo de credores do Clube de Paris. A dívida original de US$ 57 bilhões com a Argentina, a maior já emitida pelo FMI, está hoje em US$ 45 bilhões. O mercado está atento aos sinais sobre a agenda econômica da nova ministra, à atuação dela no acordo da dívida e à articulação com uma coalizão dividida, circunstância que pôs fim ao mandato de Guzmán.

"Claro que a troca de ministros é sempre ruim em qualquer economia, mas especificamente em momento de crise econômica, isso se torna ainda mais sensível e mais preocupante. Mas acho que dificilmente a Argentina escolheria nesse momento um novo ministro que estivesse muito dissonante ou com trabalho muito diferente do que já vinha sendo feito", avaliou o professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Walter Franco.

A economia da Argentina, terceira maior da América Latina, tem sido atingida por crises, inadimplência e inflação galopante há décadas. Importante fornecedor global de soja, milho e trigo, o país viu seus títulos afundarem em mínimas históricas, tendo dificuldades de encontrar liquidez no mercado.

Segundo o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, não há muito espaço fiscal para mudanças na agenda econômica. "A situação do país é bem difícil do ponto de vista fiscal e de câmbio. Há uma pressão muito grande por dólares com relação a necessidade de fazer superávit, até para cumprir os compromissos assumidos com o FMI, e isso não deve mudar em um curto prazo", disse.

Com quase 40% da população vivendo na pobreza e a economia prevista para entrar em recessão este ano, uma das grandes preocupações é a pressão sobre o peso argentino. Em meio à baixa credibilidade e altos preços das importações de energia, o Banco Central local luta para acumular reservas. O governo impôs limites à compra de dólares usados para financiar importações, de modo a assegurar volume de moeda suficiente para compra de gás no exterior.

A taxa de juros subiu para 52% em uma tentativa de evitar que os investidores abandonem ativos em pesos. Por outro lado, a inflação caminha para 70% até o final do ano, forçando um aperto maior na política monetária, o que compromete o crescimento econômico.

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