conjuntura

Preço dos alimentos puxou inflação para cima em junho

IPCA acelera para 0,67%, maior taxa para o mês desde 2018. Alimentação fora do domicílio e planos de saúde pressionam índice

A inflação subiu 0,67% em junho, após a variação de 0,47% no mês anterior. É a maior taxa para um mês de junho desde 2018, quando ficou em 1,26%. A alta foi influenciada principalmente pelo aumento de 0,80% no grupo de alimentação e bebidas, que tem grande peso (21%) no índice geral. No ano, a inflação acumulada é de 5,49% e, nos últimos 12 meses, de 11,89%. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem pelo IBGE.

pacifico - ipca

Segundo o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, o resultado foi influenciado, em grande parte, pelo aumento médio no preço dos alimentos para consumo fora do domicílio, de 1,26%. "Nos últimos meses, esse item ficou estável. Assim como outros serviços que tiveram a demanda reprimida na pandemia, agora há uma retomada na busca pela refeição fora de casa. Isso se reflete nos preços", explicou Kislanov.

O pesquisador também destacou outro fator: o aumento médio de 2,99% dos planos de saúde. "Em maio, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizou reajuste de até 15,50% nos planos individuais, com vigência a partir de maio", disse. "No IPCA, houve, em junho, a apropriação das frações mensais de maio e junho, o que impactou bastante esse resultado", pontuou.

O plano de saúde foi o item individual que teve maior impacto no índice do mês (0,10 p.p.) e impulsionou a alta de 1,24% no grupo de saúde e cuidados pessoais.

No grupo alimentação no domícilio, alimentos importantes da cesta de consumo dos brasileiros tiveram redução de preços, a exemplo da cebola (7,06%), da batata-inglesa (3,47%) e do tomate (2,70%). No geral, porém, tudo está muito caro. O aposentado João Bezerra Filho, 79 anos, observou que os preços no supermercado subiram muito. "Perdemos o controle. A carne está um absurdo. Se você manda moer 1kg de carne, é R$ 45. Eu fico impressionado com esses preços, mas fazer o quê? Não tem como não comprar mais nada, precisamos comer", lamentou.

O professor de geografia aposentado, Esídio Sérgio, 61, se queixa de que o poder de compra diminui a cada dia. "A inflação corrói o salário da gente, que não tem aumento para repor essas perdas. Consequentemente, vai diminuindo o consumo da população", afirmou. "O agronegócio brasileiro exporta carne para o mundo inteiro. Então, eu não aceito que a gente tenha que se humilhar para comprar 1kg de frango. Como é que, num país que exporta alimento para o mundo inteiro, haja pessoas passando fome? É inaceitável isso", declarou.

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Para o economista e professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha, neste mês, há possibilidade de ocorrer deflação, por causa da redução dos preços do diesel e da gasolina em resposta ao corte de impostos. "Ou seja, nós vamos ter um dado muito interessante no próximo índice, que é uma deflação no IPCA", afirmou.

O economista, porem, observou que ainda há incerteza muito grande em relação à inflação de 2022. "Vai depender muito do câmbio. Nesses últimos dias, em função do cenário externo e do político, já deu para perceber uma desvalorização cambial", disse.

*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo