BCE eleva juro após 11 anos

O Banco Central da Europa (BCE) anunciou, ontem, a primeira elevação de sua taxa básica de juros desde 2011. O aumento foi de 0,5 ponto percentual e segue a tendência das demais autoridades monetárias pelo mundo. A medida demonstra uma tentativa da instituição de conter a alta inflação na zona do euro que, em junho, atingiu o recorde de 8,6%. Além disso, o BCE antecipou que novos reajustes devem ocorrer nos próximos meses.

A alta das taxas já era esperada, porém veio superior ao previsto. Anteriormente, o banco apontava para uma alta de 0,25 p.p dos juros básicos, mas decidiu adotar medidas mais agressivas, em decorrência do contexto inflacionário vivido na região. Segundo a presidente da instituição, Christine Lagarde, a inflação nos países que utilizam o euro como moeda está "indesejavelmente alta".

De acordo com a autoridade monetária, novos aumentos ocorrerão no futuro, a fim de conter a inflação de 2%. O próximo encontro está marcado para setembro.

Segundo Antonio Carlos de Santos, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a situação na Europa estava "insustentável". "Se você aumentar (as taxas de juros), piora a performance econômica. Com os juros subindo, a recessão na Europa torna-se mais provável. Mas se você não sobe, a inflação pode continuar subindo", explicou.

O aumento dos juros básicos é uma consequência da inflação histórica causada, principalmente, pela guerra entre Rússia e Ucrânia. O conflito afeta especialmente o abastecimento em todo o continente europeu. Para Felipe Queiroz, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), "a expectativa inicial era de 0,25, porém o efeito multiplicador na economia produzido pelo petróleo e o impacto causado pelo contingenciamento de grãos vão muito além do que esperavam", observa. "A inflação é a pior da série histórica da zona do euro, e isso altera toda a regra do jogo", acrescenta.

Mercado

O impacto da decisão do BCE foi sentido pelas bolsas de valores ao redor do mundo. O Ibovespa fechou o pregão com 99.033,17 pontos, um aumento de 0,76%. Acompanhou o movimento de alta no mercado norte-americano, como ocorreu com Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq. Já na Europa, os mercados oscilaram. Na Itália e em Frankfurt, na Alemanha, foi registrada queda de 0,71% e de 0,27%, respectivamente. Enquanto Londres subiu 0,21% e Paris, 0,27%.

De acordo com o head de renda variável da W1 Capital, Caio Tonet, a preocupação do mercado é a fragmentação do bloco europeu. "Preocupa essa possível fragmentação em um momento em que a taxa de juros vai começar a subir na Europa. Alguns países podem ser mais prejudicados, talvez até se aproximando cada vez mais de calotes", concluiu.

*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza