conjuntura

Fed anima os mercados

Promessa do presidente do banco central dos Estados Unidos de moderar elevação dos juros provoca alta nas bolsas. Dólar cai 1,84%

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, provocou uma onda de euforia nos mercados, ontem, ao afirmar que o órgão deve diminuir a intensidade dos reajustes das taxas de juros. A declaração foi feita após o Fed anunciar uma alta de 0,75 ponto percentual nos juros básicos norte-americanos, para o intervalo entre 2,25% e 2,59% ao ano — decisão que já era esperada pelos analistas — como parte da estratégia de debelar a mais alta inflação do país em 40 anos.

"Nos próximos meses vamos buscar evidências de que a inflação está desacelerando na direção de nossa meta. Vamos continuar subindo o juro, mas o tamanho do aumento depende dos dados que virão. Acreditamos que a tendência é de redução do grau do aperto", disse Powell.

Após a declaração do presidente do Fed, as bolsas de valores reforçaram a tendência de alta. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de São Paulo (B3), teve valorização de 1,67%, fechando o pregão aos 101.437 pontos. Em Wall Street, o dia foi de recuperação do começo ao fim. O índice Dow Jones avançou 1,37% e o S&P 500 subiu 2,61%. O Nasdaq, das empresas de tecnologia, as que mais vinham sendo penalizadas pela alta dos juros, saltou 4,06%. No Brasil, o dólar terminou o dia em queda de 1,84%, cotado a R$ 5,251 para venda.

Como a subida dos juros nos EUA já era esperada, o discurso de Powell foi a novidade do dia. "A alta veio forte, mas era aguardada. Nesse momento, o Fed sinaliza que está comprometido em restaurar a estabilidade dos preços. Então, vai haver uma forte contenção na atividade econômica em resposta à subida dos juros, mas a tendência é que os preços comecem a demonstrar tendência mais comportada em seguida", disse o economista Vinicius do Carmo.

Ele explicou que a alta de juros nos EUA atrai recursos de todas as partes do mundo. "Há um enxugamento da base monetária global, o que força a retração da economia e gera defasagem nas políticas de juros de outros países, como a do Brasil. Por aqui, há expectativa de novo reajuste de 50 pontos percentuais na taxa Selic", pontuou.

A fala de Powell, no entanto, sinaliza que esse processo pode não ser tão brusco quanto se temia. Para Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, chamou a atenção a frase do presidente do FED, que disse: "estamos nos aproximando de onde precisamos estar". "A interpretação é de que os EUA estão próximos da taxa nominal neutra e que, em pouco tempo, os ajustes serão moderados. Ainda que parte da justificativa para tanto seja negativa, um medo de recessão, os mercados gostaram. A fala soa para os ativos financeiros como um flerte com o velho jeito de ser dos bancos centrais desenvolvidos, que passaram quase 15 anos injetando liquidez e sustentando a tomada de risco", comentou.

Para Vinícius do Carmo, não há certeza se o bom humor dos investidores continuará prevalecendo. "Hoje, todos viram o pronunciamento de Powell, mas uma parte só vai entender amanhã. A calmaria do mercado pode ser passageira", ponderou.