Sustentabilidade

Economista John Elkington defende nova visão sobre o Brasil

Um dos nomes mais respeitados no debate sobre as novas faces da economia, John Elkington diz que é a hora da sustentabilidade

Victor Correia
postado em 29/08/2022 06:00
 (crédito: Túlio Vidal)
(crédito: Túlio Vidal)

Cinco décadas após o conceito de sustentabilidade nas empresas ser definido, o mercado passou a considerar fatores como mudanças climáticas e pressão da sociedade para oferecer alternativas mais limpas de consumo. No século 21, esse esforço pode ser resumido no termo ESG, sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança.

Apesar das mudanças importantes dentro e fora do ecossistema corporativo, especialistas que estudam o tema veem com preocupação o rumo dos debates. “Muitos ambientalistas costumam pensar no Brasil um pouco como o velho-oeste. E os dois assassinatos recentes de um jornalista e de um ativista (Dom Phillips e Bruno Pereira) apenas confirmou essa visão”, avalia o empreendedor e autor britânico John Elkington, considerado um dos precursores da preocupação com sustentabilidade no mercado. Recentemente, Elkington esteve em São Paulo para uma palestra no Fórum Encadear, realizado pelo Sebrae. “A maioria das pessoas não pensa sobre o Brasil o tempo todo. Aqueles que pensam, veem uma economia que é extrativista e degenerativa”, comenta.

O autor, porém, vê o Brasil com enorme espaço no campo socioambiental, e também critica a forma como muitas empresas e ativistas ambientais olham para o país. “Se você pensa em um país como sendo um problema, você vai interpretar as informações que recebe sob a mesma luz. Então há a necessidade de mudar essa visão. Vendo de fora empresas como a Natura, a Suzano, existem bons exemplos nesse país de grandes negócios tentando fazer a coisa certa”, diz o especialista.



Sexta onda


Na avaliação de Elkington, o mundo atravessa a “sexta onda” de sustentabilidade. Os países estão focados em questões como a defesa nacional e a seguridade dos recursos — como combustíveis e alimentos. O autor avalia que a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia tornaram evidentes fragilidades importantes no sistema econômico, e que mudanças profundas ocorrerão em breve
“Uma mudança sistêmica agora é inevitável. Já está passando do prazo, e vai acontecer. Agora, a liderança virá dos governos, dos políticos, ou do setor privado?”, questiona Elkington. “Líderes de negócio não são eleitos, e nós temos que tomar muito cuidado com a profundidade da participação deles nesse processo”, alerta o autor.

Um dos aspectos do novo cenário em sustentabilidade é a descentralização das cadeias. Embora as grandes empresas tenham um impacto social e ambiental consideravelmente maior do que as pequenas e médias companhias, a atenção está cada vez mais voltada à participação das menores na cadeia produtiva. Empresas de menor porte têm mais controle sobre seu sistema, sobre sua produção, e podem aplicar de forma mais eficiente os hábitos sustentáveis.
Elkington ressalta que, no processo de transformação da economia nas próximas décadas, algumas empresas com décadas de história, com organizações complexas e antiquadas, podem ter que deixar de existir. Ele cita o exemplo de seu país, a Inglaterra, em contrapartida com países que passaram por um processo estratégico de desindustrialização, como o Japão.

“Nós tentamos manter algumas dessas indústrias. Por causa do histórico, por causa da empregabilidade”, diz. “Não é simples, mas se nós tentarmos ajudar as empresas mais antigas, que causaram a maioria dos problemas, a sobreviverem, isso vai ter um custo muito alto. É melhor matá-las”, pontua.

No Brasil, já existem investidores e empresas pensando em uma economia mais conectada. Para o sócio diretor da Pangeia.eco, Daniel Michilini, a criação de um ecossistema de empresas baseado em ESG não só tem o benefício de fomentar um desenvolvimento mais sustentável, mas também acelerar o crescimento dos envolvidos. A Pangeia justamente conecta produtores e consumidores sustentáveis por meio de um marketplace, além de incentivar iniciativas socioambientais.

“Assim como os consumidores estão mais conscientes, a gente também está percebendo que os produtores estão mais conscientes. Já entenderam que a jornada de transformação econômica e social passa pela transformação ambiental. Ou seja, manutenção da floresta de pé, o cuidado com as matas ciliares e tudo o mais, já é uma preocupação dos pequenos e médios produtores”, diz Michilini.
Na visão de Elkington, as tentativas até o momento para uma economia sustentável fracassaram. “Eu vejo pessoas da minha geração dizendo: ‘nós tentamos, nós fizemos a nossa parte, mas falhamos’, se aposentando e deixando as mudanças para as novas gerações. Não, vocês não fizeram o suficiente, vocês andavam de carros esportivos, vocês poluíram. As mudanças têm que ocorrer com um esforço intergeracional”, defende o empreendedor.

O repórter viajou a São Paulo a convite do Fórum Encadear

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação