conjuntura

Prévia do PIB mostra atividade econômica mais forte

Avanço de 1,17% do IBC-BrR, em julho, fica bem acima das previsões do mercado financeiro. Segundo analistas, o resultado reflete a recuperação do setor de serviços, após a pandemia, e as medidas oficiais de estímulo

Rosana Hessel
postado em 16/09/2022 03:55
 (crédito: .)
(crédito: .)

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), conhecido como prévia do Produto Interno Bruto (PIB), registrou avanço de 1,17% em julho em relação ao mês anterior, na série dessazonalizada divulgada, ontem, pela autoridade monetária. O índice de julho, de 145,55, foi o melhor resultado desde dezembro de 2014, de 146,22 e ficou 2% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020.

O resultado veio acima das estimativas do mercado, entre 0,30% e 0,50%. Na comparação com julho de 2021, o indicador avançou 3,87%, e, no acumulado em 12 meses, o crescimento ficou em 2,09%, na série sem ajuste sazonal. A taxa anual ficou acima das atuais projeções do BC para a alta do PIB deste ano, de 1,7%, conforme o último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que será atualizado no próximo dia 29.

Apesar dos números positivos do IBC-Br, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) não se empolgou e encerrou o dia no vermelho pelo terceiro pregão seguido, com queda de 0,54%, a 109.953 pontos, acompanhando o mau humor dos mercados internacionais. O dólar voltou a subir e retomou o patamar de R$ 5,25, com alta de 1,18% sobre a véspera.

Prévia do PIB mostra atividade econômica mais forte
Prévia do PIB mostra atividade econômica mais forte (foto: Correio Braziliense)

Surpresa

Analistas reconhecem que os indicadores econômicos estão surpreendendo, especialmente o do setor de serviços — o último a se recuperar da pandemia —, que tem registrado ritmo mais forte do que o esperado. Além disso, os efeitos dos estímulos adotados pelo governo Jair Bolsonaro (PL) em pleno ano eleitoral estão turbinando o PIB acima das projeções.

"É preciso reconhecer que o PIB está mais forte do que imaginávamos e que o crescimento, neste ano, vem se sustentando pelo vento de cauda da alta dos preços das commodities, da reabertura da economia e da ampliação das transferências de renda. O setor de serviços vem surpreendendo muito e, na esteira da reabertura, o mercado de trabalho também", destacou o economista Gabriel Leal de Barros, sócio da Ryo Asset.

Vale lembrar que, no primeiro semestre, os estímulos promovidos pela antecipação do 13º dos aposentados e o saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) turbinaram a economia em R$ 86 bilhões. E, pelas contas de Barros, que não incluiu esses incentivos no cálculo, R$ 291 bilhões em medidas fiscais estão ajudando no crescimento da economia neste ano, ou seja, um impulso em torno de 3% do PIB. Entre elas, destacam-se as reduções de tributos federais e estaduais sobre combustíveis, o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, e os auxílios para caminhoneiros e taxistas, que fazem parte do pacote de R$ 41,2 bilhões da chamada PEC Kamikaze.

De acordo com José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, a falta de inclusão dos efeitos das reformas microeconômicas realizadas desde o governo Michel Temer (2016-2017), como a regra do teto de gastos, o novo marco do saneamento e a nova lei de falências, contribui para os erros das estimativas do mercado. "Além do refluxo da pandemia, não podemos esquecer que houve um conjunto de reformas que estão ajudando no aumento da taxa de investimento no país para 18,7% no segundo trimestre do ano", ressaltou.

Camargo disse que, depois do resultado do IBC-Br, pretende elevar a previsão de avanço do PIB deste ano de 2,5% para 2,9%. Contudo, afirmou que a economia poderia estar crescendo mais, o que não ocorre porque o governo furou o teto de gastos nos últimos dois anos, após a PEC dos Precatórios. "A piora no quadro fiscal gera pressão no câmbio e obriga o Banco Central a aumentar os juros, que acabam freando o crescimento", alertou. O economista destacou, ainda, que a tendência é desaceleração do PIB e, no ano que vem, a taxa de expansão deve cair para 0,8%.

A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), não descartou uma revisão para cima da previsão do PIB deste ano, mas projeta queda de 0,4% em 2023. Na avaliação dela, com as incertezas sobre quem vai vencer nas urnas, a piora do quadro fiscal, o impacto defasado das altas dos juros na atividade e a economia global desacelerando, será muito difícil para o país crescer mais forte no próximo ano.

Produtividade

Além dos estímulos fiscais do governo, os dados do mercado informal devem estar contribuindo para o crescimento mais forte, o que também tem seus riscos, segundo a analista do Ibre. "Os dados de crescimento maior do que o esperado são positivos, o que não significa que sejam 100% bons. Mais crescimento implica, infelizmente, mais inflação. E a inflação de serviços está muito elevada, em 8,6%, acima das previsões para o IPCA (indicador da inflação oficial), de 6,1%. Isso pode ajudar a desacelerar a economia no ano que vem e fazer o PIB recuar 0,4%", alertou. Silva Matos ressaltou que, conforme dados do Ibre, mesmo com a recuperação do mercado de trabalho, os indicadores de produtividade continuam em queda, "o que não contribuiu para um crescimento mais robusto do PIB".

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.