Conjuntura

Nas vésperas da eleição, preço do diesel tem a terceira queda em dois meses

Petrobras reduz em 5,8% valor cobrado das distribuidoras e litro passa de R$ 5,19 a R$ 4,89 a partir de hoje. Analistas veem influência das eleições nas decisões da estatal. Para importadores, medida foi técnica

Michelle Portela
postado em 20/09/2022 03:55
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Em mais um movimento de redução de preços, a Petrobras anunciou corte de 5,8% no litro do diesel vendido às distribuidoras. A partir de hoje, o valor médio cobrado nas refinarias passará de R$ 5,19 para R$ 4,89, um recuo de R$ 0,30. Os preços dos demais combustíveis não sofrerão alterações. Foi a terceira queda do diesel desde o início de agosto, acumulando baixa de 12,8% no período nas refinarias.

A Petrobras informou, em nota, que, com a mudança, a parcela de sua responsabilidade no preço ao consumidor passará de R$ 4,67, em média, para R$ 4,40 a cada litro vendido na bomba. Esse cálculo leva em conta a mistura obrigatória de 90% do diesel e 10% de biodiesel para a composição do combustível que chega aos postos. A esse valor devem ser acrescentadas ainda as margens de distribuição e revenda.

Embora ainda registre alta acumulada de 146% desde 2020, o preço do diesel começou a baixar na bomba. Pesquisa divulgada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) na última semana mostra que o valor médio do litro estava em R$ 6,84 — uma redução de 0,58% em relação à semana anterior.

Para importadores, o movimento de redução de preços ocorreu devido a uma sensível retração da economia sentida em outros países, que afetou o preço do barril do petróleo. De acordo com Sérgio Araújo, da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o movimento está pouco relacionado "a um esforço político" ou eleitoral. "É uma decisão técnica e correta, dentro da política de preços da empresa em consonância com o mercado", disse.

O economista Tiarajú Alves de Freitas, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), avalia que o cenário internacional favorece a redução dos preços, mas que o ambiente doméstico foi estimulado pela diminuição do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Contudo, aponta que a redução de preços pode ser fruto de pressão política motivada pela proximidade das eleições presidenciais, uma vez que o atual presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.

"O cenário está mais favorável tanto internacionalmente quanto internamente, com a diminuição do ICMS, que gerou uma expectativa de novas quedas. Porém, o comportamento do preço do diesel como referência internacional não tem acompanhado, no período mais recente, a cotação do barril de petróleo. Nesse sentido, esse movimento de queda divulgado hoje (ontem) tende a ter como principal responsável a recente mudança na dinâmica de reajustes da estatal", avaliou Freitas.

Para ele, o governo deverá seguir influenciando a agenda política com o controle de preços dos combustíveis. "A nova política de preços começa a ser posta em ação, e é necessário ver se a forma como foi construída efetivamente gerará maior transparência para os players presentes no mercado", disse.

André Braz, coordenador do Índice de preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), avaliou que é difícil prever os efeitos de médio prazo da redução do preço do diesel na inflação, uma vez que a alta acumulada chegou a mais de 40% somente nos últimos 12 meses.

"Diesel é importante para geração de energia, transporte, agronegócio. Para a economia, o diesel é muito importante, mas a gasolina tem um peso maior no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, medida oficial da inflação no país). A gasolina compromete 6% do orçamento familiar, e o diesel 0,3%. Então, o impacto direto vai ser muito pequeno, mas o impacto indireto vai ser grande", afirmou.

Por outro lado, a redução do preço do diesel deverá contribuir para o controle da inflação. "Só o fato de impedir que o ônibus urbano, que é o principal meio de transporte nos grandes centros, suba de preço, ou suba menos, já é de grande ajuda", finalizou.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.