Conjuntura

Guedes critica relatório do FMI que aponta problemas fiscais no Brasil

Fundo Monetário Internacional avalia, em relatório, que combate aos efeitos da pandemia no Brasil tiveram custo elevado, e prevê volta do rombo nas contas púbicas em 2023. Para o ministro, fundo diz "besteira"

Correio Braziliense
postado em 13/10/2022 03:55 / atualizado em 13/10/2022 19:09
 (crédito: Reprodução)
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O ministro da Economia, Paulo Guedes, reagiu com irritação a relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) que aponta problemas fiscais na economia brasileira. Guedes disse que o FMI "tem de falar menos besteira", ao comentar os cálculos do organismo indicando que o governo brasileiro poderia ter gasto metade do que foi despendido com o auxílio emergencial durante a crise da covid-19. No lugar de "puxar a orelha" do Brasil, afirmou, o FMI deveria alertar os Estados Unidos e a Europa que "estão dormindo no volante", em referência às dificuldades em termos de crescimento e da escalada da inflação.

"Eu acho interessantíssimo isso. Quer dizer, há seis meses, estava todo mundo falando que os brasileiros estão passando fome, e aí o FMI diz que o gasto poderia ser menor", frisou Guedes, em entrevista a jornalistas, após participar de uma conferência do JP Morgan, que acontece em meio às reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, em Washington. "O FMI tem de falar menos besteira e trabalhar um pouco mais para alertar os americanos, os europeus, né?", emendou. Depois de criticar o organismo, Guedes aliviou o tom. "Eu não acho que o FMI está de má vontade com o Brasil, mas está errando tecnicamente", afirmou.

O fundo reconhece que, sem o auxílio emergencial, o Brasil teria vivido uma perda de renda maior, e estima que o custo fiscal do benefício concedido pelo governo brasileiro durante a pandemia tenha chegado a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país entre 2020 e 2021. Em um cenário alternativo, apontou, porém, que um programa com benefícios menores, de cerca de um terço do valor concedido, ainda protegeria a população em geral, mas a um custo 50% menor, conforme o relatório Monitor Fiscal, que avalia a situação das contas públicas dos países-membros, publicado ontem.

O documento prevê que o Brasil deve apresentar superavit primário de 0,8% neste ano e que a dívida total do governo brasileiro deve cair. A instituição espera que a relação entre a dívida bruta e o Produto Interno Bruto (PIB) — um dos principais indicadores de solvência de um país e avaliado de perto pelas agências de classificação de risco — do país diminua para 88,2% neste ano (ante 93% em 2021). Caso o cenário traçado pelo fundo se materialize, seria o melhor resultado desde 2016. Ainda assim, a dívida continuará entre as maiores comparadas às dos pares emergentes, atrás apenas da do Egito.

Vida curta

A melhoria nas projeções do FMI tem, contudo, vida curta. O fundo vê o Brasil com aumento da dívida bruta e com as contas no vermelho pelos próximos dois anos, retomando o equilíbrio apenas em 2025. Um das razões é o aumento dos gastos por parte do governo de Jair Bolsonaro às vésperas das eleições, dentre eles a elevação do Auxílio Brasil para R$ 600. Para o organismo, o impacto fiscal começará a aparecer já no primeiro ano do futuro governo. O fundo espera que o deficit primário do país alcance 0,8% em 2023 e caia para 0,3% no ano seguinte.

"Os benefícios eram três vezes maiores do que o benefício social padrão e mais da metade do salário mínimo nacional", diz o FMI no relatório Monitor Fiscal

Para o organismo multilateral, os efeitos de estabilização do programa de auxílio emergencial no Brasil "excederam em muito" os do sistema de proteção social em vigor antes da pandemia. Simulações mostram que, em média, a renda per capita disponível no Brasil subiu 2,1% em 2020, conforme o organismo. Como consequência, o FMI afirma que a taxa de pobreza e o índice de Gini, que mede a desigualdade de renda disponível, caiu "temporariamente" em 2020

Em um cenário sem o auxílio emergencial, conforme o FMI, apenas um quarto da perda de renda teria sido absorvido. Já a renda média disponível per capita teria diminuído 4,1%, de acordo com os técnicos da instituição.

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