Tecnologia

Estudo do Google mostra impacto da inteligência artificial no Brasil

Maior parte das startups entrevistadas acredita que um dos principais problemas no desenvolvimento da tecnologia no país é a falta de mão de obra qualificada

Yasmin Rajab
postado em 19/10/2022 00:02
 (crédito:  Paulo Liebert)
(crédito: Paulo Liebert)

Um estudo realizado pelo Google for Startups, em parceria com a Associação Brasileira de Startups e a Box1824, mostra o impacto e os principais desafios do desenvolvimento da inteligência artificial no Brasil. O relatório O impacto e o futuro da inteligência artificial no Brasil traz um panorama dos principais problemas enfrentados pelo setor no país.

Para realizar o estudo, foram entrevistadas 702 empresas que trabalham e desenvolvem I.A. A pesquisa mostra uma análise da perspectiva dessas startups, e coloca em pauta as dores e as soluções necessárias para o desenvolvimento dessa tecnologia no Brasil.

O diretor do Google For Startups para a América Latina, André Barrence, aponta que o Brasil é um campo aberto para o fomento da I.A. "Para se ter uma ideia do mercado nacional, cerca de US$ 2,4 bilhões investidos em tecnologia na América Latina foram direcionados para o Brasil em 2020", afirma.

Um dos principais problemas apontados no estudo é a falta de mão de obra qualificada. Os dados revelam que 57% das empresas que participaram da pesquisa acreditam que o deficit de funcionários qualificados é o que mais prejudica o desenvolvimento da inteligência artificial no país.

Outro problema apresentado na pesquisa é a desigualdade regional. Os dados revelam que a maioria das empresas no Brasil se concentra no Sul e no Sudeste do país. Na região Norte, apenas duas startups foram mapeadas, sendo que ambas se localizam no Pará. Só em São Paulo, existem 2.700 startups voltadas para a área tecnológica. De acordo com o estudo, o PIB da cidade é maior que a soma dos PIBs da Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia.

Juliana Lubianca, diretora estratégica da Box1824, acredita que esse é "um problema muito sério que precisa ser abordado". Apesar de Brasil ter dimensões continentais, o cenário mostra um mercado muito homogêneo, que pode agravar essa desigualdade.

Competição acirrada e falta de políticas de inclusão dentro das empresas

O relatório aponta a falta de políticas de inclusão dentro das empresas de I.A como um dos vieses que precisam ser debatidos e solucionados. Os números revelam que apenas 5,5% das vagas são ocupadas por mulheres, 5,4% são ocupadas por pessoas negras, 5,1% por pessoas LGBTQIAPN+ e 4,8% por pessoas com deficiência. Os dados também mostram que de 49 startups, 40 foram fundadas por homens, sendo que 36 deles são brancos.

Segundo a pesquisa, a diversidade pode ser uma estratégia de inovação para as empresas, uma vez que a inclusão tem o poder de fomentar a inovação e construção de soluções pioneiras em inteligência artificial.

Bianca Ximenes, head de inteligência artificial da Gupy, conta que seu time é composto por 40% de mulheres. "É raríssimo, mas a maioria é cientista de dados. A gente contrata porque entende que para ter modelos representativos, nosso time precisa ser representativo."

Sobre os cargos de liderança nas empresas, a pesquisa traz os seguintes números:

  • 49% não tem mulheres em cargos de liderança;
  • 61% não tem negros em cargos de liderança;
  • 71% não tem LGBTQIAPN+ em cargos de liderança;
  • 90% não tem pessoas com deficiência em cargos de liderança.

Importância da educação dos futuros profissionais

Um dos problemas mais apontados pelas startups entrevistadas é falta de mão de obra qualificada para trabalhar com tecnologia e desenvolver projetos de inteligência artificial. Dados da pesquisa revelam que os brasileiros não contam com uma educação tecnológica adequada para manusear produtos mais técnicos. Aqueles que conseguem aprender, acabam se deslocando para outros países.

Mais informações sobre a pesquisa

  • 71% das startups concordam que existem pouquíssimos exemplos de profissionais bem sucedidos em tecnologia no geral;
  • 37% acreditam que a fuga de capital humano é o que mais prejudica o crescimento de I.A no país;
  • 41% acreditam que educar e conscientizar o mercado sobre inteligência artificial é o mais importante para o futuro da tecnologia no país;
  • 27% percebem que clientes não valorizam o produto ou serviço de I.A.

Juliana Lubianca afirma que o Brasil conta com poucas pessoas formadas na área, e aqueles que se formaram passam por uma desigualdade competitiva grande, por isso, acabam indo para empresas de fora ao invés de continuar no país.

Dores e Soluções

O ponto-chave da pesquisa é apresentar os vieses e as soluções para o avanço da inteligência artificial no Brasil. Além dos pontos citados anteriormente, existem outros problemas que necessitam de melhorias para o crescimento da tecnologia no país.

O relatório conta com diferentes frentes de segmentação, que ajudam a traduzir melhor as características que definem aqueles que são impactados pelos desafios, além de apresentar as potenciais soluções.

Segundo a pesquisa, é preciso trazer mais acesso técnico e intelectual ao Brasil. 37% das empresas entrevistadas acreditam que a fuga de capital humano é o que mais prejudica o crescimento da I.A e 41% buscam reter talentos graças a um propósito maior do produto que trabalham.

Outra "dor" que precisa ser solucionada é a grande quantidade de dados sujos. Segundo o relatório, há uma péssima cultura de organização de dados no Brasil. O levantamento mostra que 33% das empresas acreditam que a inexistência de uma cultura de dados limpos e organizados é o que mais prejudica o crescimento de I.A.

"O Brasil não tem uma cultura de organização de dados...isso faz com que as empresas de I.A e os profissionais de I.A passem muito tempo limpando as bases de dados do que realmente trabalhando na I.A, isso faz com que as empresas demorem mais pra entregar os resultados", ressalta Juliana Lubianca.

Uma das soluções seria padronizar as bases de dados no Brasil, buscando parceria com associações e entidades especializadas, além de criar datasets locais para agilizar o trabalho dos profissionais, e regular um modelo de organização de dados na esfera pública.

Outra pauta que foi levantada é a vulgarização do termo inteligência artificial. Isso ocorre porque muitas empresas se dizem desenvolvedoras de I.A e entregam soluções abaixo do esperado, manchando a reputação das empresas especializadas.

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