Mercados

Cenário externo instável faz a Ibovespa desabar 1,86%

Inflação acima do esperado reforça apostas de alta mais forte de juros nos Estados Unidos e provoca turbulência na B3. Ações de empresas ligadas ao petróleo evitaram queda mais acentuada do Ibovespa

Num dia de fortes oscilações, após o feriado de quarta-feira, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) fechou em queda de 0,46%, ontem, a 114.300 pontos, apesar de as ações de empresas do setor de petróleo liderarem as altas do pregão paulista. A surpresa negativa com os dados de inflação nos Estados Unidos, que avançou 0,4% em setembro, o dobro do esperado pelo mercado, aumentou o clima de tensão entre os agentes financeiros e fez o Índice Bovespa (Ibovespa) desabar 1,86% e atingir o piso de 112.690 pontos pela manhã. Contudo, a alta dos preços do petróleo levou as bolsas internacionais a mudarem o sinal. O dólar comercial também oscilou bastante, mas terminou o dia com avanço de apenas 0,02%, cotado a R$ 5,273 para a venda.

O barril do petróleo tipo Brent, negociado em Londres e referência de preço para a Petrobras, registrou alta de 2,29% cotado a US$ 94,57. De olho nos ganhos das empresas do setor, as principais bolsas de valores subiram. Londres teve alta de 0,35%. Frankfurt subiu 1,51% e Paris avançou 1,04%. Em Nova York, o Índice Dow Jones, das empresas industriais, e o Nasdaq, do setor de tecnologia, avançaram 2,83% e 2,23%, com as ações das companhias de energia e do setor financeiro liderando os ganhos. Um dos motivos da virada, além da alta dos preços do petróleo, foi que parte dos investidores considerou que a alta do núcleo de inflação pode ter alcançado o pico.

Na B3, os papéis de empresas do setor petrolífero dispararam, o que ajudou a reduzir as perdas do Ibovespa no fim do dia. As ações da Braskem fecharam com alta de 11,97% e os da Petrobras registraram elevações de 3,13%, nas ordinárias (com direito a voto), e de 2,84%, nas preferenciais (sem direito a voto, mas com prioridade no recebimento de dividendos).

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Analistas alertam, contudo, para os riscos de a inflação permanecer mais alta do que o esperado nos Estados Unidos. Nesse cenário, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) seria levado a promover um aumento mais forte nas taxas de juros, o que provocaria uma desaceleração intensa da economia do país, com repercussão em todo o mundo, inclusive em mercados emergentes, como o Brasil.

Na quarta-feira, o Fed divulgou a ata da reunião do comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) mostrando preocupação com a persistência inflacionária e destacando que "o custo de tomar poucas medidas para reduzir a inflação provavelmente superou o custo de tomar muitas medidas".

A subida dos juros nos EUA e em outros países tem sido observada também pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como um fator que deve enfraquecer o crescimento da economia e do emprego ao redor do mundo. No caso do Brasil, a instituição reduziu para apenas 1% a estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem. O quadro de desaceleração aumenta insegurança dos investidores.

"O mercado está muito instável. A tendência é de baixa (na Bolsa), porque a recessão nos EUA ainda vai aparecer e não está totalmente precificada pelos agentes financeiros", destacou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

"O indicador de inflação dos EUA veio muito ruim, mesmo com queda nos preços da gasolina. A alta do núcleo do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) foi de 6,6%, que acelerou em relação aos 6,3% de agosto. Com isso, as taxas de juros do mercado subiram", reforçou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. Segundo ele, esse resultado consolidou as apostas de nova elevação de 0,75 ponto percentual nos juros básicos dos EUA, atualmente entre 3% e 3,25% ao ano, em novembro, na próxima reunião do Fomc.

"Subiu para 71% a probabilidade de uma alta de 0,75 ponto percentual em dezembro. Há uma semana, essa probabilidade era de 7% e, para fevereiro, essa mesma chance passou de 6%, há uma semana, para 56%", acrescentou Cruz.