Depois de um longo período em silêncio, o ministro da Economia, Paulo Guedes, partiu ontem para o ataque ao criticar as propostas econômicas do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a chamada PEC da Transição. A 45 dias do fim de sua gestão, Guedes não poupou as críticas à proposta. De acordo com o texto enviado ao Congresso, R$ 198 bilhões seriam excluídos do teto de gastos, sendo R$ 175 bilhões do programa Bolsa Família e R$ 23 bilhões de receitas extraordinárias que seriam direcionadas para investimentos, além de valores não definidos para universidades e programas ambientais.
Segundo o ministro, "ano que vem os problemas já chegam de novo", e usar o espaço fiscal para financiar obras públicas é um erro: "Fazer PEC sem fonte de financiamento para fazer obras? Já ouvi essa história", disse, em sua primeira fala pública após as eleições presidenciais, durante evento para celebrar os 30 anos da Secretaria de Política Econômica.
No discurso, Guedes passou a largo do fato de que foi sua gestão que deixou para o novo governo uma cota bilionária de despesas sem cobertura. Segundo levantamento do economista Bráulio Borges, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), feito a pedido da BBC News Brasil, os gastos do governo de Jair Bolsonaro (PL) acima do teto somam R$ 794,9 bilhões de 2019 a 2022.
O ministro usou, ainda, o evento para fazer fortes críticas ao presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva. "Já ganhou a eleição? Cala a boca, vai trabalhar, vai construir um negócio melhor. Se fizer menos barulho, trabalhar um pouco mais com a cabeça e menos com a mentira, talvez possa ser bom governo", disse, em referência às declarações de Lula que colocaram em campos opostos a responsabilidade fiscal e a social.
Para ele, ao fazer essa contraposição, Lula revela incapacidade técnica, lembrando que o Auxílio Brasil tem orçamento de R$ 150 bilhões, enquanto o Bolsa Família tinha de R$ 50 bilhões. "Nós disparamos o maior programa social que já houve, com responsabilidade fiscal. Então, que historinha é essa de conflito de social com fiscal? Isso revela ignorância e desconhecimento, incapacidade técnica de resolver problemas", afirmou.
Guedes colocou em dúvida, mais uma vez, a existência de 33 milhões de pessoas passando fome no país. "Onde estavam essas pessoas que não descobriram no governo deles [do PT]? Possivelmente, estavam passando fome. Descobrimos os invisíveis e atendemos", afirmou.
Na solenidade, o ministro voltou a afirmar que a regra do teto de gastos foi mal construída, mas que foi respeitada nos quatro anos de governo Bolsonaro, a não ser em situações excepcionais. "Colocamos o Brasil no caminho da prosperidade", disse.
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Outro lado
Em postagem no Twitter, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann responde às críticas do ministro. "Cala boca já morreu, Guedes. Teto estourou em 800 bilhões, PIB é 129º no ranking mundial, investimento 27,3% abaixo do resto do planeta, maior inflação em 27 anos, queda na renda, emprego precário e volta da fome. Seu tempo acabou, vai pra casa", escreveu.
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