Entrevista | Joe Valle | membro da equipe de transição do governo Lula

"Sustentabilidade é o principal desafio", diz Joe Valle sobre o agronegócio

Para Valle, a sustentabilidade também passou a ser um tema central no agronegócio, que é responsável por 27% do PIB brasileiro

Isabel Dourado*
postado em 19/11/2022 03:55
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB)

O avanço das inovações e da digitalização no campo, tem se tornando, cada vez mais uma necessidade para qualquer produtor rural. Para o produtor e empresário Joe Valle, que integra a equipe de transição do futuro governo Lula na área da agricultura, a sustentabilidade também passou a ser um tema central no agronegócio, que é responsável por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Valle foi o entrevistado, ontem, do programa CB.Agro — parceria entre o Correio e a TV Brasília. Segundo ele, é preciso que as instituições brasileiras atuem de forma coordenada para melhorar a qualidade de vida de quem trabalha no campo.

Qual o principal desafio do agronegócio no país?

É a produção com preservação, produzir e preservar. Esse é um desafio que precisa ser colocado na mesa para que possamos ter sustentabilidade, essa palavrinha mágica que hoje está em todos os mercados do mundo. E é preciso regulamentar esse processo para ter segurança alimentar. Outra coisa necessária é as nossas instituições trabalharem de forma coordenada para melhorar a qualidade de vida de quem está no campo. Hoje, por exemplo, a internet é um desafio no espaço rural. Você tem as tecnologias, os tratores autônomos, todo o processo de GPS, drones etc, para servir para uma agricultura 4.0, uma agricultura de alta performance. A internet é fundamental.

Como está essa discussão no grupo de transição? A ideia é que seja feito um planejamento já para o ministério?

Na realidade, para fazer a transição é preciso um diagnóstico. Avaliar como está ocorrendo o processo, para não ter uma quebra de fluxo de trabalho. Hoje, o agronegócio é uma locomotiva do nosso PIB. Então, é preciso ter cuidado para não colocar a questão ideológica acima de tudo.

A estrutura de governo já está em discussão?

Sim. Já existem propostas, inclusive de mudança de estrutura.

O senhor avalia que a aquicultura e pesca precisa ter um ministério próprio ou ainda tem que ser um braço da agricultura?

Você tem (a idéia de recriar) o Ministério do Desenvolvimento Agrário, voltar a ser o que era no governo anterior do PT. A pesca e a aquicultura também. Agora, acho que tem que levar em consideração o que o setor quer. Agora, uma coisa fundamental é tirar a questão da sustentabilidade da lateralidade do ministério e colocá-la na via principal.

Ela deve ser tratada como negócio mesmo?

É. Em todos os lugares que se vai hoje, o termo sustentabilidade esta presente, haja vista todos esses dias na COP27. Isso é obrigatório, não tem como mais tratar sustentabilidade como uma coisa ideológica pura e simplesmente. Sustentabilidade hoje é negócio. Outra questão é que agricultura sustentável não é contra o modelo comercial. As duas coisas vão andar.

Depois da participação do presidente Lula na COP27, ficou claro que o Brasil vai voltar o protagonismo na preservação do meio ambiente. Como a nova forma de produção tem chegado ao pequeno produtor?

Temos no Brasil a Embrapa, que é uma empresa maravilhosa. Nós precisamos potencializá-la e, para isso, precisa ter orçamento para pesquisas. Tem algumas pesquisas que ela pode fazer em parceria com o setor privado, não tem problema. Mas tem outras que só o setor público faz. A Embrapa fez uma revolução na produção de alimentos. Hoje, o termo sustentabilidade tem que estar envolvido em todos os processos, e os pesquisadores estão trabalhando diuturnamente para achar soluções para os problemas colocados pelas mudanças climáticas.

Como é possível o desenvolvimento sustentável no agronegócio? Que condições têm que ser dadas ao pequeno produtor? O problema é crédito?

Crédito é um dos problemas, a outra coisa é assistência técnica. Infelizmente, em um determinado momento, o presidente deu uma canetada e acabou com o serviço de extensão rural brasileiro. Veja como uma atitude errada de um governante traz sequelas até hoje.

O principal insumo do agronegócio, atualmente, é o conhecimento. E a extensão rural deve estar na estrutura do Estado, precisa ser uma visão sistêmica de todos os processos. Precisamos fazer políticas de longo prazo, refazer planejamentos estratégicos que transcendam os mandatos parlamentares para gerar políticas de Estado que gerem confiança e deem aos produtores a condição de eles continuarem vivendo no campo.

A posse do Lula vai ocorrer daqui a 44 dias. Uma das principais bandeiras do novo governo é o combate à fome que passa basicamente pelo aumento da produção de alimentos. A agricultura familiar é a principal estratégia? É a solução?

Sim. Ela é a solução, e precisa estar na mesa, assim como todas as outras. Essa dicotomia, essa divisão às vezes polariza um pouco e cria um conflito. Não tem conflito a gente precisa entender, juntar o trabalho.

*Estagiária sob a supervisão de Odail Figueiredo

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