Consumidor

Taxa de juros do cartão de crédito rotativo encosta em 400%

Taxas cobradas para o cartão de crédito subiram entre setembro e outubro, segundo o BC. Inadimplência também aumentou

Mesmo com o fim do ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), as taxas de juros dos serviços financeiros não dão sinais de desaceleração. A taxa de juros do cartão de crédito rotativo variou de 390,7% ao ano em setembro para 399,5% em outubro. Segundo os dados do Boletim de Estatísticas Monetárias e de Crédito, divulgados pelo Banco Central, esta é a maior taxa desde agosto de 2017, quando ficou em 428%.

O juro rotativo está associado ao crédito rotativo, que é oferecido pelo cartão ao cliente quando ele não realiza o pagamento total da fatura. Todas as vezes que o não é pago o valor integral, a instituição que administra o cartão faz uma espécie de empréstimo para aquela pessoa.

O economista da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques alerta para os riscos dos altos juros dessa modalidade de crédito. "O não pagamento do valor integral da fatura tem provocado uma elevação muito alta nos juros por parte dos bancos, porque é equivalente a uma inadimplência. Está se tornando uma bola de neve, as pessoas não tinham condições de pagar nem mesmo as taxas de juros que eram inferiores no passado, quanto mais agora", disse.

Para as pessoas físicas, a taxa média de juros no crédito livre, que corresponde aos contratos nos quais as taxas de juros livremente pactuadas entre instituições financeiras, passou de 54,0% para 56,6% ao ano de setembro para outubro, enquanto para as pessoas jurídicas foi de 23,0% para 23,5%.

Diferentemente da evolução das taxas do cartão de crédito, o relatório mostra uma queda de 1,8 ponto percentual da taxa média praticada no cheque especial na passagem de setembro para outubro, de 134,3% para 132,5%, o menor patamar desde abril. Em janeiro de 2020, o BC passou a aplicar uma limitação dos juros do cheque especial, em 8% ao mês, o equivalente a 151,82% ao ano.

De acordo com o BC, o spread em operações de crédito (diferença entre os juros que os bancos pagam entre o que é investido e os juros cobrados nos empréstimos ou financiamentos) também apresentou elevação em outubro. O spread médio da pessoa física no crédito livre passou de 41,7 para 44,4 pontos porcentuais entre os dois meses. Para pessoa jurídica, o spread médio passou de 11,1 para 11,7 pontos porcentuais.

Segundo o educador financeiro Thiago Martello, a sequência de alta nos juros bancários, mesmo após o fim do ciclo de alta da Selic, também pode ser explicada por um certo receio das instituições financeiras pelo rompimento do teto de gastos e as altas taxas de inadimplência. "A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do teto está trazendo uma insegurança para o mercado. Os bancos, como trabalham a longo prazo, não tomam decisões visando o hoje, mas sim os próximos anos. Avistando essa imprevisibilidade e uma provável crise, já estão desde já aumentando a taxa de juros deles", avaliou.

Renda comprometida

As altas taxas de juros têm se tornado mais um agravante para o comprometimento da renda dos brasileiros. O endividamento das famílias com o sistema financeiro voltou a subir marginalmente em setembro, para 49,9%, ante 49,8% em agosto, mantendo-se perto do recorde da série histórica do Banco Central. Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento ficou em 31,7% no nono mês, de 31,6% em agosto.

Já a taxa de inadimplência nas operações de crédito livre com os bancos passou de 4,1% para 4,2% de setembro para outubro, informou o BC. Para as pessoas físicas, a taxa de inadimplência passou de 5,8% para 5,9% de um mês para o outro. No caso das empresas, variou de 1,9% para 2,0% no período.

O presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), José César da Costa, avaliou o cenário de milhões de brasileiros que não conseguem manter as contas em dia. "O brasileiro ainda sente no bolso os efeitos dos últimos aumentos das taxas de juros e dos preços dos alimentos. Apesar da inflação ter diminuído, no dia a dia isso ainda não é sentido nos produtos de consumo básico, que seguem aumentando. Esse cenário impacta diretamente no orçamento familiar", destacou.

Nas alturas

Taxa média de juros no crédito livre

Jan 35,3

Fev 36,5

Mar 37,3

Abr 37,9

Mai 38,0

Jun 39,0

Jul 40,4

Ago 40,6

Set 40,7

Out 42,4

Juros rotativo do cartão de crédito

Jan 346,3

Fev 355,2

Mar 359,1

Abr 364,0

Mai 368,8

Jun 370,4

Jul 394,9

Ago 399,6

Set 390,7

Out 399,5

Spread bancário

Jan 35,4

Fev 36,9

Mar 37,8

Abr 38,0

Mai 38,0

Jun 38,7

Jul 40,2

Ago 41,5

Set 41,7

Out 44,4

Fonte: BC.

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