CONJUNTURA

Taxa de desemprego recua para 8,3% em outubro

Com desaceleração da economia em curso, analistas alertam para piora no mercado de trabalho nos próximos meses e em 2023

Rosana Hessel
postado em 01/12/2022 03:00
 (crédito:  Marcello Casal Jr/Agencia Brasil)
(crédito: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil)

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na quarta-feira (30/11), a taxa de desemprego no trimestre encerrado em outubro, de 8,3%, a menor para o período desde 2014. O dado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do órgão ligado ao Ministério da Economia foi menor do que o esperado pelo mercado, cujas apostas estavam entre 8,5% e 8,6%. O indicador também ficou abaixo dos 8,7% registrados no trimestre encerrado em setembro e dos 9,1% dos três meses imediatamente anteriores, de maio a julho.

Apesar dessa melhora no mercado de trabalho, analistas lembraram que, como a economia está em desaceleração, a perspectiva é de aumento do desemprego nos próximos meses. Eles, inclusive, não descartam que a taxa de desocupação volte a ficar acima de 9% no ano que vem. Vale destacar que, na véspera dos dados da Pnad, o Ministério do Trabalho e Previdência divulgou números do mercado formal de outubro, refletindo a desaceleração da economia, pois o número de vagas criadas caiu 42,5%, na comparação com setembro, para 159.454 posições com carteira assinada.

Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou que esse recuo na abertura de vagas também está relacionado com as incertezas do empresariado em relação às regras das relações de trabalho, pois o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem sinalizando que pretende revogar a reforma trabalhista logo no início do mandato. Fontes próximas ao novo governo, no entanto, disseram que Lula "não deverá mexer" nesse tema tão cedo.

"Houve uma consolidação do mercado de trabalho ao longo de 2022, resultado de uma atividade econômica mais forte na primeira metade do ano, em grande parte, devido às medidas de estímulo do governo. Agora, no fim do ano, existem as vagas temporárias do comércio que podem dar algum aquecimento nos dados de novembro, mas sabemos que, em dezembro, haverá queda", comentou o economista Rodolpho Tobler, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Ele ressaltou que, apesar do aumento gradual da renda média no ano, chegando R$ 2.754 por mês, no trimestre encerrado em outubro, o rendimento do trabalhador ainda não recuperou os patamares pré-pandemia.

Nos meses de agosto a outubro de 2019, a renda média mensal era de R$ 2.811 e, no mesmo período de 2020, passou para R$ 2.950. "Isso é complicado, porque o poder de compra das famílias está muito comprimido. Apesar da desaceleração da inflação recente, ela ainda incomoda", alertou Tobler.

Na avaliação dele, devido à esperada perda de fôlego da economia em 2023, a continuidade da queda do desemprego será mais desafiadora no novo governo. "A expectativa é de que a taxa de desocupação deverá subir, pelo menos, na primeira metade do próximo ano, podendo ficar acima de 9%, mas acredito que, dificilmente voltará para dois dígitos."

PIB mais fraco

O IBGE divulgará, hoje, os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre deste ano, e a expectativa do mercado é que essa tendência de desaceleração da atividade econômica seja confirmada, pois as projeções variam entre 0,4% e 0,7%, abaixo da variação positiva de 1,2% contabilizada nos três meses anteriores.

Analistas reconhecem que essa desaceleração é resultado do impacto defasado da política monetária na atividade, que levou a taxa básica da economia (Selic) para 13,75% ao ano atualmente. Os reflexos devem ser sentidos também em 2023, quando o PIB deverá crescer entre 0,4% e 1%, pelas estimativas coletadas pelo Correio.

O economista Ecio Costa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ressaltou que a economia brasileira também sentirá o impacto da desaceleração da economia global em 2023. "E tem toda essa série de incertezas que estão permeando as negociações da PEC da Transição e de como a política do novo governo vai ser conduzida", explicou.

Segundo ele, há possibilidade de o desemprego aumentar, mas ainda não há certeza de que poderá voltar para casa de dois dígitos no ano que vem. "Com certeza, vamos ter uma deteriorção no mercado de trabalho, justamente pelo baixo crescimento da economia", frisou.

Ao analisar os dados da Pnad, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, reforçou o alerta sobre a volta do aumento do desemprego. "Apesar da queda da taxa de desemprego, há sinais de desaceleração no mercado de trabalho, com o ritmo de crescimento do emprego formal desacelerando enquanto o segmento informal contraiu pelo quarto mês consecutivo. Olhando à frente, mantemos nossa expectativa de que o emprego continuará desacelerando nos próximos meses, à medida em que a atividade econômica perde o fôlego", escreveu. Pelas estimativas do banco, a taxa de desemprego dessazonalizada chegará a 8,6% no fim deste ano e subirá para 9,3% no fim de 2023.

Conforme os dados do IBGE, o contingente de pessoas ocupadas cresceu 1%, na comparação com o trimestre encerrado em julho, para 99,7 milhões — novo recorde da série histórica, iniciada em 2012. Já o número de desempregados encolheu 8,7%, na mesma base de comparação, para 9,022 milhões — menor patamar desde 2015.

O nível da ocupação chegou a 57,4% — nível mais elevado desde o trimestre móvel de abril de 2015. Contudo, o contingente de informais continua elevado, perto de 39 milhões. "A informalidade é muito alta e tem ficado em torno de 40% há muito tempo, mesmo antes da pandemia, porque é um problema estrutural", lamentou Tobler, do Ibre, que demonstrou preocupação com exército de 18,7 milhões de trabalhadores por conta própria sem CNPJ.

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