Correio Debate

Investimento em infraestrutura exige melhor governança

Investimentos no setor estão no patamar mais baixo em décadas. Para ampliar os recursos aplicados em áreas como estradas, portos, energia e saneamento, o país vai precisar contar com o setor privado, melhorando o ambiente de negócios

Rafaela Gonçalves
postado em 16/12/2022 03:55 / atualizado em 16/12/2022 15:53
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O investimento em infraestrutura no Brasil está abaixo de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), muito aquém do necessário para cobrir as carências do país no setor. "É um patamar baixo. Temos um país com uma grande demanda por serviços de infraestrutura, e esse volume reduzido que limita nosso potencial de crescimento", afirmou a consultora econômica Zeina Latif, na abertura do painel O crescimento passa pela infraestrutura do seminário Correio Debate: Desafios 2023 — o Brasil que queremos, organizado pelo Correio Braziliense.

Para a economista, não é possível pensar em crescimento dos investimentos em infraestrutura sem reforçar a governança, com bons projetos e um ambiente de negócios saudável. Segundo ela, quando se pensa no segmento, a tendência é dizer que "o setor público tem que investir mais, o BNDES tem que financiar mais". "Porém, essa equação é muito mais complexa", alertou.

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economia-infraestrutura (foto: economia-infraestrutura)

Diante da incapacidade atual de financiamento do setor público, ela avalia que é necessário um olhar mais voltado para o setor privado. "É muito importante, primeiro, reforçar a governança. Tivemos, em um passado recente, um imbróglio muito grande para a manutenção dos investimentos no segmento. (Houve) Projetos equivocados, inclusive abrindo espaço para escândalos de corrupção, que tiraram muitas empresas desse mercado", observou.

Segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), os investimentos públicos, considerando aplicações das estatais, dos estados e da União, estão em trajetória de queda desde meados de 2014, pouco antes do início da crise econômica do governo de Dilma Rousseff (PT). Os maiores impactos para o setor vieram das investigações da Operação Lava Jato, que começou com um caso de superfaturamento em obras da Petrobras. O escândalo deixou um rastro de projetos inacabados e minou a confiança de investidores.

Com a pandemia, em 2020, os recursos atingiram a menor proporção do PIB desde os anos 1940. Neste ano, o montante aplicado voltou a subir, mas ainda está longe do patamar ideal. Diante de um ambiente macroeconômico desafiador para o investimento privado, Latif acredita que é preciso garantir mais segurança aos investidores.

"O grau de insegurança jurídica que temos hoje no país machuca o investimento", afirmou a consultora. "A saída para atingir patamares que consigam dar conta dos desafios do país é dar um grande salto, que tem de vir do setor privado, devido à restrição orçamentária do setor público e, também, pela questão da governança", reforçou.

PPPs

Jorge Arbache, vice-presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), avaliou que as Parcerias Público-Privadas (PPPs) devem ter papel importante na próxima gestão, diante de uma agenda sem privatizações, defendida pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Membros do governo já mencionaram que talvez as PPPs voltem com um pouco mais de ímpeto. Mas colocar um projeto amplo na rua requer estudos de grande complexidade. Aqui, o BNDES pode ter uma função importante", disse.

Avaliando as perspectivas para o próximo ano, o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, destacou a importância de o governo ganhar credibilidade — o que passa pela definição do novo arcabouço fiscal e pelo corte de despesas desnecessárias. "Para investimento em infraestrutura, que é importante, existe espaço, desde que haja corte de outras despesas. É isso que temos que ver", disse.

O volume de investimentos em infraestrutura é um indicador do desenvolvimento econômico de um país. Em nações desenvolvidas, como Alemanha, Japão e Estados Unidos, ele fica acima de 60% do PIB. O economista Tony Volpon, estrategista-chefe da Wealth High Governance (WHG), empresa global de gestão de fortunas e ativos, afirmou que a pressão pela redução da dependência da China fará muitas empresas saírem do país, o que abre para o Brasil a "oportunidade de ser um player do ponto de vista global". Mas para isso, frisou, é necessário um conjunto articulado de reformas para atrair esses investimentos.

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