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69,6% de quem trabalha por conta própria sonha com carteira assinada

69,6% dos que se mantêm por conta própria desejam ter um emprego formal, mas 30,4% preferem ficar como estão

Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) mostrou que 69,6% das pessoas que trabalham por conta própria gostariam de ter algum vínculo formal com uma empresa. No entanto, 30,4% disseram preferir manter-se na situação atual. A pesquisa revelou ainda que, quase um terço dos que possuem empregos formais estão insatisfeitos com o trabalho — e o principal motivo é a baixa remuneração. Os dados são da Sondagem do Mercado de Trabalho, lançada ontem com o objetivo é aprofundar o conhecimento da sociedade sobre a área mediante informações não encontradas nas estatísticas hoje existentes.

O desejo de ter rendimentos fixos é o principal motivo apontado pelos entrevistados pelos que gostariam de se vincular a uma empresa — resposta dada por 33,1% dos entrevistados. O acesso a benefícios foi a opção de 31,4%.

"Trabalhar para si mesmo tem uma certa instabilidade, não tem tanta previsibilidade do rendimento. Quando se trabalha em uma empresa, há certa garantia de quanto se vai receber a cada mês", acrescentou Tobler. "Quem trabalha de maneira informal tem uma falta de previsibilidade, uma insegurança em relação à renda, e também não tem muitos benefícios", observou Rodolpho Tobler, economista e pesquisador do FGV Ibre.

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Insegurança

"O estudo mostra também que tem aumentado o número de trabalhadores por conta própria. Segundo os dados da Pnad do IBGE, hoje temos quase 100 milhões de trabalhadores ocupados e quase 25 milhões estão por conta própria. Ou seja, 25% estão nesta categoria e gostariam de trabalhar numa empresa", acrescentou Tobler.

O pesquisador assinalou ainda que a pandemia mostrou a instabilidade que a informalidade traz aos trabalhadores. "Os informais, no momento da crise, ficaram limitados na circulação, sem rendimento, não tinha um Fundo de Garantia, não tinham nenhum tipo de auxílio ou benefícios que pudessem ajudá-los a se sustentar nesse período", afirmou. "Então, esses fatores contribuem muito para que as pessoas que estão por conta própria queiram deixar esse tipo de ocupação e trabalhar numa empresa."

Entre os que preferem se manter na informalidade, as principais razões apontadas foram a flexibilidade de horários (14,3%) e rendimentos maiores que um salário fixo (11,9%).

Os dados mostram ainda que 27,8% dos trabalhadores com carteira assinada afirma estar insatisfeitos com o emprego. Os principais motivos de insatisfação foram remuneração baixa (64,2%), pouco ou nenhum benefício (43,0%) e insegurança por ser um trabalho temporário (23,7%).

Segundo Tobler, o que se consegue observar é que a satisfação no trabalho está ligada à renda. "Se olharmos para os dados do IBGE, nas últimas divulgações, há uma melhoria, até mais acentuada do que era esperado. A taxa de desemprego caiu mais esse ano do que era esperado no início de 2022", observou. "A população ocupada bateu recorde em quase 100 milhões de pessoas, mas a renda é a única coisa que não consegue voltar ao patamar de antes da pandemia, ou seja, a população ocupada ainda tem uma salário muito baixo."

De acordo com o pesquisador, para que os brasileiros se sintam mais satisfeitos, é necessário que haja crescimento econômico. "O mercado de trabalho vem passando por dificuldade desde a crise de 2014, e teve uma recuperação muito pelo lado da informalidade. O crescimento econômico tem sido baixo. Precisamos voltar a ter uma evolução (do emprego) no lado formal também", disse. "Acredito que desta forma, as pessoas poderão ter uma renda um pouco maior e, com isso, diminuir um pouco essa insatisfação."

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Desemprego

A pesquisa também perguntou aos entrevistados sobre a chance de perder o emprego e o tempo que conseguiriam se sustentar caso perdessem a principal fonte de renda. No entanto, os dados mostraram que a possibilidade de perder o emprego ou a principal fonte de renda nos próximos 12 meses é vista como improvável ou muito improvável pela maioria dos respondentes. A soma dessas duas parcelas ficou em 58,7% do total. No sentido oposto, 41,3% afirmaram que essa perda é provável ou muito provável. O levantamento mostrou, ainda, que caso percam o emprego, 66,5% dos trabalhadores conseguiriam se sustentar por até três três meses.