conjuntura

Lula diz que não há explicação para Selic em 13,75%

Em solenidade no Planalto, Lula mais uma vez expõe desconforto com o fato de o mercado não ver a destinação de recursos para a área social como investimento e afirma que não há explicação para a Selic estar em 13,75%

Rafaela Gonçalves
postado em 20/01/2023 03:55
 (crédito: Isac Nóbrega/PR)
(crédito: Isac Nóbrega/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou, ontem, a criticar a independência do Banco Central (BC) e o regime de metas de inflação. No encontro com reitores de universidades e representantes de institutos federais de educação, no Palácio do Planalto, ele apontou que há um "descompasso" entre a taxa básica de juros (Selic) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, que mede o aumento dos preços) e disse que "a gente poderia nem ter juros".

"Qual é a explicação para a gente ter um juro de 13,5% hoje? O BC é independente, a gente poderia não ter nem juro, não é verdade? A inflação está 6,5%, 7,5%. Por que os juros estão 13,5%?", questionou. "Qual é a lógica da desconfiança que o mercado tem de tudo que a gente fará de investimento? Eu não vejo essa gente falar uma vez de dívida social. Nós temos uma dívida social de 500 anos com esse povo. A única coisa que não é tida como gasto por essa gente de mercado é o pagamento de juros da dívida. Eles acham que isso é investimento", provocou. A nova crítica de Lula — ele demonstrou insatisfação com a autoridade monetária na crítica que concedeu à GloboNews, que foi ao ar na noite de quarta-feira — voltou a causar desconforto no mercado, que reagiu.

A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro do ano passado, fixou a Selic em 13,75%, e não 13,5%, como disse Lula. A inflação oficial de 2022, medida pelo IPCA, foi de 5,79%.

Em resposta à declaração do presidente, Roberto Campos Neto, presidente do BC, reforçou que a independência da instituição, criticada por Lula, é o que ajuda a diminuir a volatilidade do mercado. "Lula se orgulha de Henrique Meirelles (ex-presidente da autoridade monetária) ter sido independente no BC e acha que não precisa da lei, porque ele garante a independência sem lei. Mas, olhando para o Brasil, vemos que o mercado seria muito mais volátil se não houvesse a independência em lei. Seria uma questão que adicionaria mais volatilidade na curva longa de juros", disse, durante palestra na UCLA Anderson School of Management, nos Estados Unidos.

Campos Neto reafirmou que ficará no cargo até o fim do mandato à frente do BC. "A independência não é um desejo só do Banco Central. Temos que responder ao desejo dessas pessoas que votaram essa lei e mostrar que vamos seguir independentes", completou.

Regime de metas

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, retornou ontem do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e não teve agenda pública. Evitando ruídos com o governo, integrantes da pasta não manifestaram o que pensam sobre as críticas de Lula ao BC e ao regime de metas de inflação — que é definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, juntamente com o presidente do BC, e tem até junho para ser revisto.

A independência do BC é vista como um sinal positivo para o mercado financeiro, em especial para os investidores internacionais. Em tese, com mandatos fixos os diretores teriam mais condições de manter a continuidade da política monetária, independentemente do presidente da República eleito. Segundo os analistas, apesar de, possivelmente, não representar riscos imediatos à autonomia ou ao regime de metas de inflação, as críticas de Lula dão uma sinalização ruim ao mercado.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestão de Recursos, o discurso do presidente reforça um cenário de incerteza em relação à condução da política econômica. "Fica o receio de que as decisões políticas do Palácio do Planalto vão se sobrepor ao comprometimento com as contas públicas, e à própria capacidade de independência até mesmo do ministro da Fazenda. Além de criar uma expectativa de mudança na meta da inflação para 2024 e 2025, devido a esse prazo até junho", lamentou.

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