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Brasil volta ao cenário internacional de olho em uma economia mais sustentável

Em primeiro evento internacional, novo governo reforça o recado de Lula de que o país quer retomar o protagonismo global e sinalizaram adequação para uma economia mais sustentável ambientalmente

Victor Correia
postado em 22/01/2023 06:00
 (crédito: Reprodução/Youtube @World Economic Forum)
(crédito: Reprodução/Youtube @World Economic Forum)

O novo governo teve, na semana passada, a primeira participação em um dos mais importantes eventos globais. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, representaram o país no Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), que ocorre anualmente em Davos, na Suíça. Ambos levaram a mensagem de que "o Brasil está de volta" ao cenário internacional e vai se reincluir nas discussões em prol de uma economia mais sustentável ambientalmente.

O resort nos Alpes suíços reúne, uma vez por ano, os líderes de grandes empresas, autoridades e investidores para discutir os desafios recentes no cenário internacional, e como eles afetam possíveis parcerias comerciais e investimentos. O tema deste ano do Fórum, encerrado ontem, foi "cooperação em um mundo fragmentado", e o encontro tratou, especialmente, da questão ambiental, das consequências da pandemia e da guerra na Ucrânia e da expectativa de uma recessão global em 2023 — que não deverá ajudar o país a crescer neste ano.

Em um painel especial dedicado ao Brasil, Haddad deu pistas sobre a nova política econômica. "Temos uma agenda reguladora para melhorar o ambiente de investimento no Brasil, especialmente com parcerias público-privadas, concessões e orçamento público para algumas obras que não são lucrativas para o setor privado, mas que são muito importantes", declarou.

Porém, reconheceu que o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve enfrentar novos desafios no setor econômico, como o baixo crescimento. "Não temos mais o boom das commodities do começo do século, então, teremos que fazer de outra forma. Teremos que fazer um boom de integração para favorecer o comércio, transações financeiras, o sistema de créditos na nossa região."

Na abertura do Fórum, foi divulgada uma pesquisa na qual dois terços dos economistas, tanto do setor público quanto do privado, esperam uma recessão mundial para 2023. Os fatores de risco avaliados são a inflação alta, o baixo crescimento e alta dívida dos países, além do ambiente internacional altamente fragmentado.

Durante o evento, Haddad apresentou aos investidores as expectativas para o novo governo, em um esforço para atrair o capital internacional. Além dos painéis, o ministro teve, pelo menos, 12 reuniões com líderes empresariais. Em seu último dia na Suíça, na quarta-feira, esteve com o CEO global da Uber, Dara Khosrowshahi, com quem discutiu um plano de modernização dos direitos dos trabalhadores por aplicativo no país."Estamos muito preocupados com a questão da seguridade social dos trabalhadores das plataformas digitais. Ninguém é contra a tecnologia, mas a gente quer a tecnologia a serviço de todos", declarou o ministro da Fazenda após o encontro. "Como uma empresa global, eles já estão sofrendo esse constrangimento mundo afora. É natural que queiram analisar o assunto", acrescentou. Segundo a Uber, o CEO colocou-se à disposição para contribuir com o debate e também discutiu sobre os investimentos da empresa no Brasil.

Sustentabilidade

A participação de Marina Silva também foi representativa, pois a ministra tem grande reconhecimento pelo seu trabalho na área ambiental. A ministra foi convidada pelo WEF antes de ser nomeada e garantiu que sua pasta atuará em conjunto com a Fazenda em prol do crescimento. "Temos um compromisso para que o Brasil saia de uma economia intensiva de carbono para uma economia de baixo carbono. Estamos falando da transição ecológica, bioeconomia, todos esses investimentos. Tenho muito orgulho de falar sobre eles aqui, mas todos esses investimentos foram acordados pelo nosso ministro da Fazenda", afirmou Marina. Ela lembrou que despesas com políticas ambientais foram retiradas do teto de gastos neste ano. "Acho que a sinergia que nós estabelecemos é uma característica do governo Lula, pelo terceiro mandato agora", completou.

O cuidado com o tema ambiental é, atualmente, uma exigência de muitos países e blocos internacionais para a realização de acordos. Em 2019, durante o governo Bolsonaro, a Alemanha e a Noruega deixaram de enviar quase R$ 300 milhões ao Fundo Amazônia diante da falta de uma política ambiental. Empresas como a Timberland suspenderam a compra de couro brasileiro enquanto não houvesse esclarecimentos sobre a sustentabilidade da produção.

"Estamos de volta à agenda internacional para tratarmos de metas ambiciosas voltadas para o clima, mas também para a biodiversidade", afirmou a ministra do Meio Ambiente. "O Brasil também pretende ser um líder de uma iniciativa global na defesa das florestas e estamos falando com todos os países que têm grandes florestas para que possamos reduzir a perda das florestas em níveis globais. Internamente, temos um compromisso de alcançar o desmatamento zero até 2030', acrescentou.

Marina Silva ficou mais tempo do que Haddad em Davos, voltando ao Brasil na quinta-feira. Ela também teve uma agenda cheia de encontros bilaterais, incluindo com o representante dos Estados Unidos para o clima, John Kerry. Marina participou de uma reunião multilateral com lideranças da América Latina e esteve com um grupo de jovens ativistas ambientais, como Greta Thunberg. "Foi um encontro carregado de significado. Muito tocante para mim", disse.

Especialistas avaliaram que a participação do governo no Fórum sinalizou uma adequação maior do Brasil no cenário econômico internacional, incluindo a cobrança por práticas mais sustentáveis, com reformas importantes no ambiente interno. "A apresentação do Brasil em Davos foi muito importante, porque marcou uma mudança de governo. Isso ficou muito claro", avalia a economista e professora de Política Fiscal da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carla Beni. Para ela, a reforma tributária, que ganhou destaque entre as falas de Haddad no Fórum, ajuda na adequação ao trato com blocos econômicos importantes, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ao qual o país está em processo de adesão. "Há um certo consenso de que o Brasil precisa se atualizar, inclusive, sobre a ótica da carga tributária para bens e serviços. A média na OCDE é de 32%. O Brasil tem 46%, e não tributa em quase nada a renda, o patrimônio e a herança."

Defensor da reforma tributária, o economista especialista e ex-deputado federal Luiz Carlos Hauly reforçou que o Brasil inteiro está esperando. "Lá em Davos, foi tudo sinalizado. Isso já muda o humor. O mercado está azedo com anúncios recentes do governo, e a aprovação da reforma vai trazer a simpatia e aceitação econômica de todos os setores. Além disso, sem a mudança do atual sistema tributário, o país não entra na OCDE", disse.

 

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