Jornal Correio Braziliense

conjuntura

Com alimentos em alta, inflação fura teto e afeta as compras do brasileiro

IPCA avança 0,62% em dezembro e fecha 2022 em 5,79%. Produtos como a cebola, que subiu 130%, foram os vilões do índice

Cebola

A variação de 0,62% no IPCA do último mês do ano surpreendeu o mercado, pois as estimativas eram de 0,46%, conforme o boletim Focus, do BC. O resultado mensal foi puxado pela alta de preços dos alimentos e dos itens de higiene pessoal, como perfumes, cujos grupos responderam por metade da variação do indicador.

No acumulado do ano, o grupo alimentação e bebidas registrou alta de 11,64%, respondendo por 2,41 pontos percentuais do IPCA do ano, ou seja, 41,6% da variação de 2022. A cebola foi a maior vilã da inflação em 2022, acumulando carestia de 130%. Enquanto isso, os preços da gasolina e do etanol recuaram 25,78% e 25,42%, respectivamente.

Contudo, analistas chamam a atenção para o fato de os preços da alimentação em casa registrarem alta maior, de 13,21%, no ano, acima da variação de 7,50% para quem se alimenta fora de casa. "O consumo em residência ficou mais caro do que a inflação média, que corrige os salários. Isso é um desafio para as famílias mais pobres, porque praticamente tudo o que ganham é para comprar alimentos, que devem ter restrições maiores em 2023", destacou o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Ele lembrou que, se não fosse a renúncia fiscal do governo, que zerou os impostos federais sobre combustíveis e energia elétrica, o IPCA deveria encerrar 2022 em torno de 9% em vez de ficar perto de 6%.

Os dados do IBGE ainda mostraram uma inflação bastante disseminada na economia, com o índice de difusão de alta de preços em 69% dos itens pesquisados, acima dos 59% registrados em novembro, o menor patamar do ano, em grande parte, devido às promoções da Black Friday. "O índice de difusão realmente mostrou que houve um espalhamento das pressões inflacionárias, mas isso é bem característico de dezembro, que é um mês de festa, e muita gente capricha no consumo", destacou Braz.

Na avaliação dele, na média dos últimos meses, a difusão ainda continua elevada, o que é preocupante e acende o alerta para o Banco Central manter a taxa Selic em patamar elevado por um período mais prolongado neste ano. "Exatamente essa persistência inflacionária é que mostra a necessidade de se manter a taxa de juros mais alta por mais tempo. E esse é o problema. Quanto mais o BC usar esse remédio contra a inflação, mais efeito colateral vai se materializando na atividade, com um crescimento econômico menor, menos investimento e mais desemprego", emendou.

Salário mínimo

O IBGE também divulgou os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação das famílias mais pobres, com renda de até cinco salários mínimos, e é utilizado para corrigir o piso salarial.

Em dezembro, o INPC também acelerou e avançou 0,69% e, acima da variação de 0,38% de novembro, acumulando alta de 5,93% em 2022, puxada pelos produtos alimentícios, que mais pesam no indicador, que subiram 11,91% em 2022.

Neste ano, o salário mínimo deve ter um reajuste acima da inflação, porque a Lei Orçamentária Anual (LOA) prevê o piso em R$ 1.302, valor 1,5% acima dos R$ 1.281 considerando a correção pelo INPC do ano passado. Contudo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu um valor maior do que o enviado pelo governo anterior, de R$ 1.320, mas está com dificuldades para encontrar recursos neste começo de ano para cobrir os cerca de R$ 7 bilhões de aumento de despesas com aposentadorias e benefícios. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ainda não se pronunciou sobre o assunto. Procurada, a assessoria não respondeu até o fechamento desta edição.

Além disso, considerando a variação do indicador, o teto das aposentadorias pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) passará de R$ 7.087,22 para R$ 7.507,49. O novo valor ainda precisa ser oficializado pelo Ministério da Previdência, no Diário Oficial da União (DOU) para que possa entrar em vigor.