guerra dos juros

Haddad, Tebet e Campos Neto acertam diferenças antes da reunião do CMN

Ministros da Fazenda, Fernando Haddad; do Planejamento, Simone Tebet; e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acertam diferenças antes da reunião do Conselho Monetário Nacional. Mudança da meta de inflação não entrou na pauta

Raphael Felice
Rafaela Gonçalves
postado em 17/02/2023 03:55
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Em meio às tensões entre o governo e Banco Central (BC) sobre o patamar da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75% ao ano, a primeira reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) sob a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi rápida e tranquila. O encontro do colegiado, composto pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi cercado por expectativas diante dos ruídos sobre uma possível revisão da meta da inflação, defendida por Lula, mas o assunto sequer entrou em pauta.

Antes do encontro oficial, Campos Neto, Haddad e Tebet tiveram um almoço restrito que durou mais de duas horas, "selando a paz" entre governo e BC, de acordo com fontes da Fazenda. A reunião formal do CMN exigiu apenas 28 minutos. Dela, participaram cerca de 20 pessoas, incluindo alguns nomes do segundo escalão de cada uma das pastas, que relataram que o encontro foi técnico e cordial.

O presidente Lula não vem poupando críticas à política monetária do BC nas últimas semanas. Ontem, em entrevista à emissora CNN, no entanto, ele afirmou que "não interessa brigar com um cidadão que é presidente do Banco Central", referindo-se a Campos Neto. "Como presidente da República, não me interessa brigar com um cidadão que eu pouco conheço. Eu vi ele uma vez", disse.

Sobre a possibilidade de mexer ou não na autonomia do BC — assunto que tem gerado polêmica com o mercado financeiro nas últimas semanas — Lula disse que, após Campos Neto cumprir seu mandato, que vai até o fim de 2024, serão avaliados os benefícios e consequências da lei que tornou o BC independente. Ainda ontem, antes da reunião do CMN, o Partido dos Trabalhadores (PT) publicou uma resolução na qual reafirma se opor à autonomia da autoridade monetária.

"Vamos ver qual é a utilidade que a autonomia do Banco Central trouxe ao país. Se ela trouxe algo positivo, não tem problema nenhum de ser independente. Na verdade ele é autônomo, mas não é independente. Porque tem compromisso com a sociedade brasileira, tem compromisso com o Congresso Nacional e com o presidente da República. Isso nunca foi para mim uma coisa de princípio. O que interessa para mim é o resultado: um banco central autônomo vai ser melhor? Vai melhorar a economia? Ótimo. Mas, se não melhorar, vai ter que mudar", destacou Lula, durante a entrevista.

Explicações

Em mais um gesto destinado a reduzir as tensões, Campos Neto concordou em ir à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, depois do carnaval, para prestar esclarecimentos sobre a política monetária. A informação foi confirmada ao Correio pelo futuro presidente da comissão, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO).

O convite será formalizado assim que o colegiado estiver com todos os membros indicados. Mas o parlamentar se reuniu com Campos Neto em um jantar, na noite de quarta-feira, e afirmou que o presidente do BC se colocou à disposição para prestar todos os esclarecimentos referentes à atuação da autarquia. Ele já se dispôs a ir lá e prestar qualquer dúvida que porventura tiver com assuntos relacionados ao Banco Central e principalmente sobre as taxas de juros", disse o senador.

Vanderlan fez elogios a Campos Neto e afirmou que o presidente do BC prestará todos os esclarecimentos necessários quando convocado à CAE. Sobre a autonomia da instituição, o senador entende que é um assunto superado. "Não vamos dar passo para trás da conquista que é ter um Banco Central independente", declarou.

O CMN, no qual Campos Neto é peça chave, é o responsável pela definição da meta de inflação a ser perseguida pelo BC — que, para isso, utiliza a política de juros. Com mandato até o fim de 2024, o presidente do BC tem alertado que um aumento da meta de inflação, neste momento, pode ter o efeito contrário ao desejado, impulsionando ainda mais as expectativas e a alta dos preços. O conselho tem até junho para definir a meta para a inflação de três anos-calendário à frente.

Segundo o economista e sócio da Valor Investimentos, Davi Lelis, a reunião do CMN trouxe um certo acalento para o mercado. "Muito se falava e esperava que essa reunião trouxesse respostas sobre as metas de inflação e, conforme Haddad havia antecipado, este não foi o assunto", observou.

Prejuízo

Na reunião de ontem,, o CMN aprovou o balanço anual do Banco Central, que registrou resultado negativo de R$ 298,5 bilhões em 2022. O resultado se deve principalmente à correção cambial de R$ 160,8 bilhões. Do total, R$ 179,1 bilhões serão cobertos mediante reversão de reserva de resultado e R$ 82,8 bilhões por redução do patrimônio institucional. O Tesouro Nacional cobrirá o saldo remanescente de R$ 36,6 bilhões.

Em duas outras decisões, o CMN divulgou mudanças na regulamentação do funcionamento de cooperativas de crédito e de bancos. Os temas, de acordo com o comunicado distribuído pelo BC após a reunião do colegiado, são da alçada da autoridade monetária e servem para a modernização do setor financeiro.

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