Jornal Correio Braziliense

Crise de bancos nos EUA

Para Itaú, é preciso monitorar os efeitos da nova turbulência global

Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, acredita que ainda haverá muita volatilidade nos mercados por conta da crise dos bancos nos EUA que afeta mais a Europa

A nova crise financeira provocada pela quebra de dois bancos dos Estados Unidos, o Silicon Valley Bank (SBV), da Califórnia, e o Signature Bank, de Nova York, apesar de, inicialmente, ter dado sinais de que não seria sistêmica, provocou uma nova vítima, agora, na Europa, o Credit Suisse. Com isso, evidencia uma potencial crise de crédito global, da qual o Brasil não está imune, apesar de o impacto ser maior no Velho Continente, de acordo com o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita. “Esse é um risco a ser monitorado”, disse.

Segundo o analista, “todo mundo está monitorando, porque passa por uma desaceleração do mercado de crédito e afeta mais o mercado de capitais”. A declaração foi dada nesta quarta-feira (15/3), em entrevista a jornalistas para a apresentação das análises macroeconômicas do Itaú Unibanco. Para Mesquita, haverá muita volatilidade nos mercados por conta dessa nova crise e ainda é cedo para saber sobre o tamanho dos efeitos no mercado global.

Por enquanto, o Itaú Unibanco prevê desaceleração no crescimento do mercado de crédito, passando de 14%, em 2022, para 8%, em 2023. “Esse episódio dos bancos norte-americanos pode acelerar o processo de perda de ritmo do mercado de crédito, algo que pode mudar a perspectiva de inflação. Mas, por enquanto, é mais um risco do que algo concreto”, acrescentou.

Bolsa

O mercado financeiro europeu amanheceu hoje em polvorosa. As ações do banco suíço despencaram 30% nesta quarta-feira, após o principal investidor afirmar que não poderia fazer novos aportes na instituição, “por questões regulatórias”. Acompanhando o mau humor das bolsas internacionais, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) opera em queda de quase 2%, batendo a mínima de 2023, de 100.792 pontos.

Na avaliação de Mesquita, o problema do Credit Suisse é pontual, mas acaba contaminando o mercado europeu porque os bancos de lá são menos lucrativos. “A estrutura do sistema bancário dos Estados Unidos é diferente do resto do mundo, por razões históricas. Ele é pouco concentrado e dado o tamanho da economia norte-americana, os bancos regionais são bastante relevantes. Na Europa, o mercado financeiro é mais concentrado, mas é um mercado onde os bancos estão com dificuldade de retorno financeiro há muito tempo. Então eles já estão com a imunidade comprometida”, avaliou Mesquita, em relação às reações negativas do mercado europeu hoje.

“O problema do Credit Suisse, que não está na Zona do Euro, mas é muito ligado aos bancos europeus, acabou contaminando o mercado. Os bancos europeus têm uma fragilidade maior e, com essa turbulência nos EUA, acabam sofrendo mais”, emendou.

O Itaú Unibanco manteve em 1,3% a previsão de crescimento do PIB brasileiro este ano, percentual acima da média do mercado, em torno de 0,89%, conforme dados do boletim Focus, do Banco Central. Contudo, o banco está mais pessimista em relação à inflação, pois prevê alta de 6,1% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), neste ano. Já a mediana do mercado no Focus é de 5,96%. Ambas projeções estão bem acima do teto da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,75%.

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