Salários

Salários dos trabalhadores caem 6,9% em 2022; CEOs ganham 23,8%

Análise da Oxfam, divulgada neste domingo (30/4), mostra que o fenômeno é global, mas a desigualdade entre salários no Brasil é maior que a média de outros países

Victor Correia
postado em 30/04/2023 21:01
 (crédito:  Arquivo / Tânia Rêgo / Agência Brasil)
(crédito: Arquivo / Tânia Rêgo / Agência Brasil)

Análise divulgada neste domingo (30/4) pela Oxfam mostra que, em 2022, os CEOs mais bem pagos do Brasil tiveram um aumento salarial de 23,8% em relação a 2021, enquanto os salários dos trabalhadores caíram 6,9%, em média, na mesma comparação. O cenário brasileiro superou a média de outros quatro países — Estados Unidos, Reino Unido, Índia e África do Sul. Juntas, essas nações tiveram aumento de 9% para os acionistas e redução de 3,19% para os assalariados.

O levantamento foi baseado em dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de agências governamentais de estatísticas. Números globais mostram que acionistas de empresas receberam um recorde de US$ 1,56 trilhão em dividendos no ano passado, um aumento de 10% em relação a 2021. Já um grupo de um bilhão de trabalhadores, de 50 países, sofreu um corte salarial médio de US$ 685, com uma perda coletiva de US$ 746 bilhões em valor corrigido pela inflação.

No Brasil, uma série de políticas públicas contribuem para a desigualdade ainda maior entre os mais ricos e os trabalhadores.

“Ainda que a gente tenha várias informações agora a respeito da recuperação do emprego, acabamos vendo que a renda ainda não recuperou os padrões anteriores à pandemia”, explicou ao Correio o coordenador de Justiça Social e Econômica da Oxfam Brasil, Jefferson Nascimento. “Os novos empregos surgidos têm menor rendimento médio, mais precarizado”, acrescentou.

Taxação de lucros

Para o coordenador, a reforma trabalhista implantada durante o governo de Michel Temer (MDB) contribuiu para que postos de trabalho com carteira assinada fossem substituídos por vagas informais, com menor remuneração e sem os direitos previstos em lei. Por outro lado, a falta de taxação sobre lucros e dividendos – o que ocorre desde 1996 – colabora para a alta concentração de renda por parte dos acionistas. “Esses buracos na legislação tributária beneficiam justamente os muito ricos”, afirmou.

A Oxfam defende aumento de tributação para o 1% mais rico. Governos passados tentaram alterar a tributação sobre lucros e dividendos, sem sucesso. Foi o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas um projeto de lei que trata do tema está parado no Congresso desde 2021. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também afirma, desde a campanha, que quer aumentar impostos para os ricos.

Na outra frente, é preciso frear a queda da renda dos assalariados. “Um dos aspectos importantes nesse sentido é a retomada da política de valorização real do salário mínimo, que tem um impacto progressivo. Nós vimos que a medida teve impacto positivo para os trabalhadores ao longo dos anos 2000”, frisa Jefferson.

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