Ponto a ponto | Márcio Maciel | Presidente do Sindicerv

Presidente do Sindicerv: "Apoiamos toda reforma que ajude a gerar emprego"

Representante das grandes cervejarias considera a simplificação tributária como passo fundamental para ampliar o terceiro maior mercado consumidor do mundo

Victor Correia
postado em 21/05/2023 03:55
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

As grandes cervejarias projetam um ano positivo para 2023, com crescimento do mercado, investimento e chegada de novos produtos. Considerando as micro e pequenas fábricas, o Brasil tem mais 1.500 cervejarias em funcionamento atualmente, com perspectiva de chegar a 1.600 ainda neste ano. O setor foi um dos poucos que manteve o crescimento mesmo durante a pandemia da covid-19, e viu um aumento de 8% nas vendas do produto no ano passado. Além disso, o Brasil é o terceiro maior consumidor da bebida no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, em segundo, e da China, em primeiro.

Ao Correio, o presidente do Sindicato Nacional da Indústria das Cervejas (Sindicerv), Márcio Maciel, conta que o mercado passa por uma diversificação em nichos, com as empresas mirando setores específicos como as cervejas sem álcool, low carb e premium. O sindicato representa fabricantes de grande porte, como a Ambev e a Heineken.

Segundo Maciel, as cervejarias vêm de um crescimento nas vendas desde 2017, e o cenário deve se manter positivo nos próximos anos, com empresas investindo no mercado brasileiro e pensando em trazer novos produtos ao país. Ele enfatiza, porém, que a reforma tributária é importante para o setor, principalmente a simplificação dos tributos. Os altos nível de taxação impactam o setor. Uma lata de cerveja contém cerca de 56% de impostos, por exemplo. Leia, a seguir, os principais pontos da entrevista.

Setor em expansão

O setor de cervejas no Brasil está vindo de alguns anos com um crescimento bom. No último ano, a gente teve um crescimento de 8% em volume. De 2018 para cá, a gente tem tido uma recuperação relevante. Saltamos, nos últimos 10 anos, segundo o Anuário da Cerveja do Ministério da Agricultura, de 157 cervejarias no Brasil para 1.549. Temos a expectativa de passar de 1.600 neste ano. A gente ainda espera ter um crescimento para 2023, e as perspectivas são boas. Não deve ser tão vigoroso quanto foi nos últimos anos, mas a expectativa é, sim, de um crescimento relevante.

Nichos

Estamos começando a ver também o setor da cerveja cada vez mais se dedicando aos nichos. Há todo tipo de cerveja: parecida com champanhe, misturada com café, com frutas cítricas — que inclusive é um tipo exclusivamente brasileiro. São cervejas para todas as categorias de pessoas que querem beber, desde as alcoólicas até as sem álcool. Você tem as que a gente chama de low cost, as mais populares, até as com preços muito mais altos, que se assemelham a vinhos e outros tipos de bebidas.

Zero álcool

O setor de low and no (com baixo teor ou sem álcool) deve crescer bastante. Há uma década, o pessoal bebia cervejas zero álcool e dizia 'pô, não é a mesma coisa'. A inovação no setor foi tão forte que hoje tem cerveja zero álcool que é cerveja mesmo. Ao fim do processo de produção, é adicionada uma nova etapa que retira o álcool por diferentes formas, algumas por evaporação, outras usando um tipo específico de lúpulo. No Brasil, de 2019 para cá, a gente praticamente triplicou o volume de cervejas zero sendo vendidas. A gente saiu de 140 milhões de litros para 390 milhões no fim do ano passado.

Moderação

Quem bebeu uma cerveja zero recentemente viu que é igual a uma tradicional. Isso é muito bom. Permite que as pessoas que não podem ingerir álcool, ou não querem, possam ter a oportunidade de participar de uma celebração. Por exemplo, vou em um happy hour, mas vou dirigir depois. Posso tomar um produto que não vai me colocar em risco dirigindo. A gente diz muito no setor que, hoje em dia, a cerveja zero álcool é um convite à moderação, tema que as cervejarias trabalham há décadas. A gente deu mais essa ferramenta para o consumidor. Mundialmente, segundo a Worldwide Brewing Alliance, é um mercado que deve crescer em pelo menos um terço até 2025. O mercado está estimado em US$ 10 bilhões.

Cerveja low carb

Temos também as cervejas que a gente chama de low carb, que têm menos álcool e menos calorias, outro perfil de cervejas. A média de teor alcoólico é de 4,5%. Essas cervejas low estão em torno de 3% e com baixa caloria, normalmente menos de 70 kcal. Então são cervejas para você tomar saindo da academia, querendo algo para se hidratar, porque, querendo ou não, 96% da cerveja é água. Para quem tem esse estilo de vida mais fitness, quer consumir menos calorias, é um mercado que está crescendo em todo o lugar do mundo.

Reforma tributária

O setor é totalmente apoiador da reforma tributária e de todas as reformas estruturantes que melhorem a qualidade de vida do brasileiro, a capacidade de você gerar emprego, gerar renda, e produzir aqui no Brasil. O setor cervejeiro — e os números mostram isso — é parceiro da retomada econômica do Brasil. Na nossa cadeia produtiva são gerados mais de 2 milhões de empregos, do campo à mesa. O que for ajudar esse mercado a gerar mais empregos, é positivo.

Imposto simplificado

Na nossa avaliação, está sendo discutida hoje uma reforma que foca em melhores práticas internacionais. Simplificar sem aumento de carga funciona no mundo inteiro, então tem que funcionar no Brasil também. É totalmente inviável que, nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) você tenha 160 horas gastas por ano com compliance tributário, e no Brasil você tenha, em média, 1.500 horas. Imagine o custo que está envolvido.

Prejuízo geral

Esse é o cenário para as grandes produtoras de cerveja, que a gente representa. Mas as micro, pequenas e até médias cervejarias também sofrem com esse problema. Óbvio que com uma grandeza diferente. Tem uma pesquisa recente pelo Guia da Cerveja mapeando o cenário das micro e pequenas cervejarias no Brasil. 37% delas colocam a questão tributária como o principal problema. 'Ah, mas eles não estão na reforma tributária, eles estão no Simples'. Mas até quem está no Simples tem problema com o nosso cenário atual.

Projeções

As grandes cervejarias, talvez em um ritmo um pouco menor, vão continuar crescendo. Olhando as micro e pequenas, mais da metade delas ficaram no zero a zero em 2022, não obtiveram lucro. Isso é problemático para um setor que tem 1.600 cervejarias. A expectativa para 2023 é que esse cenário se reverta e elas acompanhem o crescimento das mainstreams de fora geral. Há uma expectativa de mais de 80% das micro e pequenas cervejarias de fato terem um crescimento para este ano. O nosso principal ponto de venda, que são bares e restaurantes, 33% segundo pesquisa da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) estão com perspectiva de contratar em 2023, o que é superpositivo. E a gente tem um ano cheio de eventos. Temos vários festivais, e 2023 foi o melhor carnaval de todos os tempos, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Mais de R$ 8 bilhões foram gerados na economia. A expectativa do setor é que seja um ano bom.

Investimentos

A expectativa é de que produtos novos, presentes em outros países, cheguem ao Brasil ao longo deste ano. O setor está investindo bastante. Uma associada nossa, neste mês, anunciou uma expansão com investimento de mais de R$ 2 bilhões em Pernambuco, em uma fábrica. Outra vai lançar a pedra fundamental de uma fábrica em Minas Gerais, com investimento de mais de R$ 1,8 bilhão. O pessoal está investindo no Brasil, porque entende que é um mercado que vai crescer.

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