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Diesel: suspensão de fornecimento pela Rússia pressiona inflação

Decisão da Rússia de suspender as exportações de diesel e gasolina pressiona Petrobras por reajustes de preço nas refinarias. Apenas em agosto, o país chefiado por Vladimir Putin foi responsável por mais de 70% das importações nacionais de diesel

A decisão da Rússia de suspender, na última quinta-feira, as exportações de diesel e gasolina, em meio a uma escassez interna desses produtos, deve impactar o mercado brasileiro e pressionar a Petrobras por reajustes de preços nas refinarias, o que pode ter efeito sobre a inflação. Sob sanções comerciais da Europa após a invasão da Ucrânia, os russos se tornaram, neste ano, o maior fornecedor externo de diesel ao Brasil, deixando para trás os Estados Unidos, tradicionais exportadores do combustível.

Apenas em agosto, o diesel russo foi responsável por mais de 70% do volume importado pelo Brasil, que ainda tem forte dependência externa, importando entre 25% e 30% de sua necessidade desse combustível.

A suspensão anunciada por Moscou tem o objetivo de enfrentar o aumento de preços no país governado por Vladimir Putin. No entanto, não foi estabelecido um prazo para o término das restrições. O preço da gasolina na Rússia disparou e alcançou máximas históricas na última semana, em parte devido ao enfraquecimento do rublo, além do aumento dos preços internacionais do petróleo e do período sazonal de manutenção de refinarias, que restringe a oferta.

Serão mantidas algumas exceções à suspensão, permitindo exportações apenas para países da União Econômica Eurasiática (formada por Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão e Quirguistão, além da Rússia) e para fins de ajuda humanitária.

"As restrições temporárias ajudarão a abastecer o mercado [interno] de combustíveis, o que levará a uma redução dos preços ao consumidor", informou o governo russo, em nota.

Impacto em diversos setores

A redução da oferta para países importadores e quaisquer aumentos de preço não são importantes apenas para os comerciantes de petróleo e caminhoneiros. O combustível do tipo diesel também é utilizado em navios e trens, bem como nos setores agrícola, industrial e de construção, alimentando vastas áreas da economia global.

O economista do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Otto Nogami ressaltou que, evidentemente, haverá uma reação em cadeia que impactará os preços aos consumidores e pressionará a inflação, dado o relevante papel que o diesel desempenha na economia. "A majoração dos preços do diesel irá impactar os custos de produção, bem como os preços dos produtos no varejo, o que pressiona para uma alta da inflação", afirmou Nogami.

Dependência da importação 

Segundo Mahatma dos Santos, diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), os reais impactos da interrupção para o mercado brasileiro dependem da extensão temporal da medida. "Apesar da expansão da cadeia produtiva de óleo de gás no Brasil, nas últimas décadas, ainda temos uma dependência significativa da importação de derivados do petróleo, por isso os preços dos combustíveis são bastante impactados pela volatilidade internacional", observou.

A Petrobras atingiu em agosto um novo recorde na produção de combustíveis, com as refinarias operando a 97,3% da capacidade total, marca que não era alcançada desde dezembro de 2014. A produção de diesel chegou a 3,78 bilhões de litros, a maior do ano.

O desempenho, porém, não foi suficiente para beneficiar diretamente o consumidor brasileiro, visto que o diesel registrou alta de 8,54% e a gasolina, de 1,24%, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país. O indicador aponta que os combustíveis já vêm, desde julho, em uma tendência de alta que deve persistir com a suspensão das exportações russas.

Paridade internacional

A inflação chegou a cair entre maio e junho, após a Petrobras anunciar o fim do Preço de Paridade de Importação (PPI), que vinculava seus preços ao mercado externo No entanto, a mudança não foi suficiente para conseguir baixar de maneira significativa o preço dos combustíveis, que voltou a subir em seguida, com o retorno da cobrança de impostos e também um reajuste anunciado pela estatal no último mês.

Para o diretor do Ineep, o principal gargalo para reduzir os preços é a dependência de insumos externos, como os derivados de petróleo importados da Rússia, e a falta de investimentos em refinarias. "Temos uma deficiência histórica na capacidade produtiva brasileira. Apesar de termos petróleo, há uma capacidade reduzida nos parques de refino, que hoje são propriedade privada no Brasil", observou Mahatma dos Santos.

Refinarias privadas vendem mais caro

Segundo dados do Observatório Social do Petróleo (OSP), desde o fim do PPI, refinarias privadas venderam diesel e gasolina 10% mais caro do que a Petrobras. Elas produziram 13% do total de gasolina nacional e 12% de diesel S-10. Para Eric Gil Dantas, economista da organização, o efeito da nova política de preços da petroleira tem que ser entendido como restrito à sua real dimensão no mercado. "Todas estas refinarias privadas vendem seus produtos com preços acima da Petrobras, acompanhando, ou muitas vezes até acima, os preços internacionais", disse.

Para Dantas, a "dependência externa de um produto que poderíamos produzir em solo nacional é sempre ruim". "Quando importamos diesel estamos exportando emprego. A situação é ainda mais dramática quando exportamos petróleo cru e importamos diesel. Somos autossuficientes em petróleo e, para eliminar a dependência externa bastaria expandir nossas refinarias", apontou.

Valdo Virgo - PRI-2509-COMBUSTIVEIS

  

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