Após um primeiro semestre com resultados melhores do que os esperados, economistas apontam perda de fôlego e, possivelmente, retração do Produto Interno Bruto (PIB) entre julho e setembro. A maioria dos analistas estima que a atividade econômica deve registrar queda de 0,3%, em relação ao trimestre anterior, no indicador que será divulgado nesta terça-feira (5/12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se concretizada, será a primeira queda da atividade desde o desde o segundo trimestre de 2021, marcado pelo início da recuperação da pandemia.
Tanto no primeiro trimestre deste ano, que registrou crescimento de 1,9%, quanto no segundo, que teve alta de 0,9%, o avanço da economia superou as expectativas do mercado. Nas duas vezes, o bom desempenho do agronegócio puxou os dados para cima, o que não deve se repetir agora.
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"A safra é sazonal, e foi o que impulsionou o PIB dos primeiros trimestres. A próxima safra será só no ano que vem e talvez não seja tão boa quanto a deste ano, principalmente devido aos efeitos do El Niño, que provocou chuvas muito fortes em algumas regiões e calor intenso em outras. Então, não teremos neste trimestre um resultado tão bom neste setor", observou Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.
Os dados que buscam antecipar o resultado do PIB já indicaram desaceleração da economia. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) fechou o terceiro trimestre em queda de 0,64% em relação ao segundo. Já dados do Monitor do PIB, apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), apontaram estagnação da economia no terceiro trimestre.
Serviços e comércio: mau desempenho
Segundo a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, a principal expectativa para o PIB do terceiro trimestre pelo lado da oferta ficará por conta do setor de serviços, marcado pelo mau desempenho do comércio. "O setor vem tendo dificuldade de crescer, em função dos juros ainda muito elevados e a cautela dos consumidores na compra de bens de maior valor e prazos de pagamento mais longos", afirmou.
Sob a ótica da demanda, a economista ressaltou que o consumo das famílias tende a desacelerar. "A inflação comportada, especialmente de alimentos e de bens duráveis, permitiu às famílias consumirem mais com o mesmo volume de recursos disponíveis, mas isso não se refletiu em aumento no volume de serviços prestados às famílias, e poucos segmentos do comércio apresentaram crescimento nos três meses encerrados em setembro", acrescentou.
Ainda sem efeito do Desenrola
Argenta destacou ainda que programas governamentais de estímulo, sobretudo o Desenrola, de renegociação de dívidas, não surtiram efeito durante o período em questão, impedindo a melhora das projeções para o comércio. "O Desenrola talvez tenha criado condições para o aumento do consumo no futuro", ressalvou.
A indústria permaneceu estagnado ao longo do ano. "Algumas atividades que foram cruciais, como as de extração e mineração, não conseguem recuperar a vitalidade que tinham há anos atrás. Algo difícil de ser revertido principalmente em um processo de desaceleração da atividade econômica", ponderou Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
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