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Saiba os prós e os contras na hora de investir na poupança

A mais antiga forma de investimento voltou a ser atrativa, com rentabilidade acima da inflação, e até mesmo melhor do que a Bolsa. Especialistas elencam vantagens, como baixo risco e liquidez, mas aconselham optar por outras modalidades

23% dos investidores do país ainda confiam na poupança para gerir seu dinheiro, diz pesquisa  -  (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
23% dos investidores do país ainda confiam na poupança para gerir seu dinheiro, diz pesquisa - (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
postado em 24/12/2023 19:00

A poupança é uma das opções de investimento mais populares entre os brasileiros. Em razão da facilidade de acesso e do baixo risco, muitas pessoas optam por guardar seu dinheiro na caderneta. No entanto, será que investir na poupança é realmente vantajoso? Especialistas explicam como está a modalidade de investimento e quais são as vantagens em optar por ela em 2024.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 23% dos investidores do país ainda confiam na poupança para gerir seu dinheiro. A modalidade é um investimento de renda fixa, em que o montante aplicado rende uma taxa pré-fixada, atualmente em 70% da Selic (taxa básica de juros). Essa característica garante estabilidade e segurança ao investidor, uma vez que o rendimento é previsível e o capital fica protegido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura até R$ 250 mil por CPF e instituição financeira.

Entre as outras vantagens da poupança, podemos citar a simplicidade e a liquidez. Abrir uma conta poupança é fácil e rápido, não sendo necessário ter grandes conhecimentos financeiros. Além disso, o dinheiro pode ser resgatado a qualquer momento, sem a necessidade de cumprir prazos ou pagar taxas.

Apesar de sua popularidade, a poupança tem algumas desvantagens importantes. A principal delas é o baixo rendimento. Quando a taxa Selic está em níveis menores, a rentabilidade da poupança acaba ficando abaixo da inflação, o que significa que o dinheiro aplicado perde poder de compra ao longo do tempo. Outro ponto a ser considerado é a falta de diversificação. Ao optar apenas pela poupança, o investidor está concentrando todo o seu capital em um único ativo, o que pode limitar as oportunidades de obter maiores ganhos a longo prazo.

Luciano Bravo, CEO da Inteligência Comercial e Country Manager da Savel Capital Partners, enfatiza que, mesmo com a pouca rentabilidade, a poupança é o investimento mais utilizado pelos brasileiros. "Sabemos que possuímos ativos melhores e mais atrativos, com melhor rentabilidade, porém está na cultura do povo brasileiro investir em poupança", explica.

Segundo Bravo, fazer um investimento, mesmo que ainda seja na caderneta, é importante. "Investir é um processo que nos traz grandes frutos. Precisamos traçar um objetivo, para darmos os primeiros passos na concretização do nosso objetivo, por meio do investimento", frisa. "A melhor forma de fazer isso é pelo seu banco de confiança ou com uma corretora de valores credenciada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários)."

ECO-Como investir
ECO-Como investir (foto: Valdo Virgo)

O assessor Bruno Rocio, da Raro Investimentos, por sua vez, afirma que a poupança está rendendo menos a cada ano. "Isso é um problema para os investidores que mantêm todos os recursos aplicados na caderneta. E não é apenas uma questão de ganhar menos do que já se ganhou no passado. A redução da rentabilidade da caderneta pode acabar levando a uma perda real de poder de compra", disse.

"Hoje, existem diversos outros investimentos de renda fixa que podem render mais do que a poupança. Ainda que envolvam riscos diferentes, eles podem ser atenuados. Temos, por exemplo, excelentes alternativas como CDBs (Certificados de Depósito Bancário), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), títulos públicos e fundos de renda fixa. Em relação aos resgates da poupança, parte tem sido reinvestida nesses outros produtos com possibilidade de rentabilidade maior, e a outra parte, para pagar dívidas, visto que mais de 78% das famílias brasileiras estão endividadas", explica.

De acordo com Rocio, a poupança pode ser uma alternativa para quem está no estágio inicial dos seus investimentos justamente por ser uma aplicação sem burocracia e não exigir uma grande reflexão — basta transferir os recursos da conta corrente para a caderneta. "Além disso, por não prever aplicação mínima, é uma alternativa para quem tem pouco dinheiro para investir."

Cuidados

Mesmo com a poupança sendo uma modalidade de investimento seguro, o especialista em investimentos aponta que pode haver problemas no caminho. "Acredito que a grande 'pegadinha' da poupança é que, embora tenha liquidez diária, a rentabilização do investimento na poupança funciona de um jeito diferente", frisa. "A remuneração da caderneta é creditada mensalmente apenas na sua data de 'aniversário', que é o dia do mês em que o depósito foi feito. Assim, uma aplicação realizada no dia 10 de um determinado mês só fará jus à remuneração exatamente no dia 10 do mês seguinte. Se resgatar o dinheiro no dia 9, perde-se todo o retorno do período", observa.

Na prática, segundo o assessor, não existe investimento mais viável ou mais rentável ou mesmo mais seguro. "Tudo depende de vários aspectos. O melhor investimento vai ser aquele que se adequa ao perfil de investidor da pessoa, que atende ao seu grau de risco, propósito e objetivos de curto, médio e longo prazo", aconselha o assessor. "O ideal é sempre ter uma carteira de investimentos diversificada que possa entregar uma boa consistência de rentabilidade ao longo dos anos. A composição dessa carteira de investimentos é bastante particular. Uma boa carteira, no fim das contas, é a que satisfaz as expectativas de rentabilidade e de prazo do investidor, ponderadas pela sua tolerância ao risco."

Andressa Camilo, especialista em renda fixa da Acqua Vero Investimentos, concorda que a poupança é um investimento de baixíssimo risco, mas que o investidor precisa ficar atento à sua rentabilidade, uma vez que ela pode não superar a inflação. "Isso significa que, em termos reais, o dinheiro investido pode perder poder de compra ao longo do tempo. Logo, é sempre importante diversificar os seus investimentos de forma a se expor a diferentes cenários macroeconômicos. Uma forma de fazer essa diversificação é escolher investimentos atrelados ao IPCA", explica.

E engrossa o coro sobre melhores alternativas para quando se está começando, como o Tesouro Direto, que permite investimentos a partir de R$ 30 e oferece uma gama diversificada de indexadores e prazos. "Outra opção viável são os fundos de investimentos. Nesse caso, é sempre importante entender a estratégia do fundo, uma vez que podem ter mais ou menos risco, maior ou menor liquidez."

A especialista ressalta, entretanto, que antes de mais nada é necessário fazer uma reserva de emergência em ativos com liquidez e baixo risco. Por exemplo, CDBs, LCIs, LCAs de liquidez diária, fundos de investimentos em renda fixa com liquidação em D 0 ou D 1 e Tesouro Selic. "O ideal é ter um valor equivalente a pelo menos seis meses das suas despesas fixas mensais. De qualquer forma, é essencial buscar um bom profissional para se orientar", opina.

Saiba como funciona o rendimento

Desde que foi criada, no século 19, pelo imperador Dom Pedro II, a poupança oferecia uma taxa de juros de 6% ao ano. Essa antiga regra estabelecia que o rendimento seria sempre de 0,5% ao mês, acrescido da variação da Taxa Referencial (TR). Como resultado, ainda existem aqueles que acreditam que a remuneração da poupança segue essa fórmula.

Atualmente, porém, não funciona assim. Em 2012, ocorreram mudanças nas regras de remuneração da poupança, que passaram a ser aplicadas em todos os bancos, garantindo um rendimento uniforme, independentemente da instituição financeira escolhida. A partir desse momento, foi estabelecido um mecanismo que ajusta o rendimento com base na Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira.

O funcionamento básico desse mecanismo é o seguinte: se a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será de 0,5% ao mês mais a variação da TR; mas se ela estiver igual ou abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento será equivalente a 70% da taxa básica mais a variação da TR.

Essa regra vale para os depósitos feitos a partir do dia 4 de maio de 2012, quando as novas regras passaram a valer. Quem mantém poupanças anteriores a essa data continua recebendo rendimentos como antigamente: 0,5% ao mês mais a variação da TR.

Segundo Andressa Camilo, especialista em renda fixa da Acqua Vero Investimentos, o rendimento da poupança é muito baixo. "A rentabilidade acumulada do Ibovespa foi de 20,01% em 2023. Descontando o IR (Imposto de Renda), a rentabilidade fica em torno de 17%. Já a poupança apresentou rentabilidade acumulada de 6,17%. Logo, muito inferior ao desempenho da Bolsa", explica.

A inflação acumulada do período foi de 4,04%; sendo assim, a poupança superou esse indicador, mas não ganhou da Bolsa, aponta. "No entanto, é importante salientar que são investimentos com propostas distintas: a poupança é mais interessante para investidores conservadores e com horizonte de investimentos mais curtos, ou seja, aqueles que precisam de liquidez imediata", enfatiza Andressa.

Para a especialista, no caso de investimentos como a poupança, é interessante manter recursos de curto prazo, "uma vez que há muitas opções com relação risco/retorno muito mais atrativos, como CDBs, LCIs, LCAs e fundos de investimentos em renda fixa".

Como calcular

Muitos brasileiros têm dificuldade na hora de calcular os rendimentos. A remuneração dos depósitos da poupança é estabelecida por meio de legislação e é composta por duas partes: a remuneração básica, que é composta da Taxa Referencial (TR); e a remuneração adicional de 0,5% ao mês.

A data de aniversário da conta de depósito de poupança corresponde ao dia do mês em que ela foi aberta. No caso das contas abertas nos dias 29, 30 e 31, considera-se o dia 1º do mês seguinte como essa data. Já a remuneração dos depósitos de poupança é creditada ao fim de cada período de rendimento.

Ou seja, elas podem ser mensais, na data de aniversário da conta, para os depósitos de pessoa física e de entidades sem fins lucrativos, ou trimestral, na data de aniversário, no último mês do trimestre, para os demais depósitos.

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