Os efeitos dos algoritmos de recomendação sobre o debate público têm ampliado a discussão sobre o papel da inteligência artificial na dinâmica democrática. Segundo Elaine Coimbra, professora e vice-presidente de comunicação e marketing da Associação Brasileira de Inteligência Artificial (Abria), o modo como esses sistemas operam explica a centralidade de conteúdos de forte carga emocional na circulação digital.
Para ela, o ponto central é entender como os algoritmos funcionam. "Eles não têm posição política nem intenção oculta. Eles têm um objetivo muito simples: reter a nossa atenção. E quando essa é a métrica dominante, emoções fortes acabam tomando o palco. Raiva, indignação, choque, sentimento de confronto, tudo isso mantém o usuário preso na tela por mais tempo. O algoritmo aprende rápido. Se você interage com um conteúdo mais "quente", ele interpreta isso como um sinal e te entrega mais do mesmo," explica.
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A produção e disseminação de desinformação também se transformaram com o uso de modelos generativos. Elaine explica que textos, imagens e áudios sintetizados se confundem com registros reais para grande parte da população. O estudo chamado "Adolescentes, confiança e tecnologia na era da IA", divulgado no início do ano e feito com base em uma pesquisa com mais de 1 mil adolescentes dos Estados Unidos, com idade entre 13 a 18 anos, mostrou que 41% deles estão cientes de terem visto imagens ou vídeos que eram reais, mas no final eram enganosos.
Coimbra explica que há sinais que podem ser detectados e padrões na escrita feita por IA. "Padrões de escrita anormais ocorrem em alguns textos que têm baixa variedade de palavras e estrutura muito regular, isso são sinais estatísticos. Nas imagens também há falhas visuais como reflexos, sombras, mãos com mais dedos, iluminação e ângulos impossíveis. Mas elas estão evoluindo ainda mais! E vai ser cada vez mais difícil detectar deepfakes," disse a professora.
A avaliação de vieses presentes nesses sistemas depende de processos estruturados de auditoria. Elaine descreve que uma das técnicas utilizadas é a investigação "caixa-preta", baseada na criação de perfis artificiais para observar como as plataformas moldam seus fluxos de recomendação. A abordagem revelou padrões de radicalização gradual, em que interações iniciais levam a conteúdos mais intensos.
Debate
Esses temas estarão no centro do debate promovido pelo Correio em 10 de dezembro de 2025, dentro do evento CB Debate Desafios 2026: o protagonismo do Brasil no cenário mundial.
A programação inclui o painel "Democracia sob algoritmo: IA e a polarização em tempos de desinformação". O evento contará com transmissão ao vivo a partir das 9h.
*Estagiário sob a supervisão de Veronica Soares