Nova diretrizes da educação

Aprender do lado de fora

Atividades ao ar livre podem tornar o ensino mais atrativo para as crianças

Tainá Seixas
postado em 02/09/2020 19:05 / atualizado em 02/09/2020 19:56
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press               )
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press )

Buscar novas formas de aprendizagem e de transmissão do conteúdo formal está entre os desafios diários enfrentados por professores e gestores nas escolas. Uma das maneiras possíveis de se fazer isso é mudar o ambiente de estudos. Nesse sentido, aulas ao ar livre, que incentivem o contato com a natureza, podem ser uma opção — e até mesmo recomendada em alguns casos, diante do contexto de enfrentamento da pandemia de covid-19.

Paula Mendonça, assessora pedagógica do programa Criança e Natureza do Instituto Alana, explica que as crianças em meios urbanos passam a maior parte da infância em ambientes fechados, devido a diversos fatores — como segurança, rotina intensa de atividades, falta de acesso a espaços abertos ou o trabalho dos pais —, o que pode trazer prejuízos ao desenvolvimento integral delas.

“A obesidade infantil, atrelada a uma alimentação inadequada, por exemplo, é um resultado disso. A vida sedentária, somada a um aumento absurdo no uso das tecnologias, tudo isso forma uma equação do confinamento da infância e alerta para a necessidade do desemparedamento das crianças”, detalha a especialista.

Para o pedagogo Júlio Furtado, mestre em educação e doutor em ciências da educação pela Universidade de Havana, o ensino ao ar livre possibilita não só essa vivência fora de quatro paredes, mas, também, um aprofundamento do conteúdo, por ser uma forma mais inspiradora de ensinar.

“O ensino fora da sala de aula é a possibilidade de o professor romper um pouco com o ensino tradicional, citação de exemplos, livro didático e quadro-negro, que é muito restrito a quatro paredes. Com o tempo, temos observado que esse tipo de ensino tem sido desinteressante para crianças e adolescentes. Sair da sala de aula possibilita uma série de experiências que enriquecem a aprendizagem. A criança fora da sala de aula estará em contato com o mundo”, argumenta.

Uma das abordagens deste tipo de aprendizagem é a aula-passeio, em que as crianças são transportadas para outros ambientes, onde possam vivenciar conteúdos aprendidos na sala de aula tradicional. Observar relevos de montanhas e planaltos é uma oportunidade de aprender o conteúdo de geografia, por exemplo. Assim como contemplar a natureza pode ajudar a entender sobre ciências naturais. E até visitar museu ou teatro para ensinar português ou artes.

O momento de combate à covid-19 exige, no entanto, cautela na realização de algumas atividades. É preciso pensar em formas de locomoção e em tarefas que não gerem aglomeração e que permitam seguir as medidas sanitárias de prevenção. Por outro lado, mudar de ambiente e ir para um espaço aberto próximo de casa ou da escola pode ser uma alternativa.

“Um professor de português pode dar aula debaixo de uma árvore e apenas conversar sobre o tema que conversaria dentro da sala de aula. Não tem a ver com a conexão direta com o tema, mas com a ambiência, que vai propiciar aos meninos uma relação diferente com o conteúdo, uma inspiração. Nesse momento de pandemia, acreditamos que essa modalidade de sair da sala de aula seja muito mais indicada”, explica Furtado.

Brincar é desenvolver
Durante esse momento de distanciamento social, a secretária Janaina Amorim, 35 anos, vê nas atividades ao ar livre uma forma de minimizar o estresse causado pelo confinamento e de manter os filhos ativos. Fernanda, 3, e João Antonio, 1, têm tido atividades remotas das creches em que estão matriculados por meio de tablets e computadores e fazer os passeios é uma forma de limitar o uso de tecnologias.

“Eu acho extremamente necessário o contato da criança com a natureza, faz parte da criação. O contato com a natureza favorece uma troca de energia fundamental”, relata a mãe. Além disso, ela avalia que é uma forma de aproximá-los à rotina da creche. “O contato com a natureza é um bom complemento às atividades pedagógicas. Na escola, sempre tem o parquinho, tem a areia, um lugar aberto. Eu acho que faz parte da necessidade de desenvolvimento da criança.”

Neuma da Silva, 49 anos, é quem toma conta dos netos João, 4, e Miguel, 3, durante o dia, enquanto os pais trabalham. Embora esforce-se para mantê-los entretidos por meio de diversas atividades pedagógicas, ela considera que sair ao ar livre tem importância fundamental no desenvolvimento deles. “Faço tudo o que você pensar com eles em casa: pinto, bordo, conto historinhas e os deixo desenharem, riscar parede, chão, tudo o que têm direito. Mas é muito importante o contato com a natureza”, avalia a dona de casa.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Mais segurança

 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press                )
crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press

Em meio à crise sanitária e a discussão de reabertura das escolas, o ensino ao ar livre ganha importância ainda maior. A taxa de transmissão do coronavírus reduz significativamente em lugares abertos, onde o ar circula mais — reduzindo a probabilidade de gotículas contaminadas com o vírus estarem suspensas — e é um ambiente favorável para as pessoas manterem-se distantes umas das outras.

O Instituto Alana elaborou um documento orientando como o ensino ao ar livre pode ser uma solução adequada na retomada das atividades escolares presenciais. Para a assessora pedagógica da entidade Paula Mendonça, é necessário uma ação conjunta de diferentes setores da sociedade para viabilizar essa retomada. As áreas de saúde, educação, assistência social, urbanismo, meio ambiente e mobilidade precisariam trabalhar juntas para tornar segura a volta às aulas.

“As crianças voltarão ainda mais fragilizadas, com seus corpos muito mais sedentários, uma saúde mental possivelmente abalada. Acreditamos que a natureza e as experiências ao ar livre proporcionarão bem-estar, tanto a elas quanto aos próprios educadores e educadoras. A gente acredita que, garantindo uma boa higienização das mãos e uso de máscaras, o melhor lugar para as crianças estarem é do lado de fora”, avalia.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também elaborou um protocolo que elenca diversas medidas recomendadas para a reabertura das escolas. Entre elas, está a sugestão de que as aulas sejam transferidas para o ar livre.

Recomendações para as famílias

1 Mantenha as crianças ativas fisicamente

2 Explore a natureza próxima para aprimorar a capacidade natural de pesquisar e investigar o
que estiver ao alcance da criança

3 Cultive plantas

4 Leia sobre o mundo natural: mergulhe nos livros e torne-se um aventureiro de sofá

5 Use telas ao seu favor e priorize conteúdos informativos e pedagógicos

6 Aposte no brincar livre: a quarentena é uma oportunidade para praticar ou aprender a habilidade
de brincar com autonomia

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação