Nova diretrizes da educação

Por dentro do aprendizado

Pedagogos recomendam avaliação holística dos conhecimentos adquiridos pelos alunos e que leve em consideração o contexto em que estão inseridos

Augusto Fernandes
postado em 02/09/2020 19:31 / atualizado em 02/09/2020 19:51
 (crédito: Mônica Felix/Divulgação)
(crédito: Mônica Felix/Divulgação)

O distanciamento físico entre professores e alunos tem modificado as relações de ensino e aprendizagem. Todos tiveram de se adaptar rapidamente a um ambiente virtual de educação. E esse contato a distância trouxe reflexões importantes, uma delas é como avaliar o aprendizado de um aluno sem estar frente a frente com ele. A que deve servir uma avaliação nesse contexto?

Mestre em educação e doutor em psicologia, o professor do Departamento de Planejamento e Administração da Universidade de Brasília (UnB) Cleyton Gontijo frisa que é necessário que o aluno seja avaliado por uma perspectiva mais holística. “Primeiro, o professor tem de entender o aluno. Saber as condições que essa criança ou esse adolescente tem para estudar e demonstrar aprendizado, ainda que seja complexo em função da quantidade de estudantes”, observa. “Depois disso, o professor tem de conhecer quais foram as possibilidades de material didático a que esse aluno teve acesso. Assim, o educador pode tentar personalizar ao máximo as ações de ensino e de avaliação, aplicando tarefas específicas para cada um”, explica.

Cleyton acrescenta que, dependendo da idade e da etapa de escolarização dos estudantes, os professores podem tentar conversar em particular com cada aluno e falar sobre as atividades. “Se ele simplesmente passar o dever e essa atividade for desenvolvida sem nenhum tipo de supervisão por parte da escola, não há como se certificar de que o aluno, de fato, assimilou o conteúdo.”

O método de avaliação que considera apenas o produto final elaborado pelo aluno é algo que os professores devem mudar, comenta a pedagoga Débora Garofalo, mestranda em educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e assessora especial de tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.

“A escola precisa priorizar uma educação integral. Ou seja, observar o quanto o aluno evoluiu durante o ano letivo”, destaca Débora, acrescentando que a nova forma de o professor julgar os conhecimentos do aluno, forçada pela pandemia, deixará lições para o futuro, quando as escolas deverão repensar os caminhos de como contribuir para a evolução dos estudantes.

“Nós devemos promover uma educação com valores integrais, em que o professor escute mais o seu aluno e permita que ele participe da construção do planejamento didático. O professor não precisa direcionar tudo o tempo todo. Os novos tempos trarão a oportunidade de nós refletirmos não apenas sobre a forma de avaliação dos alunos, mas também sobre a tematização do professor, de forma que ele reveja a sua prática pedagógica em sala de aula e promova uma educação que seja realmente para todos”, observa a pedagoga.

Motivação
Dar espaço para os estudantes é o que o professor de sociologia Osvaldo Lima, 44 anos, tem tentado fazer em meio ao atual cenário para que os alunos não deixem a aprendizagem escolar de lado, a despeito das adversidades.

Ele atua na rede pública de ensino do DF e dá aulas para cerca de 480 jovens do 3º ano do ensino médio do Centro Educacional 6 de Ceilândia, e já ouviu relatos de estudantes que perderam algum ente querido por conta da doença, de alunos que tiveram de mudar de endereço para tentar se proteger da pandemia, de jovens com os mais variados tipos de transtornos familiares e, sobretudo, de adolescentes que não têm condições de participar das aulas on-line.

“Não é o momento de ficar cobrando nota, presença e postura do aluno. Estamos vivenciando situações que fogem ao controle de qualquer disciplina. Como eu vou ser exigente com uma aluna que tem a família inteira com covid-19? É muito injusto pensar na ideia de que todos vão conseguir aprender da mesma forma”, reconhece Osvaldo.

Diante dessa realidade, o professor prefere ser mais atencioso com o bem-estar dos estudantes. Ele criou um formulário virtual para que os jovens pudessem expressar as angústias que estão sentindo por conta da pandemia e escreveu uma carta a todos para demonstrar a sua preocupação e dizer que estará ao lado dos jovens.

“O trabalho tem sido o de motivar os alunos. Em cada aula, eu peço que eles liguem o áudio e a câmera e deem um ‘bom dia’. O atual momento nos leva a repensar algumas coisas. Para mim, ajudar os outros a crescer é a coisa mais interessante. Espero que, dessa forma, eles mantenham a esperança e a alegria de seguirem estudando.”

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Como avaliar os alunos em meio à pandemia

Com questionários personalizados para cada aluno;

Com atividades com questões subjetivas que levem o aluno a usar a própria experiência para resolvê-las;

Com projetos que priorizem a participação oral do estudante;

Com um portfólio de todas as tarefas produzidas pelo adolescente durante o período de ensino virtual;

Com trabalhos que estimulem o protagonismo do estudante;

Com jogos e ferramentas lúdicas que explorem a criatividade
do jovem;

Com aulas que permitam ao aluno compartilhar como ele está lidando com a crise sanitária.

Fontes: Cleyton Gontijo e Débora Garofalo.

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