VOLUNTÁRIOS DA ESPERANÇA

Pessoas de todas as regiões do DF levam alegria e conforto aos hospitais

Rede de solidariedade reúne pessoas de todas as regiões do DF em trabalho voluntário em hospitais da cidade

Edis Henrique Peres
postado em 21/04/2021 00:00 / atualizado em 21/04/2021 18:43
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

As segundas-feiras, não importa de qual ano, mês ou clima do dia, seguem a mesma rotina para Gracilda Maria Duarte da Costa, 77 anos, moradora da Asa Norte e artesã. Há 21 anos, Cilda, como é conhecida, se levanta pontualmente e, cheia de alegria, vai prestar serviço voluntário ao Movimento de Apoio ao Paciente com Câncer (MAC). A artesã é responsável por contribuir com parte do café da manhã doado pelo MAC aos pacientes da Oncologia do Hospital de Base.

Os preparativos começam no domingo à noite. Cilda vai até uma horta do condomínio, no qual estão plantados a cidreira e capim-santo, colhe as folhas e as separa, coloca em uma jarra de água e escolhe a panela na qual, na manhã de segunda-feira, vai preparar 5 litros de chá. Enquanto o conteúdo ganha fervura, Cilda monta 40 pães recheados com requeijão. Após tudo pronto, embala os pãezinhos em sacos plásticos, higieniza tudo e leva o café da manhã para o MAC, onde a equipe de voluntários chega às 8h.

Além do chá e pães preparados por Cilda, há sucos, leite, café e bolos, que são doados por outros integrantes do movimento. Devido à pandemia, e por ser do grupo de risco, Cilda não participa do momento de entrega dos kits de café da manhã preparados por ela e por outros voluntários, mas o seu trabalho é recebido com muita alegria pelos pacientes que aguardam uma consulta ou tratamento. Missão cumprida!

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“É um serviço muito gratificante, e todos nós chegamos muito alegres, felizes. Na Páscoa, por exemplo, o grupo preparou ações especiais para os pacientes. Ainda me lembro do dia em que comecei, foi em 3 de março de 1999 e, desde lá, nunca parei. O MAC é um lugar especial, com pessoas muito especiais. Não vejo a hora de a pandemia acabar e eu poder voltar a entregar pessoalmente, a realizar as ações presenciais. Por enquanto, a gente fica nos bastidores ajudando como pode”, conta Cilda.

Mas o trabalho de Cilda não para no café. A a voluntária entregou para o MAC mais de 500 máscaras de tecido confeccionadas por ela mesma, para a proteção da covid-19, todas doadas para pacientes do Hospital de Base. “A gente tem como ajudar e fazemos o possível, damos aquele agrado, escutamos, pegamos na mão, damos alento. E eles agradecem e muito, estão muito felizes com o nosso trabalho. O nosso café da manhã é conhecido em todo o hospital quando a gente chega, vem logo enfermeiro, médico, paciente, todo mundo para conversar, aproveitar essa conexão amorosa. É uma delícia”, ressalta.

O movimento nasceu em 1992 e atua em diversas frentes do hospital. Além de levar lanches para pacientes e acompanhantes, o grupo recolhe doações e distribui cestas básicas para as famílias em vulnerabilidade social. “Somos uma instituição filantrópica que ajuda pacientes oncológicos mais vulneráveis, buscamos a melhor maneira de ajudar”, explica a presidente do MAC, Regina Selma de Sousa.

Regina conta que o grupo faz também distribuição de 120 cestas básicas por mês, além de contribuir com a passagem dos pacientes, medicamentos e auxiliar nos exames. “A situação deles é muito complicada, nem sempre conhecem o caminho mais fácil para conseguir um exame, por exemplo. A gente age nessa parte. O Base recebe muitos pacientes, até mesmo de outros estados, para a quimioterapia e radioterapia. Muitos ficam internados. Nós distribuímos kit de higiene, roupas, barbeador, toalhas e xampus”, enumera.

Experiência e suporte

Do outro lado da capital do país, em Ceilândia, Adson Montalvão, 47, presta também serviços voluntários. A rotina é seguida em três dias da semana: segunda, terça e sexta-feira. Às 6h40, Adson está na parada para pegar o ônibus que o levará até o Hospital Regional de Brazlândia (HRBz), onde atua como enfermeiro. O voluntário se formou em enfermagem em 2018 e atua no HRBz desde maio de 2020. Por volta das 7h30, Adson já começa a atuar no regional, onde é responsável pela triagem dos pacientes. O voluntário é um auxílio fundamental para aliviar a sobrecarga sentida no sistema de saúde devido à crise sanitária causada pelo Sars-CoV-2.

“No hospital, fico classificando os pacientes. Se eles estão com saturação abaixo de 92%, a gente já encaminha para a internação. Mas também fazemos outras atividades, como ajudar na intubação, por exemplo. E essa é a profissão que eu escolhi. Gosto de atuar nessa área”, conta o enfermeiro.

“É uma oportunidade de conseguirmos experiência e é muito gratificante. Quando nos formamos, ainda conhecemos pouco, estamos perdidos, e, de repente, eu estava atuando na linha de frente de combate à covid-19. Para o enfermeiro, é fundamental que mais pessoas entendam o trabalho voluntário. “Todo mundo que está lá é muito dedicado, doamos nosso tempo e esforço, e tudo que fazemos é com amor”, esclarece.

Outra voluntária do HRBz é Priscilla de Souza Barreto, 39, moradora de Brazlândia e tecnóloga em radiologia. “Eu conheci o programa de voluntariado por intermédio de uma amiga que trabalha no hospital. Foi uma oportunidade para que eu tivesse uma experiência na área, pois sempre que procuramos emprego, eles exigem experiência. Aqui está sendo um aprendizado, tanto profissional como humanista, muito grande”.

Como funciona

Ao lado de Núbia Andrade e Margarete de Oliveira, Layane Ribeiro é responsável pela coordenação do voluntariado nos hospitais regionais de Ceilândia (HRC) e Brazlândia (HRBz). Layane explica que existem dois tipos de atuações de voluntários nas regionais. “Temos o voluntariado composto por profissionais formados em diversas áreas que pretendem auxiliar o hospital na área da sua formação. E temos também o voluntariado social, que desenvolve a função de apoio, com atividades lúdicas e outras atividades feitas dentro dos hospitais para acolher os pacientes”.

Os voluntários têm a liberdade de escolher os dias e horários em que podem atuar. Depois disso, se organiza uma escala com os profissionais.


Contatos

MAC
» Regina Selma: (61) 99355-9266 (61) 3550-8900, ramal 9029

Atendimento: segunda a sexta das 7h30 às 12h e das 14h às 16h30

Doações
Banco de Brasília (BRB)
Agência: 0215
Conta corrente: 600722-0

Companhia Sagrado Riso
» Alessandra Vieira: (61) 99319-3636

» Camila Modicoviski: (61) 98112-6126

Abrace
» (61) 3212-6000

 

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Alegria que cura

 (crédito: Arquivo Pessoal)
crédito: Arquivo Pessoal

A roupa colorida é um ímã que atrai os olhares de crianças, adultos, médicos e faxineiros. A ponta do nariz pintada de vermelho e o jeito expansivo, por vezes desajeitado, é motivo para boas risadas. Os grupos de palhaçaria fazem falta aos pacientes do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB).

Devido à pandemia causada pelo novo coronavírus, a última apresentação dos grupos de palhaçaria nos hospitais foi em 2019. Mas a equipe dos Doutores com Riso, um grupo de voluntários exclusivos da Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadores de Câncer e Hemopatias (Abrace), tenta driblar a distância com videochamadas com as crianças do HCB.

Patrícia Carvalho Andrade, 37, mais conhecida como Doutora Zenhoca, explica que, com a questão da pandemia, o grupo realiza atendimentos virtuais. “A gente usa as ferramentas digitais para fazer teleconsultas com as crianças e também publicamos alguns vídeos nas redes sociais. Claro que a distância não é a mesma coisa que o presencial, a criança se dispersa mais rápido. No celular, a gente não consegue chamar tanta atenção. Mas é um momento importante. Ao receberem a ligação, eles se sentem importantes, querem conversar. Muitas vezes, nem conseguimos fazer algum tipo de brincadeira, o que eles querem mesmo é contar o que está acontecendo, interagir. Vai muito do momento, do que a criança está precisando”, explica.

Atualmente, o grupo possui 25 Doutores com Riso que atuam no HCB. Patrícia é uma das voluntárias desde 2014. “Comecei no grupo de contadores de histórias. Em 2018, fiz o curso dos Doutores com Riso para ser a Doutora Zenhoca. E é uma experiência incrível, a gente sente prazer em levar um pouco de alegria e amor para as crianças. Quando eu saio de lá, a sensação que fica é do tanto que os meus problemas são pequenos, porque, por exemplo, tem crianças de 2 anos em batalhas contra o câncer. Passamos a ver a vida com outros olhos e dar valor a cada detalhe”, conta Patrícia.

Fazer rir

No Hran, um dos grupos com grande histórico de atuação são os palhaços da Companhia de Circo-Teatro Sagrado Riso. Responsável pelo projeto, Alessandra Vieira, explica que a última apresentação do Sagrado Riso em unidades hospitalares foi no fim de 2019, no Hospital de Pronto Atendimento Psiquiátrico (Hpap). Por conta da crise sanitária, os projetos estão suspensos .

Gestos de acolhimento

A professora do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB), Larissa Polejack, explica que o acolhimento é um dos pilares fundamentais para a recuperação de pacientes internados. “Quando a pessoa tem um problema de saúde, e fica em internação, cresce nela o sentimento de vulnerabilidade. E isso fragiliza a saúde. Por isso, é fundamental que saibamos que não estamos sozinhos. O afeto, o carinho e a atenção são igualmente terapêuticos, assim como o tratamento que a pessoa precisa realizar”, explica Larissa.

A professora destaca que os gestos de acolhimento têm um efeito clínico real. “Por exemplo, o caso da médica reumatologista que fez o prontuário afetivo no Hospital Universitário de Brasília (HUB), no qual as pessoas deixavam de ser apenas um quadro clínico e se tornavam um indivíduo com um histórico, pois estava claro que tal paciente gostava de samba, outro de futebol, outro de forró. Isso serve para que as pessoas se envolvam”, esclarece.

Diferença

Os benefícios listados por Larissa incluem alívio do estresse e diminuição da ansiedade. Mas não apenas cuidar do outro e levar acolhimento ajuda os pacientes, como é um recurso para a proteção da saúde mental do próprio voluntário que se disponibiliza a fazer o gesto de solidariedade. “A ação do indivíduo se sentir útil para alguém, participar de um grupo e estar inserido em uma realidade também é protetivo. Com essa realidade dura que estamos vivendo, é essencial que a gente saiba que podemos fazer a diferença na vida de alguém, cada um levando aquilo que tem de melhor para oferecer, seja música, poesia ou reforço afetivo”, sugere. Larissa destaca que mesmo que as pessoas não possam atuar nos hospitais, há outros caminhos, mesmo a distância, e que fazem a diferença.

Foi do cuidado e incentivo à leitura dentro de casa, por exemplo, que Adriana Cruz Vaz criou o grupo Pé com Pé, que realiza a contação de histórias musicalizadas no Hospital da Criança (HCB). “Escolhemos roupas bem coloridas, fazemos dinâmicas para crianças e familiares interagirem. É muito bacana, porque a questão da internação mexe muito com o psicológico do acompanhante e sentimos que nosso trabalho ajuda. Estamos sentindo falta dessas ações presenciais”, finaliza.

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