UM AUXÍLIO LUXUOSO

Professores e alunos da UnB se unem para consertar respiradores e produzir máscaras

Professores da UnB se unem para consertar respiradores dos hospitais e produzir máscaras faciais destinadas a profissionais de saúde. Alunos também fazem parte do projeto

Um pouco de ar para respirar e proteção para seguir respirando. No combate à pandemia do coronavírus, garantir esse mínimo virou um sinal gigante de solidariedade. E foi para ajudar nesse esforço que professores e alunos da Universidade de Brasília (UnB) passaram a dedicar parte considerável de seu tempo para consertar respiradores nos hospitais ou fabricar face shield (ou protetores faciais, em tradução livre) para médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes da segurança pública. Um presente para os 61 anos de Brasília.

Um desses casos é o do professor de engenharia elétrica Edson Hung, que circula por hospitais públicos consertando respiradores. O trabalho é perigoso, pois acontece dentro das chamadas zonas vermelhas, onde ficam pacientes com coronavírus. Hung começou a trabalhar nos reparos em 2020, com uma equipe em um projeto do Senai. O grupo recebeu 99 equipamentos e conseguiu devolver 66 funcionando. Mas o serviço foi encerrado no fim do ano passado. Ele continuou por conta própria, após ser chamado por hospitais.

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O engenheiro destaca que a Secretaria de Saúde tem equipamentos novos, dentro da garantia, que são trocados quando apresentam problemas, e outros com contrato de manutenção. Cabe ao professor orientar, nesses casos, para que chamem a autorizada, ou que peçam a troca, além de fazer funcionar os respiradores mais antigos que datam do período de 2013 a 2016 (são cerca de 200). Entre eles, há até alguns consertados no trabalho de 2020, mas que pararam devido ao extenso tempo de uso. “Em alguns casos, quando dá perda total, desmonto e reaproveito as peças que ainda estão boas”, explica.

Além de desmontar, trocar as partes quebradas, montar, testar e devolver, às vezes o engenheiro mal termina o trabalho e o aparelho já é requisitado para o uso. “A manutenção é feita no hospital. Cada unidade arruma um local para esse trabalho. No geral, é no centro cirúrgico, que tem pontos para ligar a máquina e testá-la. Alguns centros viraram Ala Covid. E grande parte do trabalho é na compra das peças necessárias. Eu vou ao hospital, vejo qual está parado, o que falta para ele voltar para o sistema. Tenho que especificar cada peça e fazer a compra”, conta.

Ele teve ajuda da professora Andréa Cristina dos Santos, do Departamento de Engenharia de Produção, da área de engenharia do produto da Faculdade de Tecnologia da UnB, para começar a captar recursos para a compra. Andréa trabalha na produção dos protetores faciais com alunos em um laboratório de impressão 3D e também precisava de verba para imprimir as máscaras de proteção para os funcionários da Saúde. Parte do dinheiro vem de ações do Ministério Público do Trabalho (MPT) em processos em que o condenado precisa pagar multas e pode revertê-las em prol dos dois trabalhos. A UnB também criou um fundo para doações.

“Eles (o MPT) reverteram multas de causas trabalhistas para o projeto. Em vez de pagar a multa para o governo, paga para o projeto. As peças são caras, complicadas. A UnB montou um fundo para receber doação (veja Quadro). O trabalho, nesse caso, é muito efetivo. Semana passada eu consertei um ventilador, 30 minutos depois, já levaram. Consertou, saiu. Tem alguns que ficam de reserva, que eu conserto e deixo em uma fila. No Hran (Hospital Regional da Asa Norte), dos últimos cinco que consertei, três ficaram de reserva e outros foram para uso”, afirma.

Proteção facial

Andréa Cristina e um grupo de alunos conseguiram montar protetores faciais suficientes para um estoque seguro. Mas a ação custou muitas horas de trabalho no Laboratório Aberto da Faculdade de Tecnologia. Lá, a professora e estudantes imprimiram milhares de suportes, lixaram e montaram as máscaras. Processo cansativo, repetitivo, mas fundamental para quem atende os doentes nos hospitais. Os equipamentos não servem se o profissional não estiver usando uma máscara cobrindo boca e nariz, mas ajudam a proteger os olhos e o restante do corpo de gotículas contaminadas. As atividades começaram em março, em três turnos para manter a produção constante.

Com o tempo, o laboratório conseguiu novas impressoras, e foi possível intensificar o trabalho. “Já trabalhávamos com produção de protótipos, polímeros, e tinha um aluno que trabalhava no laboratório e que, no início da pandemia, falou que tinha uma empresa que produzia os protetores na Europa, e a gente poderia fazer algo semelhante. Como é um dispositivo que vai para dentro do hospital, começamos a fazer testes. Não podia entregar qualquer produto”, recorda Andréa.

No início, o grupo levava uma semana para produzir 50 protetores faciais. Foi nessa etapa que Andréa e Hung se juntaram para ir atrás de recursos. O grupo teve ajuda da Casa Thomas Jefferson, do Conselho de Desenvolvimento Econômico do DF e do próprio Exército. Depois, entraram em um edital do GDF que também garantiu recursos para o trabalho. “Foi um período em que não parei. Tive ajuda de alunos da engenharia, alguns no início do curso, que saíram de casa em um período no qual as pessoas já alertavam para não sair. Eu disse que tinham que conversar com familiares para fazer o trabalho. Conversamos com médicos e infectologistas para nos precavermos também”, relata.

Ao todo, o grupo conseguiu produzir 25 mil protetores faciais dentro da UnB. Além de profissionais de saúde, hospitais e da polícia, os estudantes também entregaram protetores faciais para as unidades de internação, para o sistema prisional e para carroceiros.


Você pode!

Quem quiser fazer doações para ajudar o fundo de pesquisas para o combate ao covid-19 na UnB pode fazer depósitos na conta:

» Banco do Brasil S.A.

» Agência: 3382-0

» Conta Corrente: 7.274-5

» CNPJ: 37.116.704/0001-34

» Também é possível escolher a categoria de ajuda pelo endereço https://www.finatec.org.br/doacoes-apoio-pesquisas