CHAMPIONS LEAGUE

Milagre geopolítico

Entenda por que a vaga inédita do PSG para a final tem sabor de título para o mecenas Catar na corrida contra os Emirados Árabes Unidos, parceiros do Mancester City. Decisivo, Neymar está perto do bi pessoal

Marcos Paulo Lima
postado em 18/08/2020 23:54
 (crédito: Manu Fernandez/AFP)
(crédito: Manu Fernandez/AFP)

A classificação inédita do Paris Saint-Germain para a final da Champions League no domingo, às 16h, contra Bayern de Munique ou Lyon, é mais do que uma vitória pessoal de Neymar, jogador mais caro da história do futebol, e do clube francês. Há um forte impacto geopolítico na guerra de vaidades entre dois países vizinhos na região do Oriente Médio.

Sede da Copa de 2022, o Catar é o responsável pelo sucesso do PSG. Em 10 anos, o projeto da QSI (Qatar Sports Investment) liderado pelo xeque Tamim bin Hamad Al-Thani investiu mais de um bilhão de euros no sonho de levar o time de Paris ao status de símbolo da ostentação financeira da pequenina nação de 11,581 km2 e 2,8 milhão de habitantes — menos do que a população do DF. Do total, 222 milhões de euros (R$ 1,5 bilhão) foram investidos na compra de Neymar.

Considerado o “patinho feio” da região, o Catar ousou peitar o vizinho Emirados Árabes Unidos, dono do City Group. A multinacional da bola é proprietária do Manchester City, na Inglaterra; do New York City, nos Estados Unidos; e do Girona, na Catalunha.

Como se não bastasse a corrida pela produção de petróleo e gás natural, pelo turismo, poder de influência na região e até entre duas das melhores companhias aéreas do mundo — Emirates e Qatar Airways —, estava aberta a disputa no futebol por quem chegaria primeiro à final da Liga dos Campeões da Europa. De um lado, o Catar, do xeque Tamim bin Hamad Al-Thani, parceiro do PSG. Do outro, os Emirados Árabes Unidos, de Khalifa Bin Zayed Al Nahyan, investidores do Manchester City. Eles poderiam até protagonizar a final, em Lisboa. Porém, a trupe de Pep Guardiola perdeu para o Lyon nas quartas.

A presença do PSG na decisão é mais um gol do Catar contra os rivais políticos. Quando lançou candidatura para receber a Copa de 2022, o país virou piada na região. Quando vizinhos como os Emirados Árabes Unidos perceberam que a possibilidade de vitória do Catar ganhava força, sugeriram uma parceria para receber o megaevento. Era tarde demais.

Acusado de apoiar grupos terroristas como a Al Qaeda e o Daesh (acrônimo árabe para Estado Islâmico), o Catar viu Arábia Saudita, Bahrein, Egito, Emirados Árabes Unidos, Líbia, Maldivas e Iêmen cortarem relações diplomáticas. Com direito, inclusive, ao fechamento das fronteiras. Aviões que partem em direção a Doha são impedidos de sobrevoar, por exemplo, o espaço aéreo dos vizinhos Emirados Árabes Unidos. Logo, a viagem torna-se mais cara, longa, e cansativa. A Arábia Saudita também fechou a fronteira, única ligação do Catar por terra com o restante da Península Arábica. A questão é uma das procupações da Fifa para a Copa do Mundo de 2022.

Mesmo isolado, o Catar celebra uma vitória atrás da outra. Tirou Neymar do Barcelona. Viu a Fifa desistir de realizar a primeira Copa com 48 países em 2022. Isso obrigaria o emirado bordado a ouro a pedir ajuda a alguns vizinhos devido ao aumento da quantidade de jogos e delegações. Foi campeão da Copa da Ásia, em 2019, na casa dos Emirados Árabes Unidos. Ontem, celebrou a conquista da vaga inédita do PSG para a final da Champions League. No domingo, o dinheiro aplicado no clube francês pode render o título. Apenas um time gaulês ergueu a orelhuda: o Olympique de Marselha, em 1993.

Alheio às nuances geopolíticas, Neymar faz a parte dele. Pode-se afirmar que “pagou” metade do investimento feito nele ao classificar o PSG para a final. A melhor campanha do clube havia sido em 1995. No entanto, a geração de Raí, Ricardo Gomes, Ginola e Weah foi eliminada pelo Milan nas semifinais. Os outros 50% do projeto bilionário idealizado da QSI podem ser quitados na final de domingo contra o Bayern de Munique ou Lyon. Astros como Beckham e Ibrahimovic não conseguiram a proeza na passagem pelo clube.

No jogo de ontem, o PSG fez prevalecer os 50 anos de história contra o jovem Red Bull Leipzig — fundado em 2009. Em outra vibe na carreira, Neymar tem jogado menos para ele e mais para o time no “Final Eight”, em Portugal. No primeiro gol, só apareceu para festejar com Marquinhos. Di María cobrou falta na cabeça do beque brasileiro. No segundo, fez o papel de garçom com uma linda letra para Di María ampliar. Bernat ampliou para 3 x 0. Ávido por balançar a rede, Neymar tocou na bola quando ela havia ultrapassado a linha. Entrou com bola e tudo, mas o gol foi do espanhol.

Neymar está a um jogo do bi pessoal. Em 2015, conquistou o título pelo Barcelona. Formava o badalado trio de ataque MSN com Messi e Luis Suárez. Autor do terceiro gol no triunfo por 3 x 1 sobre a Juventus, no Estádio Olímpico, em Berlim, terminou aquela temporada como um dos três artiheiros da Champions League. Ele, Messi e Cristiano Ronaldo marcaram 10 gols cada um. Messi arrematou o prêmio de melhor do mundo.

Negócios à parte

Patrocinado pela Red Bull, Neymar foi carrasco do patrão. A multinacional austríaca da bebida energética pertence à vasta lista de parceiros comerciais do jogador. Portanto, a vitória desta terça deixou o craque em uma situação, no mínimo, constrangedora.

Neymar ajudou o Paris Saint-Germain a desbancar o time de Dietrich Mateschitz — empresário austríaco de 76 anos que banca tanto o Red Bull Leipzig quanto Neymar. A fortuna do executivo, estimada em 27,4 bilhões deu euros, o coloca na modesta 57º posição entre os mais ricos do mundo de acordo com o ranking da revista Forbes.

Para ter uma ideia do vínculo da Red Bull com Neymar, a firma bancou, em fevereiro, a festa de 27 anos do craque para 500 convidados. A multinacional também patrocina o Neymar Jr’s Five — campeonato de futebol estilo livre que tem justamente o astro do clube francês como garoto-propaganda.

Máquina alemã

Embalado pela goleada por 8 x 2 sobre o Barcelona nas quartas , o Bayern de Munique chega à semifinal de hoje com status de favoritaço ao duelo de hoje, às 16h, no Estádio José Alvalade, em Lisboa, e ao hexa. No entanto, o adversário exige respeito. O Lyon desbancou Juventus (oitavas) e Manchester City (quartas). Além disso, ganhou combustível extra após a classificação do rival PSG e a possibilidade de uma final francesa, em Portugal.


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