CANDANGÃO

Sonhos resgatados

Um largou a bola para trabalhar em fábrica de freios. O outro viu na segundona local a última saída para seguir no futebol. Decisão entre Brasiliense e Gama vale mais do que o troféu para dois personagens da decisão

Maíra Nunes
postado em 26/08/2020 00:56 / atualizado em 26/08/2020 01:43
 (crédito: Gabriel L. Mesquita/ASCOM Gama)
(crédito: Gabriel L. Mesquita/ASCOM Gama)

Pelo segundo ano consecutivo, o campeão do Candangão será decidido entre os maiores rivais do DF. Hoje, às 11h, Brasiliense e Gama disputam os primeiros 90 minutos da final, no Mané Garrincha. O segundo jogo será no sábado, às 16h, no Bezerrão. As duas partidas serão com portões fechados.

Para dois jogadores, os 180 minutos valem bem mais do que o título e a oportunidade de tirar onda com o arquirrival. Após quase desistirem da carreira por dificuldades financeiras, Fabinho, meia do Jacaré, e Malaquias, atacante alviverde, desfrutam novamente a presença em uma final.

Natural de Salto, no interior de São Paulo, Malaquias passou por muitas equipes paulistas, como Bragantino, Santo André e Ituano. Em 2018, ele defendeu a Penapolense na Série A2 do Paulistão. Nos seis meses em que atuou pela equipe, recebeu apenas o primeiro salário.

Com esposa e quatro crianças em casa, o atacante de 33 anos decidiu abandonar o futebol para trabalhar em uma empresa de produção de freios para caminhões e ônibus na cidade dele. Foram oito meses longe da bola até ser lembrado pelo companheiro Nunes. O goleador estava no Gama e indicou o parceiro para reforçar o ataque do time.

No quinto clube em que jogam juntos, ambos ajudaram o Gama a chegar à marca de 54 gols — Nunes, com 11, e Malaquias, com dois —, ampliando a invencibilidade de 33 jogos do time, que se mantém desde 21 de março de 2018. Em 2020, o Periquito acumula 14 vitórias e um empate no Candangão. Sofreu 11 gols.

O Brasiliense também tem uma história de superação. O protagonista é o meia Fabinho, de 24 anos. Revelado na base do Brasília, o jogador que cresceu em Itapoã, região administrativa do DF. Fez parte da campanha do time da capital federal que chegou às oitavas de final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, em 2014. Com futuro promissor, Fabinho se viu perto de pendurar a chuteira por causa da falta de retorno financeiro. “Chegou um momento em que eu precisava de dinheiro, precisava bancar as minhas despesas, trabalhar”, conta, referindo-se ao período em que morava de favor com o irmão.

Recomeço
Sob pressão, Fabinho estipulou que a disputa da segunda divisão do Candangão 2018, em que defendeu o Capital, seria a última chance de realizar o sonho de ser jogador. O meia destacou-se na conquista invicta e despertou o interesse do Brasiliense. No Jacaré, Fabinho se espelha na dupla do meio campo titular, formada por Douglas e Marcos Aurélio. “São jogadores que eu via pela tevê e nunca imaginei que, um dia, estaria trabalhando com eles”, orgulha-se. Sobre a primeira decisão na elite do Candangão, ele diz ser “mais do que um sonho”.

A empolgação de Fabinho será importante para o Brasiliense retomar a confiança depois de passar sufoco para avançar às semifinais diante do Real Brasília. Venceu o primeiro jogo, por 1 x 0, mas perdeu o segundo, por 2 x 1. Avançou por ter a vantagem do empate no placar agregado por ter feito a melhor campanha na primeira fase. Terminou na vice-liderança, atrás apenas do Gama.


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