A publicação da Medida Provisória 984 pelo presidente Jair Bolsonaro em junho, o rompimento por parte da Globo de alguns contratos e a entrada de novos players no mercado de transmissões esportivas alteraram substancialmente a maneira como se consome futebol no Brasil. Atualmente, há várias opções para assistir às partidas. No entanto, está cada vez mais caro para o torcedor acompanhar o seu time, seja em que plataforma for. O fã de futebol tem de desembolsar até R$ 2,5 mil por ano para assinar todos os serviços de pay-per-view, ou seja, mais de dois salários mínimos, levando em conta o piso pago hoje no país: R$ 1.045.
O maior exemplo de como o apaixonado por futebol que não quiser perder um confronto está gastando cada vez mais por isso é o advento da Conmebol TV, pay-per-view da Libertadores criado pela entidade sul-americana em parceria com o BandSports, que exibe as partidas na tevê paga. O PPV custa R$ 39,90 por mês e está disponível na Claro/Net e Sky. É mais um custo para o bolso do fã de futebol, já que, antes, esses duelos do torneio sul-americano eram transmitidos no SporTV, canal presente na maioria dos pacotes de tevê por assinatura.
A parceria com o Grupo Band para produzir e distribuir o conteúdo e o patrocínio da Claro e Sky foram as alternativas que a Conmebol encontrou para amenizar o prejuízo com a saída do Grupo Globo, que rompeu o contrato de transmissão da Libertadores depois que não conseguiu renegociar os valores com a entidade. O SBT adquiriu os direitos que eram da Globo para transmitir os jogos na tevê aberta.
“Este cenário realmente não é o mais agradável ao bolso do torcedor. A fuga do futebol da televisão faz com que, neste primeiro momento, a conta dos direitos de transmissão seja repassada diretamente ao público e não mais aos anunciantes”, ressaltou Marco Sirangelo, consultor de conteúdo e educação na OutField Consulting, consultoria especializada em negócios do esporte e do entretenimento.
“Por outro lado, estivemos relativamente mal-acostumados a termos fácil acesso a esporte na televisão aberta. Em outros países, é muito raro encontrarmos eventos como a primeira divisão nacional, campeonatos estrangeiros de topo e Fórmula 1 sem que nenhum adicional fosse cobrado ao consumidor”, pontuou.
Quebra no modelo
“Por mais apaixonado que seja por um time, o torcedor gosta de ver futebol de uma maneira mais ampla e ele acaba assistindo a outros jogos além dos do seu time. A questão é que havia um modelo em curso já há muitos anos, que sustentava e ainda sustenta o futebol brasileiro em muitos termos, e foi colocado para baixo sem nenhuma previsão sistêmica de como funcionaria o ambiente competitivo”, avaliou Bruno Maia, executivo de marketing e sócio da 14, agência de conteúdo estratégico.
“O que está ocorrendo aqui já aconteceu na Itália, na Alemanha. O Brasil tinha uma oportunidade de avaliar alguns erros destas experiências para sair na frente, mas estamos jogando fora essa oportunidade pela falta de informação, profissionalismo e seriedade nessa discussão. E também por conta da politização, que nos trouxe a esse cenário”, acrescentou Maia, em referência à maneira como a MP 984 foi editada.
Com os jogos espalhados em plataformas diferentes, e não mais concentrados em poucos lugares, o torcedor que for assinar todos os serviços de pay-per-view de futebol disponíveis atualmente — Premiere, Conmebol TV, UOL Esporte Clube, EI Plus e DAZN — terá de desembolsar cerca de R$ 2,5 mil por ano. Isso sem considerar serviços pagos de lutas e basquete, por exemplo, e a assinatura de canais esportivos nas tevês, que têm diferentes planos.
CARDÁPIO VARIADO
Veja quais são e quanto custam as opções para assistir ao futebol no país
Premiere
» É um dos serviços de pay-per-view mais antigos. Nele estão disponíveis todas as partidas do Campeonato Brasileiro — exceto as que envolvem o Athletico-PR, único a não ter um acordo com a plataforma do Grupo Globo — além dos duelos da Copa do Brasil e dos campeonatos estaduais. Também é possível assistir via Premiere Play, que pode ser acessado pelo site ou aplicativo. Custa R$ 79,90 por mês. Por ano, o assinante gasta R$ 958,80. Com a expressiva perda de assinantes em razão da crise financeira imposta pela pandemia, o serviço oferece um desconto de 25% no pacote anual: sai por R$ 718,80.
Conmebol TV
» É o pay-per-view da Libertadores em parceria com o Grupo Band, que cede às equipes de transmissão. Na primeira semana, os duelos foram exibidos de graça. No entanto, a partir desta semana, quem quiser assistir ao seu time na principal competição da América do Sul tem que desembolsar R$ 39,90 por mês, ou
R$ 478,80 por ano, valores muito contestados pelos torcedores. O pacote só está disponível na Claro ou Sky. Não existe um aplicativo ou site que permita a compra à parte. Portanto, para ver on-line, é necessário ser cliente da Claro ou da Sky e recorrer ao Now e Sky Play, serviços de streaming das duas operadoras, respectivamente. Além dos 27 jogos da fase de grupos da Libertadores que eram do SporTV, a Conmebol TV também vai mostrar todos os confrontos da Copa
Sul-Americana e da Recopa
Sul-Americana no ano que vem.
DAZN
» Custa R$ 19,90 por mês, o que dá R$ 238,80 anualmente. No entanto, a plataforma perdeu atratividade ao abrir mão de direitos de transmissão de competições como o Italiano, Francês e a Sul-Americana. O Campeonato Inglês — um jogo por rodada — e a Copa da Inglaterra são os principais torneios exibidos. O streaming também mostra partidas da Série C do Campeonato Brasileiro. É possível assistir pelo aplicativo ou na internet. O primeiro mês é gratuito.
UOL Esporte Clube
» É um agregador de streaming. A plataforma oferece acesso a conteúdos da ESPN e Fox Sports, ambos pertencentes
à Disney, e também ao EI Plus, da Turner. Dessa maneira, o assinante pode assistir a duelos da Liga dos Campeões, Libertadores, Campeonato Inglês, Brasileirão e outros eventos de futebol. O pacote mais caro sai por R$ 49,90 mensalmente — R$ 598,80 nos 12 meses.
EI Plus
» É o streaming do extinto canal Esporte Interativo, que pertence à programadora americana Turner. É o serviço mais barato entre todos os citados. Se o torcedor escolher o plano anual, ele paga 12 parcelas de R$ 13,90 ao mês e R$ 166,80 no total. Se optar pelo plano mensal, o valor sobe para R$ 19,90. Com ele, é possível assistir a partidas do Campeonato Brasileiro, Liga dos Campeões, Eliminatórias Europeias e a Liga das Nações. Esses campeonatos são exibidos na TNT e Space, canais da TV paga da Turner.
TV por assinatura
» Considerando os planos com maior número de canais esportivos (Claro, Sky, Vivo e Oi), todos são vendidos por mais de R$ 100. O mais barato é o da Oi, que cobra R$ 106,90. Se optar pela Sky, o assinante pagará
R$ 120,90 por mês. Na Claro, que abandonou a marca Net desde o ano passado e concentrou os serviços do grupo sob a marca da operadora de telefonia, o plano com a maior oferta de canais de esportes é negociado por R$ 139,90. Por fim, a Vivo dispõe do pacote por R$ 147,89 ao mês.
“Este cenário realmente não é o mais agradável ao bolso do torcedor. A fuga do futebol da televisão faz com que, neste primeiro momento, a conta dos direitos de transmissão seja repassada diretamente ao público e não mais aos anunciantes”
Marco Sirangelo, consultor de conteúdo e educação na OutField Consulting
“O que está ocorrendo aqui já aconteceu na Itália, na Alemanha. O Brasil tinha uma oportunidade de avaliar alguns erros destas experiências para sair na frente, mas estamos jogando fora essa oportunidade pela falta de informação, profissionalismo e seriedade nessa discussão. E também por conta da politização”
Bruno Maia, executivo de marketing e sócio da 14, agência de conteúdo estratégico
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