ELIMINATÓRIAS

Problema desgramado

Bastidores de como Brasília perdeu Brasil x Venezuela para São Paulo. Reprovado pela CBF, campo do Mané recebeu nota 6,1 contra 9,5 do substituto Morumbi — estádio excluído pela Fifa da lista para a Copa de 2014

Marcos Paulo Lima
postado em 03/10/2020 01:24

Dez de setembro de 2020. Equipe de uma empresa terceirizada contratada pela Comissão Nacional de Inspeção de Estádios (CNIE), órgão da Diretoria de Competições da Confederação Brasileira de Futebol, chega ao Mané Garrincha para elaborar laudo de vistoria técnica do gramado do estádio mais caro da Copa 2014. A missão é avaliar as condições do campo para a realização de jogos da CBF — especificamente, a partida entre Brasil e Venezuela, pela terceira rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para o Mundial do Qatar-2022.

O piso da arena é detonado. Recebe nota 6,1, como publicou o Blog Drible de Corpo do Correio Braziliense na última quinta-feira. A reprovação não se limita ao piso. As críticas se estendem aos equipamentos usados na manutenção do gramado. Alguns são apontados como antigos e inapropriados. As observações e a menção dada ao gramado são elaborados pela equipe de Maristela Kuhn, engenheira agrônoma da CBF especializada em campos esportivos, projetos, avaliações, assistência técnica; e proprietária da Marista Kuhn Campos Esportivos.

A condição do gramado impediu a realização de Brasil x Venezuela, no Mané, em 13 de novembro. O jogo será no Morumbi. Ironicamente, a casa tricolor foi excluída pela Fifa da lista dos possíveis estádios para a Copa de 2014. Coincidência ou não, o campo do São Paulo é zelado pela firma Maristela Kuhn Campos Esportivos. Escolhido, o gramado da casa tricolor recebeu nota 9,5.

Em uma publicação de 17 de setembro no Instagram, Maristela Kuhn comemorou o resultado da firma no Morumbi. “Nossa equipe dedicada atingindo excelente resultado no preparo do gramado”. O Correio entrou em contado com Maristela Kuhn para mais detalhes sobre a reprovação do Mané Garrincha. Questionada sobre os problemas no gramado, ela alegou que é engenheira agrônoma da CBF e não está autorizada a dar entrevista.

Possível conflito de interesses à parte, a reportagem apurou que o gramado do Mané, de fato, estava com problemas em 10 de setembro. Diretor de Competições da Federação de Futebol do Distrito Federal, Márcio Coutinho, o Careca, foi uma das três testemunhas da inspeção. Segundo ele, havia problema no lugar de sempre: o setor norte do gramado, próximo ao gol no sentido do autódromo. “Na visita, o engenheiro agrônomo, inclusive, apontou o problema e a solução usando uma máquina e apontou o problema e a solução”, relata Careca.

Recentemente, houve tentativa de instalar gramado americano no Mané. O produto é diferente do usado desde a inauguração, em 2013. Diante do problema, a Arena BSB e a Greenleaf, parceira responsável pela manutenção, optaram por retomar o gramado original.

Nos bastidores, houve irritação no Governo do Distrito Federal e na Arena BSB com a exposição do estádio. A bronca é por conta da divulgação da nota do Mané Garrincha (6,1) comparada à do Morumbi (9,5), substituto do estádio do jogo do Brasil nas Eliminatórias. Há um consenso, também, de que havia tempo mais do que suficiente para o gramado passar por reparos e ficar impecável na partida internacional de 13 de novembro.

A exigência por gramados de excelência em jogos da Seleção aumentou depois da situação pífia do piso do gramado da Arena do Grêmio no confronto entre Brasil e Paraguai pelas quartas de final da Copa América do ano passado, em Porto Alegre. Prejudicado, o duelo foi decidido nas cobranças de pênalti.

Hospital de campanha
O Correio apurou, também, que o hospital de campanha instalado no Mané Garrincha para o combate à pandemia do novo coronavírus pesou na transferência da partida para São Paulo. “Ajudou, mas não foi determinante”, pondera o CEO da Arena BSB, Richard Dubois.

O executivo vê vantagem na derrota. “A independência de quem avalia é um critério importante. Acredito que sejam empresas sérias, não conheço os interesses. Perdi uma partida sem público da Seleção para ganhar outra, em 2021 com torcida”, ponderou ao Correio.

Do ponto de vista do negócio, o jogo, em novembro, seria péssimo para a concessionária. Há duas formas de arrecadar com a partida: receber um percentual da bilheteria ou pagamento fixo. As duas opções são consideradas inviáveis financeiramente em meio à pandemia do novo coronavírus.

Além do gramado, a CBF alegou problema de logística para tirar o jogo de Brasília. “A alteração da sede, anteriormente marcada para o Mané Garrincha, obedeceu critérios de qualidade de gramado, prioridade da CBF na escolha dos estádios onde joga a Seleção, e de melhores opções de logística. A malha aérea encontra-se reduzida devido à pandemia e São Paulo recebe maior número de voos nacionais e internacionais”, explicou em nota a entidade.

“A independência de quem avalia é um critério importante, mas perdi uma partida sem público da Seleção para ganhar outra, em 2021, com torcida”

Richard Dubois, CEO da Arena BSB, concessionária que administra o Mané


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