BRASILEIRÃO

Muito além do "pé-de-meião"

Conheça a firma fundada em Brasília e Belo Horizonte que oferece assessoria financeira e patrimonial a jogadores que trocam o Brasil pelo exterior; e a estrangeiros contratados para trabalhar no país

Marcos Paulo Lima
postado em 03/10/2020 22:42 / atualizado em 03/10/2020 22:43

As folhas de pagamento dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro movimentam mais de R$ 1 bilhão por mês. Na lista dos colaboradores dos 20 times da primeira divisão estão 72 estrangeiros — 69 jogadores e três técnicos. Atenta à indústria da bola, uma empresa brasileira fundada em Brasília e Belo Horizonte, consolidada em São Paulo, decidiu invadir o campo dos negócios oferecendo aos atletas assessoria financeira e patrimonial de investimentos. Um dos focos da One Sports é o profissional que deixa o país para trabalhar no exterior. Agora, também, gringos que trilham o caminho inverso e desembarcam em solo verde-amarelo. Muitos deles aterrissam no país desorientados. Desconhecem regras básicas e complexas da economia no país.

Braço da One Investimentos, a One Sports é direcionada para a educação financeira, planejamento patrimonial e menos para o dia a dia massante de investimentos. “A gente pensou nesse público com muito cuidado. Hoje, sabemos que a maioria das pessoas que estão no meio do esporte não têm uma orientação correta, acesso à informação que vai tratar a conquista do patrimônio deles da melhor forma possível. É lógico que somos remunerados por isso, mas nosso conceito é fazer o bem”, explica em entrevista ao Correio Pedro Henrique Araújo, um dos sócios do escritório parceiro do banco BTG Pactual.

Estudos da firma apontam que muitos jogadores quebram financeiramente depois da aposentadoria. “Eles recebem um fluxo financeiro muito elevado ao longo da carreira, mas gastam muito por falta de orientação. Queremos ajudar quem vem das categorias de base até os ex-atletas. Temos feito palestras com meninos, elenco principal. Não ficamos presos apenas ao futebol. Temos entradas no vôlei, também”, acrescenta Pedro Araújo.

Quando o projeto saiu do papel, a empresa ficou assustada com a quantidade de profissionais do país que saem de forma desprotegida e desorientada rumo ao exterior; e o quanto os estrangeiros que chegam ao Brasil encontram no país cenário desconhecido e desfavorecido. “Nós temos normas jurídicas e fiscais que eles precisam ficar atentos. Acaba que, quando voltam ao Brasil ou para o país de origem, são surpreendidos”, constata Pedro Araújo.

Segundo o assessor financeiro, a perpetuação do patrimônio do cliente tem três pilares: “Proteção patrimonial, ou seja, perpetuar isso para a vida dele e das próximas gerações; a questão da eficiência tributária, fazer com que o cliente não deixe de pagar imposto, mas contribua de forma mais eficiente; e a principal é a gestão do patrimônio e a rentabilidade da carteira. A principal fonte de renda é a atividade principal dele”, aponta Pedro.

Aos poucos, os jogadores entendem que a vida financeira vai muito além do velho e correto discurso de comprar uma casa para a mãe, uma carro do ano e fazer poupança. Eles descobrem formas sofisticadas e lucrativas de aumentar o “pé-de-meia”.

“Fizemos bons cases. Vimos que havia uma desorganização muito grande. Estavam desguarnecidos. A gente conseguiu cuidar para que a proteção fosse eficiente e para que toda essa desorganização não onerasse o cliente. O pessoal tem um fluxo de poupança muito interessante. Eles conseguem poupar, mas precisam guardar da melhor forma possível”, alerta Pedro Araújo.

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Os riscos nas trocas de residência fiscal

A ida de um jogador brasileiro para o exterior ou a vinda de um estrangeiro para o país parece simples. Só que não. O sócio da One Sports, Pedro Henrique Araújo, relata ao Correio didaticamente como a assessoria financeira e patrimonial reduz riscos.

Um jogador brasileiro contratado para jogar fora do país, por exemplo, precisa de orientação jurídica, ou seja, contratar um advogado tributarista. Necessita, ainda, de um especialista em direito internacional para assumir questões como o processo migratório, de extrema importância, junto à receita federal e ao governo brasileiro.

“Uma delas é liquidar 100% dos investimentos que está fazendo no Brasil a fim de parar de pagar imposto aqui e contribuir no país para onde está indo. Estamos falando de dinheiro, não de imóveis”, diz Pedro Araújo. “Fundo de investimentos, ações, títulos bancários, títulos públicos. Se quiser manter, terá de usar conta de domiciliado no exterior (CDE). Deixar de ser cidadão fiscal brasileiro. Recentemente, houve uma migração muito grande, por exemplo, do Brasil para Portugal”, lembra.

O caminho de medalhões como o japonês Honda, o marfinense Kalou, ou dos badalados treinadores Jorge Sampaoli, Domènec Torrent e Eduardo Coudet também não é tão simples.

“Eles precisam contratar advogado responsável pelo processo de migração, tirar visto, fazer CPF na receita federal para imposto de renda como residente fiscal brasileiro. A partir daí, ele passa a ter conta como qualquer cidadão brasileiro e pode virar um investidor comum”, explica Pedro Araújo.

Segundo o profissional, quem está fora do Brasil precisa de acompanhamento mais profundo porque há regras específicas. “Um brasileiro que vai fazer investimento em ações, quando ele tem um ganho de capital, paga 15% de imposto aqui no Brasil sobre o lucro da venda. Um investidor internacional que faça o mesmo movimento não paga imposto, é zero. Muitos compram o Tesouro Direto aqui no Brasil. O investidor estrangeiro também paga zero. O estrangeiro que está investindo no Brasil tem algumas regrinhas fiscais que são mais benéficas. A gente ajuda nessa orientação em busca da rentabilidade”, ensina o consultor Pedro Araújo. (MPL)

Na base que se aprende

Os jogadores das divisões de base também são alvos da educação financeira. “É preciso dar atenção desde cedo para que, quando eles tenham 23, 25 anos, e estejam na Europa, lembrem da gente e digam assim: ‘aquele pessoal me ajudou para que eu não tenha problema e eu leve para a minha família uma eficiência muito boa”, diz Pedro Araújo, com um exemplo prático. “Um atleta que tem, hoje, 20 anos, queira se aposentar com 30 e tenta guardar R$ 10 mil por mês de um salário de R$ 30 mil, terá, em 10 anos, em um perfil balanceado, num cenário em que, se tudo der errado, o banco prevê uma taxa de juros alta, o Brasil em recessão por 10 anos, ou seja num cenário pessimista, R$ 1.95 milhão. É um milionário. A nossa orientação é como ele consegue atingir esse objetivo em 10 anos, ou até menos”, ilustra.

Case de sucesso

 (crédito: AFP)
crédito: AFP

Aos 23 anos, o atacante Malcom, revelando pelo Corinthians e com passagem por Bordeaux, Barcelona e, atualmente no Zenit São Peterburgo da Rússia, é considerado um dos cases de sucesso da One Sports.

“O Malcom é nosso cliente. É novo, saiu do Brasil cedo para jogar na França, passou pelo Barcelona e está na Rússia. Passou por processo migratório em três nacionalidades diferentes. A dinâmica é complexa”, diz Pedro Araújo. “Ele conseguiu em vida, aos 23 anos, uma situação patrimonial superinteressante. O nível de complexidade de um case como esse é importante para mostrar os três pilares: gestão, rentabilidade do dia a dia, perpetuidade ao longo do tempo e a eficiência tributária. Conseguimos implementar isso de uma forma muito boa”, comemora.

Segundo o especialista, antes, o patrimônio de Malcom estava aplicado em um banco no CDB, rendendo pouco no pós-fixado. “Hoje, a dinâmica é de rentabilidade muito boa, com proteção adequada e ganho fiscal interessante”, revela.

Nem só de Malcom vive a empresa. “Temos muitos atletas, hoje, com a família totalmente desestruturada. Um cliente nosso cuida da mãe e da avó; e com a família paterna não tem contato. Ele tem um patrimônio muito interessante. Se, hoje, acontecer alguma coisa com ele, um acidente, e ele vier a falecer, metade do patrimônio era de uma família que ele nem conhece porque não tem herdeiros, não tem filhos. Iria para a parte do pai, que ele não conhece. A gente traz essa orientação para proteger os desejos dele em vida e no pós-vida”, diz Pedro Araújo. (MPL)

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