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A eleição norte-americana marcada para hoje atrairia normalmente as atenções dos presidentes da Fifa, Gianni Infantino, e do COI, Thomas Bach, pelo fato de a maior potência do mundo ser uma das três sedes da Copa do Mundo 2026 com Canadá e México; e anfitriã dos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028, mas, desta vez, o confronto nas urnas entre o candidato republicado à reeleição Donald Trump, 74 anos, e o desafiante democrata, Joe Biden, 77, vai muito além dos investimentos e cumprimentos de protocolos para os dois megaeventos esportivos.
Ao comprar briga com atletas, o atual presidente mobilizou um contra-ataque sem precedentes na história recente das eleições norte-americanas. Referência do Los Angeles Lakers e da NBA, LeBron James arrasta 48 milhões de seguidores no Twitter e lidera o movimento a favor do voto e contra a reeleição do atual ocupante da Casa Branca. Eleita número 1 do mundo pela Fifa no ano passado, a jogadora e ativista LGBTI Megan Rapinoe reforça a campanha de Joe Biden. As principais ligas do país — NBA, NFL, NHL, MLB, MLS — estão no centro do debate.
Incomodado com o poder de influência dos atletas, Trump colocou o esporte em pauta no cara a cara com Biden. No debate realizado em Cleveland gabou-se: “Fui eu quem trouxe o futebol americano de volta. Estou feliz por ter feito isso. O povo de Ohio está muito orgulhoso de mim”, afirmou, arrancando risadas do concorrente.
Pedra no sapato de Trump, LeBron James não joga futebol americano, mas nasceu em Ohio. O futebol americano universitário havia sido paralisado devido à pandemia do novo coronavírus. O atual presidente decidiu fazer média por um motivo simples: Michigan, Pensilvânia e Wisconsin são estados norte-americanos nos quais a competição é uma tradição. Os estados sentem orgulho das universidades e respectivos times acadêmicos.
Trump atraiu contra si o movimento More than a vote (Mais que um voto) em uma ação contra o racismo. Entre os esportistas engajados estão LeBron James e Draymond Green (basquete), Jozy Altidore (futebol), Aleshia Ocasio (softbol), Allyson Felix (atletismo) e Sloane Stephens (tênis). Há, ainda, personagens como o rapper Bun B, o comediante Kevin Hart, a cantora Toni Braxton e a jornalista especializada em esportes americanos María Taylor.
Sem papas na língua
O bate-boca de Trump com atletas começa antes mesmo de o magnata nova-iorquino chegar ao poder. No terceiro jogo da pré-temporada do San Francisco 49ers, Colin Kaepernick ajoelhou-se durante o hino nacional e justificou o ato: “Não vou levantar para me orgulhar da bandeira de um país que oprime os negros”. O ato ganhou força entre os demais atletas. Kaepernick não encontrou um novo time após o fim do contrato, mas deu o recado. Ligas como a NHL, de hóquei, por exemplo, têm presença mínima de afrodescendentes.
Um ano depois, em um comício no Alabama, Trump alfinetou o jogador. “Vocês não gostariam de ver um dos donos da NFL dizer “você está despedido” quando alguém não respeita nossa bandeira”? Era um recado a nove proprietários de franquias da liga que investiram US$ 8 milhões na campanha que o elegeu. O ato de Kaepernick ganhou força nos EUA e no mundo neste ano após os assassinatos dos negros George Floyd e Jacob Blake.
“Quando vejo as pessoas colocarem um joelho no chão durante o hino nacional (dos EUA), o que eu faço é desligar a televisão. Não estou interessado no jogo. E não sou o único”, atacou Trump.
A NBA também virou-se contra Trump. À época, o astro do Golden State Warriors Stephen Curry avisou que se recusaria a ir até Casa Branca para o tradicional encontro da franquia campeã da NBA com o presidente. Trump usou o Twitter para responder: “Ir à Casa Branca é uma grande honra para uma equipe campeã. Curry está hesitando. Portanto, retiro o convite!”. Aí, LeBron James trocou a quadra pelo ringue. Ir à Casa Branca foi uma grande honra até você aparecer”, escreveu o então jogador do Cleveland Cavaliers.
Na retomada da NBA após a pandemia, King James e os 22 times da NBA hospedados na bolha da Disney, em Orlando, posicionaram-se a favor do movimento Blacks Lives Matter (Vidas Negras Importam) e acirraram a rixa entre a Casa Branca e os atletas. “Ele (LeBron) é um grande jogador de basquete, mas as pessoas não querem um cara assim, ver aquele inimigo”, disparou o presidente.
Campeão da NBA pela quarta vez ao levar o Los Angeles Lakers ao título da última tempora, King James devolveu: “Não farei cabo de guerra com ninguém, nem mesmo com esse cara (Trump). Queremos algo melhor, mudança em nossa comunidade, e agora temos a oportunidade”, declarou.
Aliada de Joe Biden e ícone do movimento LGTBI, a melhor jogadora de futebol do mundo, Megan Rapinoe, também marcou posição com recado direto a Trump em meio à corrida eleitoral. “Seu discurso exclui as pessoas”.
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Grana para Copa em jogo
Em 2018, os Estados Unidos conquistaram o direito de receber a Copa do Mundo pela segunda vez. Não mais sozinhos, como em 1994. Hospedarão a festa em parceria com os vizinhos Canadá e México. O vencedor entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden deixará o poder em 2025. Logo, terá de deixar o país pronto para a nova versão do torneio organizado pela Fifa. Pela primeira vez, ocorrerá em três sedes com formato novo: 48 seleções — o dobro da edição conquistada pelo Brasil 26 anos.
Vice de Barack Obama de 2009 a 2017, Biden foi a três Copas como enviado da Casa Branca. Estava na abertura, na África do Sul (2010). Apareceu no Brasil (2014). Viu Gana 1 x 2 EUA. Chegou atrasado à Arena das Dunas, em Natal. Perdeu o gol de Dempsey, aos 28 segundos. Pintou na final da Copa Feminina no Canadá (2015): EUA 5 x 2 Japão. Conhece o padrão Fifa. Porém, não é só futebol.
Biden vislumbra na Copa 2026 oportunidade para debater a desigualdade de gênero no esporte mais popular do mundo. Mandou recado à Federação de Futebol dos EUA (US Soccer) sobre a resistência à isonomia salarial entre homens e mulheres. “Quando for presidente, podem procurar outro lugar para bancar a Copa do Mundo”. Entre os apoiadores de Biden, está a melhor do mundo e ativista Megan Rapinoe.
Biden jogou futebol americano. Foi halfback/wide receiver no time de futebol americano no ensino médio. Ajudou o Archmere Academy a fechar o ano invicto e campeão da conferência. Também aventurou-se no beisebol. Na faculdade, defendeu o elenco de calouros da Universidade de Delaware.
Trump também assusta a Fifa. A entidade fala em suspensão do visto para a Copa 2026. O atual presidente insiste em erguer muros para blindar as fronteiras dos EUA do vizinho México. Defende barreiras para a entrada de imigrantes muçulmanos no país. Em 2018, Trump gabou-se da volta da Copa aos EUA: “Trabalhei duro nisso com uma equipe talentosa e será uma grande Copa”, promete.
Apesar da bipolaridade, Trump também tem relação com esporte. No ensino médio, praticou futebol, em 1963, no New York Military Academy. Cogitou até comprar San Lorenzo-ARG ou Atlético Nacional-COL.
Polêmica até na cura da covid-19
A polêmica esportiva mais recente de Donald Trump envolveu a NFL. Um vídeo comemorou a recuperação do presidente da covid-19 com uma montagem do rosto de Trump no corpo do wide receiver Brandon Aiyuk. A imagem mostra o jogador do San Francisco 49ers saltando sobre um defensor do Philadelphia Eagles infectado. A campanha foi acionada na Justiça reclamando direitos autorais e o vídeo foi retirado.