Treinadores consagrados atuam como bombeiros de vez em quando. Atravessando um dos piores momentos da história, o Cruzeiro apostou em Luiz Felipe Scolari, técnico do pentacampeonato do Brasil em 2002, para liderar o clube em busca de uma reviravolta na Série B do Campeonato Brasileiro. Esta, porém, não é a primeira vez que um campeão mundial aceita o desafio de resgatar um gigante do fundo do poço. No desafio, inédito na carreira, ele tem uma referência do mesmo gabarito.
Comandante do tetra da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1994, Carlos Alberto Parreira embarcou em uma missão parecida no Fluminense em 1999. Na época, o tricolor carioca também atravessava o momento mais nebuloso da história do clube, quando disputava a Série C do Campeonato Brasileiro, então última divisão do futebol nacional. Torcedor do clube das Laranjeiros, o treinador aceitou o desafio de liderar o resgate dos cariocas.
Assim como a empreitada cruzeirense na Série B, a trajetória do tricolor também tinha alguns contornos de drama. Durante a Série C, o tricolor carioca vivia um tempo de vacas magras em termos financeiros, assim como o time mineiro no presente, e um elenco que convivia com a desconfiança da torcida. Atual técnico do Fluminense, Odair Hellmann era um dos nomes do elenco. Mas o time comandado por Parreira foi avançando de fase em fase até garantir o título da terceira divisão.
Ostentando status de ídolo no Fluminense pelas passagens como técnico, Parreira coloca a Série C de 1999 acima, até mesmo, do Campeonato Brasileiro que conquistou à frente do clube tricolor em 1984. “Os torcedores sempre falam muito, encontro pais torcedores com filhos que falam: ‘este aqui tirou o Fluminense da terceira divisão’. Lembram muito desse momento. Marcou muito”, relembrou Parreira em recente entrevista ao ge.com.
Agora, o técnico do pentacampeonato mundial da Seleção Brasileira quer repetir os mesmos passos do comandante do tetra e livrar o Cruzeiro do pior atoleiro da história. Depois de três jogos, com duas vitórias e um empate, resultados que tiraram o time mineiro da zona de rebaixamento da Série B, Luiz Felipe Scolari inicia o segundo turno da Série B do Brasileirão, hoje, às 19h15, contra o Botafogo-SP, em Ribeirão Preto-SP, para ganhar fôlego em busca do G-4, que concluiria a missão de recolocar o clube mineiro na elite.
“O Cruzeiro é muito grande e tem um plano de recuperação, de construção de uma nova instituição, muito interessante. Vamos trabalhar para que esse plano seja seguido com os nossos conceitos. Acredito que o clube vive apenas um momento de Série B, mas que não ficará por muito tempo. O Cruzeiro é grande e continuará grande. Apenas atravessa um momento diferente e vamos trabalhar para mudar”, disse Felipão ao iniciar a segunda passagem pelo clube celeste em outubro.
Acredito que o clube vive apenas um momento de Série B, mas que não ficará por muito tempo. O Cruzeiro é grande e continuará grande”
Luiz Felipe Scolari, técnico do Cruzeiro
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Em busca de uma inédita reviravolta
Para alcançar o acesso à elite do futebol brasileiro nesta temporada, o Cruzeiro precisará engrenar uma arrancada inédita na Série B do Campeonato Brasileiro. Desde 2006, quando a competição nacional passou a ser disputada no sistema de pontos corridos, com a participação de 20 clubes, nunca um time que fechou o primeiro turno com 20 pontos somados conseguiu terminar o torneio no G-4 que leva para a Série A.
Apesar de não haver referências concretas na história, o time do técnico Luiz Felipe Scolari ainda tem em quem se inspirar. Na Série B de 2016, o Avaí terminou o primeiro turno com 23 pontos, três a mais do que o Cruzeiro tem hoje, na 15ª colocação. Com um segundo turno quase perfeito, os catarinenses conquistaram mais 43, chegando a 66 somados, e alcançaram o acesso para a primeira divisão com o vice-campeonato.
Segundo projeções matemáticas, o número mágico para ficar entre os quatro melhores times da Série B do Brasileirão é 63 pontos. Para alcançar a marca, o Cruzeiro precisaria, portanto, somar mais 43 nos 19 jogos que tem pela frente no returno, repetindo, então, o feito do Avaí de quatro anos atrás. Atualmente, a diferença do time mineiro para o Juventude, primeiro clube no G-4, é de 11 pontos. De acordo com cálculos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o time celeste tem 1,8% de chance de acesso.
A marca que o Cruzeiro precisa alcançar para ter chance de volta à elite só foi batida em quatro temporadas: além dos catarinenses, Corinthians (46 pontos, em 2008), Goiás (45 pontos, em 2012), Portuguesa (43 pontos, em 2011) e Atlético-GO (43 pontos, em 2016) tiveram tal desempenho nas últimas 19 rodadas da competição. A situação deles, porém, era totalmente diferente do time mineiro, pois estavam na zona de acesso para a Série A ou, até mesmo, lideravam a competição. (D.Q.)