catar 2022

A dois anos do sonho

Copa começa daqui a exatos 730 dias. Atacante brasiliense Tiago Bezerra e meia Rodrigo Tabata contam ao Correio como estão as obras no badalado país árabe. Lusail, cidade erguida do zero para a final, já é atração

Marcos Paulo Lima
postado em 21/11/2020 01:00
 (crédito: Elisabeth de Borba/Esp. CB/D.A Press)
(crédito: Elisabeth de Borba/Esp. CB/D.A Press)

O brasiliense Tiago Bezerra é um privilegiado. A dois anos da Copa, com jogo de abertura programado para 21 de novembro de 2022, no Al Bayt Stadium, em Al Khor, o atacante do Al-Sailiya, nascido em Sobradinho, pode se dar o luxo de passear pelo Catar sentindo o cheirinho de novo das instalações do país do Golfo Pérsico para a 22ª edição do megaevento da Fifa. Um dos destinos da moda na nação de 11.571km² — pouco mais da metade da área de Sergipe (21.910km²), o menor estado brasileiro — é a recém-construída Lusail. A cidade planejada em meio ao deserto para receber a final foi erguida do zero. Abriga o Lusail Stadium, com capacidade para 80 mil torcedores.

A primeira Copa no Oriente Médio terá oito arenas. Cinco estão prontas: Al Bayt Stadium, Education City Stadium, Al Rayyan Stadium, Khalifa International Stadium e Al Janoub Stadium. Os outros três estádios só não estão prontos devido aos efeitos colaterais da pandemia, mas a velocidade das obras prevê as entregas do Lusail Stadium, Ras Abu Aboud Stadium e Al Thumama em 2021. O primeiro estádio brasileiro inaugurado para a Copa de 2014 foi a Arena Castelão, em dezembro de 2012, ou seja, faltando um ano e meio para o início da competição.

Não há comparação entre as capacidades de investimento. Turbinado por gás natural e petróleo, o Catar é um dos países mais ricos do planeta no quesito PIB per capita — Produto Interno Bruto divido pelo número de habitantes. A projeção do Banco Mundial para o Catar em 2020 é R$ 126 mil, oito vezes mais do que a estimativa da instituição para o Brasil (R$ 15,4 mil).

Apelidada de cidade-fantasma quando começou a sair do papel, a cidade anfitriã da final já tem vida própria. Cerca de 45 mil operários colocaram o município de pé. Erguê-la teria custado
R$ 176 bilhões ao governo do emir Tamim bin Hamad. Do montante, R$ 3 bilhões aplicados no Lusail Stadium. O dobro do valor aplicado pelo Governo do Distrito Federal na construção do Mané Garrincha, a arena mais cara da Copa disputada no Brasil.

Tiago Bezerra mora na capital Doha, em um bairro chamado Pearl. É vizinho de Lusail. “Fica a cinco minutos”, conta. Encantado, o brasiliense está tentado a trocar de cidade. “A gente (família) quase foi para lá. Tem casas, apartamentos. Ainda não abriram a área da praia. Aqui, é tudo de outro mundo”, impressiona-se o jogador.

Sonho de consumo
A proximidade dos bairros permitiu a Tiago observar a evolução das obras no Lusail Stadium. “Cheguei aqui no Catar em janeiro de 2019. Vi a construção desde o início. Passo lá todo dia. Foi uma obra rápida. Falta só o acabamento”. Afinada com a cultura local, a arena tem um formato personalizado. Conta um pouco da história do país. O desenho faz referência a tigelas e vasos encontrados há séculos em todo o mundo árabe.

Com arenas lindas e modernas para todo lado, Tiago elege a predileta. “Por enquanto, o Al Bayt Stadium é o mais bonito. A arquitetura impressiona”. O estádio recebeu o nome em homenagem a um verso poético árabe: “bayt al shaar”, referência às tendas usadas pelos povos nômades do Catar e na região do Golfo Árabe.

Quer uma impressão de como o Catar pretende surpreender? O McDonad’s construiu uma réplica da tenda do Al Bayt Stadium, ao lado da arena, para receber os famintos frequentadores do estádio sede do jogo de abertura.

“Lusail fica a cinco minutos da minha casa. Quase fomos morar lá. Aqui, é tudo de outro mundo”

Tiago Bezerra, atacante brasiliense do Al-Sailiya, time da primeira divisão da Qatar Stars League, a liga nacional do país

28 dias


Tempo de duração da Copa 2022, de 21 de novembro a 18 de dezembro

55km


Maior distância entre os estádios do próximo Mundial. Estima-se que é possível ver três jogos em um dia

Sete perguntas para...

Rodrigo Tabata, meia brasileiro do Al Sadd e ex-jogador da
seleção nacional do Catar

Como imagina o Catar em 21 de novembro de 2022?
Muito lindo. Com uma estrutura incrível. A Copa vai ser na melhor época do ano aqui no Catar, com aquele frio gostoso à noite. O clima é esse no momento.

Lusail está 85% pronta. Você tem ido lá?
Sim. Tem bastante gente morando, tem restaurantes. Recentemente, uns amigos meus estavam aqui e os levei a Lusail. É pequeno, mas, ao mesmo tempo, gigante. Você anda uma hora e não termina. Até pouco tempo, ali era só deserto e água do Golfo. Aqui, eles não brincam em serviço (risos).

E o Lusail Stadium, palco da final. Qual é a maior ostentação possível?
Esse estádio será sensacional. Um multimilionário, por exemplo, pode ancorar no mar e ter acesso privativo direto ao estádio. Mas, isso é privilégio de alguns. A obra é gigante.

Fez o “test-drive” em alguma arena da Copa?
Treinamos no Al-Bayt e no Al-Rayann. Os dois são top. A tenda árabe (Al Bayt) é a mais linda (arena). Incrível. A velocidade com que eles constroem é sensacional. Sonham com uma Olimpíada aqui.

O que os astros da Copa vão curtir?
Os deslocamentos das seleções. Isso é fantástico. Vai ser rápido. Testamos isso aqui na Champions League da Ásia. A mobilidade impressiona. Ninguém fica muito tempo dentro do ônibus. Aí, no Brasil, o Catar demorou mais de duas horas para chegar ao Morumbi no jogo da Copa América (em 2019, contra a Colômbia).

Os embargos dos países vizinhos ainda atrapalham?
O Catar está produzindo alimentos para não depender. Você vai ao supermercado e já nota a diferença, encontra produtos nacionais.

Quais são os planos até a Copa?
Quero jogar até 2022 e fixar residência aqui. Minha mulher ama o Catar. Meus filhos estão adaptados. Foram alfabetizados em inglês, falam português e francês, que é uma opção de idioma aqui. Estamos adaptados.


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Imponente e futurista


Anfitriã da final da Copa do Catar em 2022, Lusail tem 38km². É menor do que a Região Administrativa do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) no Distrito Federal. Projetada pela Qatari Diar, construtora da família real, a cidade atrai com o discurso de mobilidade, sustentabilidade e tecnologia. A projeção é de que o espaço acomode 450 mil pessoas, sendo 250 mil habitantes regulares. A dois anos do Mundial, a população é de 20 mil moradores.

Novinha em folha, Lusail já tem Universidade, escolas para todas as idades, postos de saúde, vários prédios de serviços governamentais (companhias de luz, água e infraestrutura), postos de polícia, marinas, áreas residenciais, resorts em ilhas, distritos comerciais, lojas de luxo, instalações de lazer, uma comunidade de campo de golfe,
ilhas artificiais e vários distritos de entretenimento.

As obras continuam a todo vapor, mas Lusail está 85% pronta. Alcançará 100% em 2022. O serviço de transporte está pronto e funcionando. Há opções de metrô, VLT, ônibus, táxi convencional, por aplicativo e ciclovia.

Lusail hospeda uma academia do Paris Saint-Germain, clube bancado pelo Catar, federação do tiro, circuito de GP de Motovelocidade, abrigou o Mundial de Handebol, em 2015, numa das quadras esportivas mais sofisticadas do planeta, em que o Catar conquistou a medalha de prata, e passou a contar com um time de futebol.

O Lusail Sports Club, com sede em Lusail, foi fundado neste ano e disputa a segunda divisão da Qatar Stars League, como é chamada a liga nacional do país. “A projeção é de que eles subam para a primeira divisão em três anos. É um projeto ambicioso da família do emir”, conta o atacante brasiliense Tiago Bezerra.

Os inúmeros atrativos em um espaço tão pequeno miram o futuro. O governo deseja desenvolver uma economia baseada no conhecimento, que não dependa tanto do gás natural e do petróleo. A projeção é transformá-la em uma espécie de centro de pesquisa e desenvolvimento.

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