Relembre a trajetória do goleiro Fillol, amado por Racing e Flamengo

Considerado o melhor da América do Sul no século 20, Fillol deixou troféus nos museus dos dois clubes que se enfrentam pelas oitavas de final da Libertadores

Di Stéfano, Maradona e Messi formam a santíssima trindade dos melhores jogadores de linha no futebol argentino. Dividem súditos de diferentes gerações. No gol, há uma unanimidade: Ubaldo Matildo Fillol é a maior referência do país vizinho na posição. Eleita por jornalistas esportivos do mundo inteiro, a seleção do século 20 da América do Sul começa por ele. Fillol; Carlos Alberto Torres, Figueroa, Daniel Passarella e Nilton Santos; Maradona, Di Stéfano e Rivellino; Zico, Garrincha e Pelé.

Dono das traves da Argentina na conquista da Copa do Mundo 1978, “El Pato” teve dias de ídolo no Racing e no Flamengo — protagonistas de um dos duelos desta terça-feira (24/11) na abertura das oitavas de final da Libertadores. O confronto de ida será às 21h30, no Estádio Presidente Perón, o popular El Cilindro, em Avellaneda. Fillol foi campeão da Taça Guanabara pelo time rubro-negro em 1984. Oito anos depois, brindou o Racing com o título inédito da Supercopa dos Campeões da Libertadores na decisão contra o Cruzeiro.

Aos 70 anos, Fillol conseguiu a proeza de ser amado por três clubes sul-americanos diferentes — Racing, River Plate e Flamengo — e idolatrado com a camisa da seleção da Argentina. Foi titular nas Copas do Mundo de 1974, 1978 e 1982. Nascido em San Miguel del Monte, o goleiro iniciou a carreira no modesto Quilmes antes de desembarcar no Racing, em 1971, para consolidar uma profecia

Aos 14 anos, o adolescente trabalhava em um restaurante na cidade natal. O dono do estabelecimento o apresentou a um jogador que passava por lá. O cliente prestou atenção nas mãos do garçom e profetizou: “Vai ser goleiro”, disse o ex-meia ítalo-argentino Renato Cesarini, que fazia uma refeição no local. Fillol seguiu trabalhando.

Apesar de ter ignorado Cesarini no restaurante, Fillol virou goleiro, sim. Surgiu no Quilmes, atraiu a atenção do Racing e rapidamente chegou ao River Plate em 1973. Era a realização de um sonho familiar. Fillol é torcedor do River. Legado do pai. É tão amado clube que ostenta o título de embaixador dos millonarios.

Fillol começou a encantar no Racing. Era comandado por Ángel Labruna na primeira passagem pelo clube quando recebeu convite do River Plate. Conta a lenda que Labruna teria ameaçado acabar com Fillol se ele mudasse para outro clube que não fosse o River. Nem precisou intimidá-lo. Fillol ouviu o coração.

El Pato colecionou sete títulos no River Plate e fez escala no Argentinos Juniors antes de topar o inesquecível desafio de defender o Flamengo. Em 1984, foi comprado pelo Flamengo por US$ 125 mil, dizem os jornais da época. Chegou à Gávea para suceder o ídolo rubro-negro Raul Plassmann em uma fase de reformulação no clube.

Zico havia embarcado rumo à Itália para defender a Udinese. Tricampeão brasileiro em 1983 contra o Santos, o time passava por transformações para a temporada de 1984. Fillol virou titular. Disputou a Libertadores de 1984. Ajudou o time rubro-negro a ganhar a Taça Guanabara no Campeonato Carioca.

Segundo o Almanaque do Flamengo, Fillol disputou 71 jogos com o “manto sagrado”. Venceu 40, empatou 20 e perdeu 11. Chateado com a diretoria devido a uma convocação da Argentina, foi negociado com o Atlético de Madrid. Estava em Buenos Aires com a seleção e teria se recusado a retornar sob alegação de que o clube havia se negado a liberá-lo. Chegava ao fim a passagem do jogador pelo clube mais popular do Brasil.

Quando fala sobre o Flamengo, Fillol costuma dizer que o Flamengo mudou a vida dele. Conta que é impossível não virar outro ser humano depois de vestir a camisa rubro-negra. Adora dizer que jogou para um público de 150 mil pessoas. Exalta a felicidade de viver do povo carioca. Fez amizade com Jorginho, Leandro e Mozer. Ainda sofre com a derrota por 4 x 1 para o Corinthians pelas quartas de final do Brasileirão de 1984.

Depois da passagem pela Espanha, Fillol retornou à Argentina para uma longa segunda passagem pelo Racing, de 1986 a 1989. Deixou no museu da Academia o título da Supercopa dos Campeões de 1988. O time argentino venceu a partida de ida por 2 x 1, em Buenos Aires. Na volta, segurou empate por
1 x 1, em Belo Horizonte.