Pep Guardiola influenciou o futebol mundial no século 21 com um Barcelona viciado em ter a bola nos pés. Havia material humano mais do que suficiente para controlar os jogos. O meio de campo dos sonhos, por exemplo, era formado por Busquets, Xavi e Iniesta. O técnico de futebol mais badalado do mundo não abre mão da convicção, mas sofre para defendê-la nesta temporada. Das sete principais ligas nacionais da Europa, apenas uma é liderada pelo time que tem a pelota nos pés por mais tempo. Não é o Manchester City. Trata-se do Ajax no Holandês.
De acordo com estatísticas do site alemão transfermarkt, o clube inglês ostenta média de 63% de posse de bola. No entanto, ocupa o nono lugar na Premier League, como é chamado o Campeonato Inglês. A liderança é do antagonista histórico de Pep Guardiola. José Mourinho mantém o Tottenham na liderança com 50,3% de manejo. No início deste mês, o time do português teve 30% de posse e venceu o clássico londrino contra o Arsenal por 2 x 0. Os Gunners são comandados pelo espanhol Mikel Arteta — ex-auxiliar de Guardiola.
Criticado pelo plano de jogo defensivo em busca dos erros do adversário e do contra-ataque, José Mourinho ironizou. “Posse de bola é para os filósofos do esporte. Nunca ninguém me viu dizer, em quase 20 anos, que perdi o jogo, mas tive mais posse. Posso ter dito que não merecia ter perdido porque tive mais oportunidades, não posse de bola. Para mim, o que interessa é o que tu fazes com a bola. Nós fizemos dois gol fantásticos”, argumentou.
O guardiolismo também é atacado no Campeonato Espanhol. O Barcelona tem a segunda maior posse de bola entre os clubes das sete principais ligas nacionais da Europa ao lado do Borussia Dortmund: 64,3%. Porém, a equipe de Ronaldo Koeman ocupa o humilhante oitavo lugar em La Liga. O time catalão é disfuncional. Não há equilíbrio na defesa, meio de campo e ataque. Consequentemente, a posse de bola deixa de ser virtude do time.
Na Alemanha, colocar a bola excessivamente embaixo do braço levou o Borussia Dortmund a demitir o técnico suíço Lucien Favré. O time do brasiliense Reinier lidera no quesito posse de bola com 64,3%. Porém, amarga o quinto lugar na Bundesliga. Com um pouco menos, ou seja, 61%, o Bayer Leverkusen ocupa o topo da classificação. A diretoria do Borussia Dortmund cobra objetividade e deve arrancar o treinador Julian Nagelsmann do terceiro colocado Red Bull Leipzig, cuja posse é de 57,5%.
Em Portugal, o Benfica, de Jorge Jesus, gruda a bola nos pés nas partidas do Campeonato Português. A média é de 64%. Mais do que os 58,8% registrados por ele na campanha do título brasileiro do Flamengo no ano passado. Entretanto, a liderança da Liga NOS é do Sporting. O arquirrival ostenta média de 58,5%. O ranking da posse de bola também frustra Paris Saint-Germain e Juventus no Francês e no Italiano, respectivamente. Lille e Milan fazem mais do que os concorrentes tendo menos tempo a bola nos pés (leia arte).
Exceção
O Ajax é exceção à regra: ostenta a maior posse de bola entre as sete principais ligas nacionais da Europa com 66,1% e lidera o Campeonato Holandês. O time de Erik ten Hag traduz o domínio sobre os adversários em gols. São 47 em 30 jogos nesta temporada — média de 1,56. O segundo melhor ataque contabiliza 26 bolas na rede.
O Flamengo vai na contramão do Ajax. Comandado por quatro meses pelo ex-auxiliar de Guardiola, Doménec Torrent, o time rubro-negro tem a maior posse de bola do Brasileirão (61,1%). A liderança do campeonato é do São Paulo. Tão apaixonado pela bola quanto os guardiolistas, Fernando Diniz mantém o São Paulo no topo com 58,1% e tem o segundo melhor ataque da Série A ao lado do Flamengo (42 gols), dois atrás dos 44 do Atlético-MG.
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