Muitos skatistas sonham com uma pista no quintal de casa para andar a qualquer hora. Aos 23 anos, Yndiara Asp conseguiu tirar a ideia do papel e está construindo um “bowl” na casa do pai, em Florianópolis. É lá onde poderá praticar com mais frequência, testar manobras e se preparar para a estreia do skate no programa olímpico dos Jogos de Tóquio, em julho. “Vai ficar uma pista bem boa”, orgulha-se a atleta, considerada uma das melhores do mundo na categoria park.
No local, havia uma antiga pista, bem menor, que ela conseguiu fazer quando tinha 15 anos. “Na época minha avó me ofereceu uma grana de aniversário. Podia usar para viagem ou alguma outra coisa, mas como estava me apaixonando pelo skate, resolvi investir em material de construção e meu pai acabou fazendo com as próprias mãos. Ela tinha, mais ou menos, o tamanho de um carro”, conta.
Ela aprendeu algumas manobras e também a cair e levantar. Agora, resolveu dar um passo maior com o dinheiro de três patrocinadores que ajudaram na empreitada. “A Red Bull, o banco BV e a Vans estão me ajudando e essa pista terá o meu estilo. Ela terá mais ou menos 11m x 8m e será metade de uma pista profissional. É muito bom poder pegar e fazer uma pista do jeito que eu gosto, então, estou fazendo uma que favorece meu estilo e para aprender mais”, diz.
Para executar o projeto, ela pensou nas coisas que mais gosta de fazer quando anda de skate. A pista de park, onde será a competição olímpica, é maior que o bowl e possui mais rampas, mas ter um espaço bom no quintal de casa ajudará na preparação de Yndiara. “Está em processo de construção e vai usar quase todo meu terreno. Se não fosse aquela primeira, talvez nunca tivesse essa nova. Então, quero que seja um lugar onde possa andar com meus amigos na hora que eu quiser. Vários deles estão loucos para vir aqui”, revela.
Cirurgia
A nova pista também é um grande estímulo para Yndiara, que nas duas últimas temporadas sofreu com lesões. Em 2019, acabou se machucando e não conseguiu disputar o Mundial de Park, realizado no Brasil, em um momento em que estava cotada para o pódio. Depois veio a pandemia e se machucou novamente. “Eu tive duas lesões meio sérias e estou me recuperando de uma cirurgia no tornozelo. Então, estou voltando a andar de skate”, explica.
A primeira competição no ano será em Criciúma, também em Santa Catarina. A intenção é voltar a ter ritmo para chegar bem na Olimpíada. No momento, ela é 13ª no ranking mundial e seria a terceira brasileira classificada na modalidade. Se tivesse conquistado pontos no Mundial, poderia estar em situação melhor. “Gosto de viver o momento, aprendi isso com a pandemia. Quero voltar a andar e me sentir bem. O pé está firme e quero evoluir e conseguir participar dos campeonatos.”
Foi no skate que Yndiara encontrou a paixão e acabou abrindo mão da faculdade de educação física para se dedicar apenas ao esporte. “É meu trabalho, meu hobby e minha vida. O que eu sinto é que, quando você encontra algo que você ama, consegue se dedicar e as coisas vão dar certo. O esporte é uma das coisas mais incríveis, pois ensina sobre vida, saúde, superação, autoconhecimento. Viver disso é um sonho”, afirma.
Enquanto vai recuperando a boa forma, Yndiara espera a pista ficar pronta e vai acompanhando a evolução das adversárias. “De uns anos para cá, o nível do skate aumentou muito. Você pisca e alguma atleta aprendeu uma manobra bem difícil que antes não fazia. Então, na Olimpíada, tudo pode acontecer, não dá para ter certeza de nada”, diz.
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Necessidade de contínua evolução
Campeã mundial de street, a skatista Pâmela Rosa tem tudo para ser um dos principais nomes da delegação brasileira nos Jogos de Tóquio, quando a modalidade fará a estreia no programa olímpico. A atleta de 21 anos vinha em um ótimo momento quando chegou a pandemia da covid-19 e paralisou todas as competições esportivas.
Para não perder tempo, ela comprou obstáculos e adaptou um pequeno espaço na garagem de casa, em São José dos Campos, para continuar treinando as manobras. O objetivo é chegar bem na Olimpíada e, quem sabe, confirmar o favoritismo e ganhar o primeiro ouro da história do skate nos Jogos.
Como você tem lidado com a pandemia do novo coronavírus?
Eu vinha de um 2019 muito bom, mas infelizmente aconteceu tudo isso e seguramos tudo o que estava programado. Foi ruim, mas, por outro lado, foi bom porque consegui treinar mais. Meus pais têm um pouco mais de idade, então procurei me cuidar.
Você conseguiu treinar nesse período?
A gente conseguiu comprar uns obstáculos e treinamos na garagem de casa. Então, aproveitava isso para não ficar parada, pois uma atleta precisa sempre evoluir. O nível no skate está crescendo bastante.
Você é considerada, talvez, a maior chance de ouro do Brasil em Tóquio. Esperava ter esse “peso” nas costas?
Eu não levo isso como algo ruim, eu levo como uma coisa boa, que as pessoas estão torcendo por mim. Vou dar meu melhor, mas tento pensar que será uma competição como outras. Vou fazer o que posso para trazer um bom resultado.
Curiosamente, as principais atletas que podem tirar o ouro de você são brasileiras, como a Rayssa Leal e a Leticia Bufoni. Como é a relação entre vocês?
Todas as skatistas que estão entre as 20 classificadas têm como objetivo ganhar a competição, então, eu coloco todas com chances. Cada dia que passa, eu me surpreendo ainda mais com a qualidade delas. Sempre vai ser assim. Sobre a Rayssa e a Leticia, somos muito amigas. Nos campeonatos, sempre tem uma incentivando a outra. Isso é normal no skate, até com outras atletas. Claro que cada uma está com um objetivo, mas a amizade continua.
Você é a atual campeã mundial de street e tem deixado um grande legado no skate. Como se sente?
Eu fico muito feliz de incentivar e inspirar muitas meninas que estão começando a andar de skate. Tenho orgulho enorme de estar com elas, estamos ali para nos divertir. O skate mudou muito e estamos felizes, porque está crescendo demais. Agora, estamos muito focadas para ir bem na Olimpíada.
Você acabou de anunciar mais um patrocínio. Essa entrada do skate no programa olímpico também atraiu mais investimentos?
Eu acho que todo apoio vem para somar. Eu acabei de acertar com a BV e tenho ainda Nike, G-Shock, TNT, Avon. Sem contar Bolsa Atleta e recursos da CBSk. Acho importante ter patrocínios de fora do mundo do skate também, é uma tendência. Acabei de fechar com um novo patrocinador e outros atletas também. Tenho ainda a parceria de uma construtora de São José dos Campos. Antes, era um esporte marginalizado, mas as marcas de fora estão de olho.
Sua situação financeira melhorou também?
Todo mundo fala que eu estou ficando rica, mas não é isso (risos). A gente acaba investindo muito na minha carreira. Por exemplo, eu não viajo sem minha mãe ou meu empresário. Por isso, ter patrocinadores ajuda muito. Na pandemia, contei com personal, fisioterapeuta... Tudo que faço é para o nosso bem e cada dia que passa investimos mais.
Os atletas costumam ter pouco tempo para a vida social. Como é isso para você?
Eu consigo conciliar muito bem. Claro que tenho saudade do futebol ou da escola de samba, mas sei que meu momento, agora, é o skate. Ele é o nosso trabalho e, depois, que vierem os resultados vou poder curtir.
Está otimista para a disputa olímpica em Tóquio? Estipulou uma meta?
Eu curto cada competição, pode ser de Street League, STU ou qualquer outra. Não posso pensar na Olimpíada antes dela. Meu foco é assim.