SÉRIE B

Projeções apocalípticas

Revivendo erros do primeiro rebaixamento e sem perspectivas de ressurgir, Cruzeiro deve amargar mais uma temporada na segunda divisão. Jogadores e o técnico Felipão exibem descontentamento com o clube

Danilo Queiroz
postado em 14/01/2021 22:55
 (crédito: Bruno Haddad/Cruzeiro)
(crédito: Bruno Haddad/Cruzeiro)

Na última quarta-feira, no Independência, pela 34ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro foi derrotado por 2 x 0 pelo lanterna Oeste e, praticamente, deu adeus ao sonho de acesso à primeira divisão. Na visão fria da matemática, observando-se apenas os números em disputa, o time celeste cultiva remotas chances de subir. Porém, a realidade mostra um cenário bastante cruel. No horizonte da equipe das cinco estrelas, não há nenhum sinal de esperança que faça os torcedores acreditarem em uma retomada na atual temporada, ameaçando, até mesmo, a próxima, que marca o centenário da Raposa.

Na saída de campo, após o mais recente resultado negativo, o atacante Rafael Sóbis, um dos principais líderes do atual elenco celeste, deixou no ar uma projeção apocalíptica sobre a preocupante situação do clube mineiro. “O momento é difícil, os jogadores que estão aqui são heróis, porque tem muita coisa acontecendo. É muito difícil mesmo. As pessoas não sabem 10% do que está acontecendo. Vamos seguir lutando, honrando a nossa camisa e fazer o melhor para o Cruzeiro até o fim. Vou segurar e, na hora certa, vocês vão saber. Perdemos e não é o momento de fazer polêmica”, disse.

O saldo dos 10% conhecidos do problema, porém, é negativamente avassalador. A crise escancarada nos meses que antecederam o primeiro rebaixamento celeste tomaram contornos ainda mais drásticos durante a temporada que deveria servir de recomeço. Em 13º lugar, o Cruzeiro paga o preço por erros de planejamento que vão muito além da punição aplicada pela Fifa, em março, que fez o time azul começar a Série B com seis pontos a menos. A causa foi o não cumprimento de uma ordem de pagamento emitida pela entidade referente à dívida do clube com o Al Wahda, pelo empréstimo do volante Denílson.

Inerte, a diretoria liderada por Sérgio Santos Rodrigues acumulou erros cruciais na campanha. Atualmente, o Cruzeiro deve dois meses e meio de salários aos jogadores, além do pagamento do 13º. Em rota de choque com os cartolas na briga pelos direitos, os atletas optaram por não se concentrar antes da derrota para o Oeste. Apoiando o elenco, o técnico Luiz Felipe Scolari também não fala a mesma língua da diretoria. Contratado sob promessas de um projeto sólido, o experiente treinador viu uma realidade diferente. “O problema do Cruzeiro é mais sério do que eu imaginava quando cheguei”, constatou.

Por parte dos dirigentes celestes, não há nenhum sinal de prazo para resolução das questões. Para piorar, nos bastidores, as sentenças exigindo pagamentos de dívidas se acumulam. Em 2020, duas condenações chegaram a proibir o clube de registrar contratos de novos jogadores. A última delas, nesta semana, chega a R$ 2,4 milhões. Por débitos de FGTS, a União exigiu, ainda, a quitação de R$ 8 milhões até segunda-feira, sob o risco de penhora de bens. Devendo cerca de R$ 1 bilhão, o clube tornou-se o maior devedor do país e corre o risco de ter ainda mais problemas na próxima temporada.

“O momento é difícil, os jogadores que estão aqui são heróis. É muito difícil mesmo. As pessoas não sabem 10% do que está acontecendo. Vamos seguir lutando até o fim. Na hora certa, vocês vão saber”

Rafael Sóbis, atacante do Cruzeiro


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Erros de gestão refletidos nos gramados

Os erros cometidos fora de campo acabaram influenciando o desempenho do Cruzeiro na Série B. Durante a temporada, o clube mineiro não frequentou o grupo de acesso para a primeira divisão e passou boa parte do torneio flertando com uma queda para a Série C. Ao todo, foram nove rodadas agonizando entre os quatro últimos. Apesar de remota, a chance de rebaixamento para terceira divisão ainda é real. Segundo a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a probabilidade de acontecer está em 0,046%.

Grande parte do namoro com o Z-4 é justificada pelo desempenho como mandante. Foram 17 partidas atuando no Mineirão ou no Independência, com aproveitamento de 41,18%: seis derrotas, seis empates e quatro vitórias — saldo de 24 pontos perdidos em casa. Este foi o pior desempenho do Cruzeiro em Minas Gerais em disputadas do Campeonato Brasileiro. Ocupando a vice-lanterna no quesito, o time mineiro está à frente apenas do lanterna Oeste.

Assim, durante o ano, o acesso foi se tornando um sonho cada vez mais distante para o time celeste. Com 44 pontos conquistados, os mineiros precisariam ganhar as quatro últimas partidas para chegar aos 56 e, com uma combinação improvável de resultados, ultrapassar Cuiabá ou CSA, que, hoje, fecham o G-4 da Série B. América-MG e Chapecoense carimbaram antecipadamente o acesso. A probabilidade de sucesso na jornada é de somente 0,16%, de acordo com os cálculos da UFMG. (DQ)

R$ 1 bilhão


Estimativa de dívida do Cruzeiro

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