A entrevista - Ariane Helena

Nasce uma heroína

Maior pontuadora geral da Superliga Feminina, a oposta de 25 anos lidera o Brasília na fuga da zona de rebaixamento. Mais do que isso, pode conduzir o time da capital do país à classificação aos playoffs

Maíra Nunes
postado em 02/02/2021 22:49
 (crédito: Nadine Oliver/Brasília Volei)
(crédito: Nadine Oliver/Brasília Volei)

Quando ainda nem sonhava tornar-se jogadora de vôlei, Ariane Helena despertou o interesse de um professor da escola por causa da altura que tinha. Aos 25 anos, medindo 1,91m, a oposta é o destaque do Brasília Vôlei e figura como a maior pontuadora geral da Superliga 2020/2021, com 227 acertos. Em entrevista ao Correio, ela conta como avalia o momento especial em que desponta no cenário nacional do vôlei e como se prepara para realizar o sonho de um dia integrar a Seleção Brasileira.

Após a retomada das competições de vôlei no Brasil, a pandemia não poupou o time da capital federal logo no começo da Superliga A. O surto no grupo contribuiu para a queda de desempenho e, consequentemente, na tabela até a zona de rebaixamento. O novo coronavírus, porém, pegou praticamente todas as equipes em diferentes momentos do campeonato. A volta por cima do Brasília se deu em 2021. Até o momento, o representante do DF conquistou quatro vitórias em cinco jogos. Na oitava posição, a última a garantir a classificação aos playoffs do torneio, o time soma 16 pontos, com seis vitórias e nove derrotas.

Diante de uma temporada atípica pelos desafios impostos pela pandemia, Ariane não perde o foco em mostrar trabalho, principalmente diante de adversários comandados por treinadores consagrados, como é o caso do jogo da próxima segunda-feira, às 19h, contra o Sesc Flamengo, do técnico Bernardinho.

Em 2021, o Brasília Vôlei mostra um desempenho bem diferente do que ocorreu no ano passado, quando figurou na zona de rebaixamento. O que fez o time mudar?
Eu acredito muito no trabalho que está sendo feito pelo técnico Rogério Portela e a comissão técnica. Sabíamos que seria uma Superliga muito competitiva. O Rogério vem trabalhando a nossa equipe desde agosto. Sabíamos o que enfrentaríamos e que também era questão de momento até o nosso jogo encaixar. E, agora, estamos conseguindo trazer o espetáculo para o torcedor de Brasília. Estamos em uma crescente e ainda temos muito para evoluir.

Como avalia o nível da temporada e quais são os objetivos do time?
A Superliga está muito parelha, desde os cinco grandes que brigam na parte de cima da tabela até o meio da classificação para baixo. Jogos disputadíssimos em que o detalhe de quem erra menos leva vantagem. Para nós, todos os jogos são desafios importantes que estão ajudando na nossa classificação. Estar entre os oito primeiros é mais um objetivo alcançado. Antes, o nosso objetivo era sair da zona de rebaixamento, depois era se distanciar dessa zona e, agora, é nos mantermos entre os oito melhores para nos classificarmos para os playoffs, tentando uma subida na tabela.

Acredita que a pandemia colaborou para esse nivelamento entre os clubes na competição?
A pandemia acabou comprometendo todo mundo. Sabemos que a covid-19 não é brincadeira, que ainda existe e que precisa ter todo o cuidado, mas isso acabou nivelando um pouco mais a Superliga. Quando o Brasília ganhou do Osasco, percebemos que conseguimos ganhar de time grande. Temos totais condições de enfrentar os maiores rivais de igual para igual.

Como a covid-19 afetou o Brasília?
O Brasília pegou a covid-19 no começo da Superliga. O nosso time não sofreu tanto no meio do campeonato como alguns clubes vêm sofrendo, agora, com a remarcação de jogos e tudo mais. Mas, para todos, o retorno após pegar a covid é muito complicado. Por mais que o atleta tenha ficado assintomático, como foi o meu caso, sentimos muito em ter de ficar tanto tempo paradas. No nosso caso, apesar dos jogos remarcados e das dificuldades pela infecção no início da competição, depois, conseguimos pegar uma constância de crescente grande, que é o diferencial do nosso time agora.

Como você se preparou durante a fase de lockdown?
Ficamos paradas de março a setembro, o que é muito tempo para uma atleta. Então, tivemos de nos reorganizar e nos adaptarmos. Eu malhava e estudava em casa, assistia aos jogos de outras temporadas para poder aprender mais e melhorar.

Você estuda seus jogos?
Costumo estudar tanto os meus jogos quanto os de outras adversárias, porque temos aquelas atletas em que nos inspiramos e vejo para aprender o que posso melhorar, o que posso levar de diferente para os treinos e o que tenho de manter. Para qualquer atleta, é importante se autoavaliar para saber onde está errando e estar preparada para mudanças, melhorar no que precisar.

Quais atletas te inspiram?
Inspiro-me muito na Tandara, eu me vejo muito nela. Eu gosto de jogar como ela, com a torcida, com vibração, puxando o time. A forma como ela se comporta dentro de quadra é grandiosa.

Você é a maior pontuadora da liga. Como avalia o seu momento?
Eu gradeço muito a Deus por tudo que vem me proporcionando, agradeço a toda a equipe, ao trabalho do Rogério e da comissão, porque é uma conquista individual fruto de uma esforço coletivo. Estou muito feliz de mostrar quem é a Ariane. A intenção é ganhar cada vez mais espaço na Superliga para que, no futuro, tenha porta de emprego muito maior do que hoje.

Você veio para o Brasília Vôlei em 2019, para disputar a Superliga B. O que te atraiu no time?
Sempre tive vontade de trabalhar com o Rogério. Quando apareceu a oportunidade, aceitei. Sou muito de energia e senti uma sensação muito boa quando a minha empresária me passou essa proposta e estava com o coração tranquilo de aceitar. Desde então, Brasília e a torcida me acolheram muito bem, sinto-me em casa. É o maior presente que eu poderia ter.

Como foram as experiências nas categorias de base da Seleção?
Fui convocada em 2012, 2014 e 2015. Em 2014, jogamos o Sul-Americano, em que conquistamos o título na Colômbia. No ano seguinte, ficamos em segundo lugar no Mundial, em Porto Rico.

Alimenta o sonho de também chegar à Seleção Brasileira adulta?
Todo atleta sonha com Seleção e o título olímpico. Comigo não seria diferente. Sei que tem muito chão pela frente e muitas coisas para serem conquistadas. Mas eu sonho e venho trabalhando constantemente com a minha psicóloga para estar com a mente e o corpo preparados para quando acontecer. Estou trabalhando para isso.

Qual a importância da Superliga para alcançar seus objetivos? A competição conta com técnicos que atuam na Seleção, como José Roberto Guimarães e Paulo Coco, treinador e auxiliar da equipe brasileira feminina, além de Bernardinho, ex-técnico do time masculino.
Vejo a Superliga como uma vitrine muito grande para qualquer time no Brasil e fora. Jogar um torneio em que o técnico da Seleção pode te avaliar quando for te enfrentar é uma oportunidade muito grande. Assim como jogar contra o Bernardinho, porque todo mundo tem o sonho de trabalhar com ele. Mostrar o meu trabalho e o que sou capaz para grandes técnicos, fazendo o que gosto, é muito gratificante.

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