MUNDIAL DE CLUBES

Ele quer distância do Brasil

Carioca da gema, técnico do Tigres acumula estabilidade de 11 anos, jamais quis trabalhar em seu país natal devido ao desrespeito dos clubes aos profissionais e ameaça desbancar Bayern de Munique

Correio Braziliense
postado em 09/02/2021 22:14
 (crédito: Alex Menendez/AFP - 15/12/20)
(crédito: Alex Menendez/AFP - 15/12/20)

Aos 66 anos, 11 como técnico do mexicano Tigres, Ricardo Ferretti é uma espécie rara pela longevidade no cargo. A isso, soma-se a façanha de levar sua equipe à final do Mundial de Clubes da Fifa, amanhã, contra o Bayern de Munique. A estabilidade do “Alex Ferguson” ou “Arsène Wenger” do futebol mexicano atesta que a experiência e a continuidade podem ser um valor no futebol moderno.

No mundo em que a permanência de um treinador à frente de um time, às vezes, depende do resultado de seu próximo jogo, e em que projetos de curto prazo e a impaciência dos dirigentes muitas vezes restringem o trabalho dos treinadores, o brasileiro Ricardo Ferretti se estabeleceu com uma base sólida no clube San Nicolás de los Garza, onde se tornou uma instituição local.

Questionado, em 2015, por que jamais assumiu um time brasileiro, ele disparou: “Não tenho o menor interesse em ser treinador no Brasil. Não posso estar onde não se respeita o trabalho dos técnicos”, disparou à época, quando levou o Tigres à final da Libertadores contra o River Plate.

“Gosto de fazer o que faço. Este esporte é um dos mais bonitos do mundo e me sinto muito grato por pertencer a ele. Sinto-me muito grato por estar, desde que comecei como jogador até hoje, fazendo a mesma coisa há 53 anos”, confessa Ferretti, ex-jogador do Botafogo, Vasco, Bonsucesso e de vários clubes do México.

O salto de qualidade do Tigres na última década está cimentado em torno do brasileiro, que pode ter como ponto alto a conquista do título do Mundial de Clubes. A trajetória de “Tuca” Ferretti, nascido há 66 anos no Rio de Janeiro e assim apelidado, segundo ele mesmo, por ter sido ‘Tuca’ a primeira palavra que falou quando criança, reflete um progresso constante.

Se suas duas primeiras experiências como técnico do Tigres, entre 2000 e 2003, e alguns meses em 2006, terminaram sem dor e sem glória, desde seu retorno, em 2010, o clube Felino deixou de ser um time que lutava para não ser rebaixado para se tornar finalista de uma competição internacional.Desde então, ele não parou de elevar o nível do Tigres.

Ferretti venceu o campeonato mexicano cinco vezes, três vezes a Copa dos Campeões e a Copa do México 2014 com o time de Monterrey, além da Liga dos Campeões da Concacaf em 2020, após três derrotas na maior competição da América do Norte, Central e Caribe.

“Há 10 anos, essa equipe tem mostrado grande capacidade e nestas três finais que perdemos, como sempre, há circunstâncias que acontecem, até perdemos uma nos pênaltis quando tínhamos toda a vantagem. Mas o fato de ter vencido nos tira essa pressão desnecessária que sofremos e agora vamos tentar fazer um grande papel no Mundial de Clubes”, previu Ferretti antes do início do torneio organizado pela Fifa.

Tuca é o segundo treinador na história do futebol mexicano há mais tempo no comando de um time, atrás de Javier de la Torre — 13 anos à frente do Guadalajara. “Para mim, não é tedioso nem entediante, porque faço o que amo, porque futebol é minha paixão e no dia que eu não sentir isso 100%, vou me afastar”, avisa Ferretti, um treinador que ainda não passou uma temporada longe da função desde que se tornou técnico, em 1991.

Pumas, Guadalajara, Toluca, Morelia e a seleção do México foram comandados por um profissional impetuoso durante o jogo e, às vezes, também nas entrevistas, mas isso levou o Tigres a deixar de ser uma equipe que lutava contra o rebaixamento no campeonato nacional para, agora, decidir o título do Mundial de Clubes da Fifa.

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Alemães lutam para exorcizar fantasma mexicano

A final do Mundial de Clubes desperta um fantasma na legião de alemães do Bayern de Munique: a memória da vitória do México sobre a Alemanha por 1 x 0 na Copa do Mundo 2018 lembra que o pequeno pode vencer um gigante.

Em 17 de junho de 2018, a seleção alemã deu início à defesa do título mundial conquistado no Brasil quatro anos antes. Os alemães eram os rivais a serem batidos. As apostas indicavam quantos gols marcariam na equipe mexicana na primeira partida do Grupo F, no estádio Luzhniki, em Moscou.

Mas um gol de Hirving Lozano tirou das nuvens a equipe dirigida por Joachim Löw, que acabaria eliminada da competição na primeira fase do torneio como lanterna da chave, enquanto o México passaria às oitavas em segundo lugar.

Capitão do Bayern, o goleiro Manuel Neuer estava em campo naquela partida que determinaria o destino da seleção da Alemanha no Mundial 2018. Agora, Neuer terá na frente o francês André-Pierre Gignac, o colombiano Luis Quiñones ou o paraguaio Carlos González como atacantes do Tigres, que buscarão repetir o feito da seleção dirigida por Juan Carlos Osorio no estádio russo.

“Lembro-me do jogo de 2018 contra o México, e não é uma memória positiva”, confessou Neuer após a classificação para a decisão do Mundial de Clubes da Fifa, com a vitória por 2 x 0 sobre o egípcio Al-Ahly.

O goleiro também sabe o que é sofrer um gol de um jogador do Tigres. Gignac, quando atuava pela seleção da França, marcou um dos gols na vitória por 2 x 0 sobre os alemães num amistoso em novembro de 2015.

Mas Neuer não é o único integrante do clube de Munique a ter vivido a derrota para os mexicanos na Rússia. Joshua Kimmich, Jérôme Boateng e Thomas Müller também disputaram aquela partida. Leon Goretzka e Niklas Süle estavam entre os reservas.

Todos eles vão querer uma espécie de vingança simbólica contra o time mexicano, que conta os zagueiros Carlos Salcedo e Hugo Ayala e o lateral Javier Aquino, que defendiam a seleção norte-americana em Moscou.

A motivação não faltará para um Bayern que buscará o sexto título referente à temporada de 2020. “Olhamos para a final e desejamos a vitória”, acrescentou Neuer.

O treinador do Bayern, Hansi Flick, não precisa recorrer a essas memórias para avaliar a dificuldade que o duelo contra o time do México representará. “Eu vi o time mexicano na outra semifinal, é um time muito bom, muito atlético, muito bom, talentoso. Viajamos para o Catar porque queremos conquistar outro título. O Tigres me impressionou muito, sua forma de administrar o jogo, acho que eles mereceram uma vaga na final”, acrescentou.

 

Palmeiras mira Al Ahly

O Palmeiras segue no Catar, desta vez se preparando para a partida contra o Al Ahly, do Egito, pela disputa de terceiro lugar do Mundial de Clubes. Sendo assim, o clube realizou, ontem, mais uma sessão de treinamentos. Desta vez, o treinador Abel Ferreira e equipe técnica, contando com todos os atletas disponíveis, realizou treino tático, visando aprimorar inversões, transições e saídas de bola. O confronto entre Palmeiras e Al Ahly, que define o terceiro e o quarto colocado será amanhã, às 12h.

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