Em uma das edições mais equilibradas da era dos pontos corridos do Campeonato Brasileiro, o Flamengo não conseguiu ser soberano como na conquista do título em 2019. A base do elenco foi quase a mesma depois das saídas de Rafinha e Pablo Marí, mas o desempenho ficou muito aquém daquele que o torcedor se familiarizou sob o comando do português Jorge Jesus. Com o espanhol Domènec Torrent no lugar do português, o time rubro-negro começou o campeonato com duas derrotas, perdeu jogadores importantes por lesão por causa de lesão em períodos longos e não teve regularidade. Como o grito de campeão ficou guardado para a última rodada, a conquista lembrou a emoção travada no título nacional conquistado por Adriano, Petkovic e Cia., em 2009.
O Flamengo desta temporada, no entanto, coroa o elenco de mais qualidade do cenário nacional. Sob comando do ex-goleiro Rogério Ceni, a equipe voltou a apresentar um futebol ofensivo e com grande volume de jogo. O quarteto fantástico formado por Arrascaeta, Everton Ribeiro, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa retomou a velocidade associada ao alto poder de criação. Assim, o personagem mais goleador deles tornou a fazer o que sabe de melhor. Gabigol marcou nos seis jogos de arrancada do Flamengo na reta final do Brasileiro. Mesmo afastado por mais de 40 dias dos gramados por causa de contusão, o camisa 9 chegou à última rodada com 14 gols no campeonato.
O sucesso do time passa, ainda, pelos pés de Gerson. O jogador de 23 anos esbanja força física e habilidade no meio de campo rubro-negro. Mas as turbulências durante a temporada foram muitas. A irregularidade e as goleadas sofridas com o técnico Domènec Torrent motivaram a demissão dele e aumentaram o ambiente de incertezas no clube.
O substituto chegou com o discurso de recuperar o estilo de Jorge Jesus e alimentou as expectativas do torcedor. Porém, Rogério Ceni amargou a eliminação na Libertadores contra o Racing, no Maracanã, e na Copa do Brasil, diante do São Paulo, logo no início do trabalho à frente do clube, no fim de novembro e início de dezembro de 2020.
Foi após a virada do ano que o cenário começou a mudar para o Flamengo. Rogério Ceni mostrou coragem para manter a briga do clube viva pelo título. O treinador inovou ao deslocar o volante Willian Arão para a zaga, ao lado de Rodrigo Caio, e deixou o time ainda mais ofensivo ao escalar o meia Diego no papel de volante.
Bastante criticado pelas substituições no segundo tempo, o comandante também precisou ter pulso firme para lidar com as insatisfaçôes de Gabigol a cada vez que o retirava para o banco com o jogo em andamento. A recompensa veio no abraço e a vibração incontrolável do atacante com chefe Rogério Ceni quando o árbitro validou o gol do camisa 9 sobre o Corinthians, na antepenúltima rodada. Com o bicampeonato, que não acontecia desde a Era Zico, o Fla amplia sua dinastia.
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Um ídolo com cheiro de gol
Aos 24 anos, Gabriel Barbosa Almeida cravou o nome mais uma vez na história do Flamengo. Empolgados pela atuação heroica do camisa 9 nas conquistas do Brasileirão e da Libertadores de 2019, os rubro-negros comemoraram a notícia da permanência de Gabigol no clube. Ele assinou contrato até dezembro de 2024.
O início da campanha pelo bi-campeonato nacional, porém, foi frustrante. A plaquinha com o mantra “Hoje tem gol do Gabigol”, famosa na temporada anterior, não funcionou nas três primeiras rodadas — em duas delas, o Flamengo perdeu os jogos. Depois o atacante desencantou. Balançou as redes em cinco partidas seguidas no campeonato até sofrer a principal lesão da carreira.
Em 30 de setembro, o jogador teve diagnosticada entorse ligamentar no tornozelo direito no confronto com o Independiente del Valle, pela Libertadores, que o deixou fora dos gramados por mais de 40 dias. O retorno, em novembro, ocorreu quando o time se mostrava instável.
Na vitória sobre o Grêmio, por 4 x 2, em 28 de janeiro deste ano, Gabriel Barbosa voltou a ser o Gabigol. O dono de uma canhota poderosa deixou a marca dele nos seis jogos consecutivos que marcaram a arrancada rubro-negra, incluindo a “final antecipada” contra o Internacional, que colocou o time na liderança nesta edição pela primeira vez. (MN)
Campanha para ficar na memória
9/8/20 – Flamengo 0 x 1 Atlético-MG
12/8/20 – Atlético-GO 3 x 0 Flamengo
15/8/20 – Coritiba 0 x 1 Flamengo
19/8/20 – Flamengo 1 x 1 Grêmio
23/8/20 – Flamengo 1 x 1 Botafogo
30/8/20 – Santos 0 x 1 Flamengo
2/9/20 – Bahia 3 x 5 Flamengo
5/9/20 – Flamengo 2 x 1 Fortaleza
9/9/20 – Fluminense 1 x 2 Flamengo
13/9/20 – Ceará 2 x 0 Flamengo
27/9/20 – Palmeiras 1 x 1 Flamengo
4/10/20 – Flamengo 3 x 1 Athletico-PR
7/10/20 – Flamengo 3 x 0 Sport
10/10/20 – Vasco 1 x 2 Flamengo
13/10/20 – Flamengo 2 x 1 Goiás
15/10/20 – Flamengo 1 x 1 Bragantino
18/10/20 – Corinthians 1 x 5 Flamengo
25/10/20 – Inter 2 x 2 Flamengo
1º/11/20 – Flamengo 1 x 4 São Paulo
8/11/20 – Atlético-MG 4 x 0 Flamengo
14/11/20 – Flamengo 1 x 1 Atlético-GO
21/11/20 – Flamengo 3 x 1 Coritiba
5/12/20 – Botafogo 0 x 1 Flamengo
13/12/20 – Flamengo 4 x 1 Santos
20/12/20 – Flamengo 4 x 3 Bahia
26/12/20 – Fortaleza 0 x 0 Flamengo
6/1/21 – Flamengo 2 x 1 Fluminense
10/1/21 – Flamengo 0 x 2 Ceará
18/1/21 – Goiás 0 x 3 Flamengo
21/1/21 – Flamengo 2 x 0 Palmeiras
24/1/21 – Athletico-PR 2 x 1 Flamengo
28/1/21 – Grêmio 2 x 4 Flamengo
1/2/21 – Sport 0 x 3 Flamengo
4/2/21 – Flamengo 2 x 0 Vasco
7/2/21 – Bragantino 1 x 1 Flamengo
14/2/21 – Flamengo 2 x 1 Corinthians
21/2/21 – Flamengo 2 x 1 Inter
25/2/21 – São Paulo 2 x 1 Flamengo
Ceni, nono campeão como jogador e técnico
Aos 48 anos, o ex-goleiro Rogério Ceni é o nono a conquistar o Brasileirão como jogador e técnico. Entra na lista com Paulo César Carpegiani, Carlos Alberto Torres, Ênio Andrade, Pepe, Joel Santana, Emerson Leão, Muricy Ramalho e Andrade.
Quis o destino que a conquista fosse no palco que abriu as portas para ele quando era um jovem paranaense chegando do Mato Grosso, aos 17. No Morumbi, morou por quatro anos antes de se tornar o maior ídolo do São Paulo.
Foi o jogador que mais atuou (594 vezes) e venceu (375) na arena tricolor, levantando sete troféus antes de aposentar as luvas. O roteiro da vida de Rogério Ceni o fez voltar ao palco onde se profissionalizou como atleta para conquistar o principal título como técnico, mas pelo Flamengo.
A trajetória vitoriosa que teve pelo Fortaleza o credenciou. Em quase três anos Tricolor de Aço, foi campeão da Série B com duas rodadas de antecedência em 2018, conquistou a Copa do Nordeste em 2019 e levantou o Cearense em 2019 e 2020. Nesse período, teve curta passagem pelo Cruzeiro, na tentativa de salvá-lo do rebaixamento, mas foi demitido.
Chegou ao Flamengo em 10 de novembro de 2020, um dia após o desligamento oficial do espanhol Domènec Torrent. Não evitou a eliminação nas quartas de final da Copa do Brasil, diante do São Paulo, nem nas oitavas da Libertadores, para o Racing. Mas fecha a temporada quebrandoo jejum rubro-negro de 37 anos sem a conquista do bicampeoanto. (MN)
Festa do Fla, tristeza do Inter
Após a apreensão dos minutos finais das duas partidas - os jogadores do Flamengo chegaram a acompanhar o empate do Internacional em celulares -, os rubro-negros iniciaram uma efusiva comemoração. Antes tenso e esperando o apito final do Beira-Rio isolado, Rogério Ceni vibrou bastante com jogadores e membros da comissão técnica. A carimbada de faixa promovida pelo São Paulo logo virou coisa do passado e deu lugar à vibração e provocações.
Em meio aos abraços, os jogadores sacaram os celulares para fazer lives. Um dos mais empolgados, Gabigol mandou um recado para o colorado Thiago Galhardo em resposta ao sinal de ‘cheirinho’ feito para os rubro-negros “Não foi artilheiro, nem campeão”, provou o flamenguista.
No Beira-Rio, os colorados lamentaram terem batido na trave. Desolados, os atletas choraram no gramado. Destaque do time gaúcho, o meia Patrick ressaltou a necessidade de sentir a dor do vice. “Faltou um gol. Estávamos esperando por esse resultado há 41 anos. Independente disso, quem já está há muito tempo... Chegamos perto. Não tem como não sentir.”
Até mesmo Domenèc Torrent fez parte da festa. O espanhol, treinador do rubro-negro até a 20ª rodada, compartilhou uma foto divulgada pelo clube em comemoração ao bicampeonato. No ápice da festa, os rubro-negros voltaram a repetir o tradicional gesto dos títulos de 2019 e 2020. Com, a braçadeira de capitão, Everton Ribeiro, Diego Ribas e Diego Alves uniram forças para levantar o troféu de 15kg banhado a ouro do Campeonato Brasileiro. (DQ)
“Faltou um gol. Estávamos esperando por esse resultado, há 41 anos. Independente disso, quem já está há muito tempo... Chegamos perto. Não tem como não sentir essa dor”
Patrick, meio-campo do Inter