A Copa do Brasil, literalmente, não é a mesma de antes. Durante os anos 1990 e meados dos anos 2000, era comum ouvir a afirmação de que o torneio era “democrático e o caminho mais curto para se chegar à Libertadores”. Porém, cada vez mais elitizada, a segunda competição de maior importância do calendário vem, ano após ano, perdendo a essência proporcionada por um dos seus principais charmes: a abertura para zebras. Em meio aos gigantes cortando caminho no mata-mata, as cenas de times menores desbancando os favoritos têm sido cada vez mais raras nas fases mais agudas do torneio.
Prestes a definir o 32º campeão da história — Palmeiras e Grêmio fazem o segundo jogo da final de 2020, no domingo —, a Copa do Brasil realizou, ontem, o sorteio da primeira fase de 2021. São 80 times, espalhados de norte a sul, envolvidos. Em jogos únicos, os clubes irão pelejar por 20 vagas na terceira etapa da competição, momento no qual se juntam aos graúdos do futebol brasileiro: oito vindos da Libertadores, o campeão da Série B, o nono colocado da Série A, e os donos dos títulos da Copa do Nordeste e da Copa Verde. Como prêmio extra por vencer o regional, o Brasiliense será o primeiro candango a pegar o atalho.
Representantes do futebol local na primeira fase, o Gama terá como adversário a Ponte Preta-SP, enquanto o Real Brasília buscará uma vaga na sequência do torneio contra o América-RN. Um dos três estreantes ao lado de Rio Branco VN-ES e Porto Velho, o Leão do Planalto terá como parâmetro de sucesso justamente o desempenho de um clube do Distrito Federal. Em 2002, no primeiro ano disputando a competição, o Brasiliense chegou à decisão ao passar por cinco fases e eliminar gigantes como Atlético-MG e Fluminense. Na final, marcada por polêmica de arbitragem , o Jacaré perdeu a taça para o Corinthians.
A missão — e o sonho — dos times de menor expressão é repetir tal feito e ingressar na lista de campeões inesperados da Copa do Brasil. Nos tempos áureos da democracia, Criciúma (1990), Juventude (1999), Santo André (2004) e Paulista (2005) conquistaram o título diante de gigantes que despontavam como favoritos. No melhor ano candango na competição, o Distrito Federal foi longe com dois times. Em 2007, o Brasiliense foi até às semifinais, quando acabou eliminado pelo Fluminense, e o Gama caiu nas quartas, mas antes tirou o tradicional Vasco da disputa, em pleno Maracanã.
O feito dos times locais, inclusive, foi um dos últimos respiros de triunfo do futebol raiz na Copa do Brasil. Nas temporadas seguintes, poucas vezes um time de fora da elite se posicionou entre os melhores. Em 2008, o Corinthians-AL foi o derradeiro clube sem divisão a chegar às quartas de final. Em 2011, o Horizonte-CE caiu nas oitavas de final. No ano seguinte, último antes da mudança de regulamento, apenas Paysandu e Fortaleza não integravam a Série A ou B entre os 16 mais bem colocados. A temporada de 2013, inclusive, foi o divisor de águas da elitização da competição.
Nela, implementou-se o direito de campeões regionais, nacionais e times participantes da Libertadores do ano em questão entrarem diretamente nas oitavas de final. Desde então, apenas clubes de Série A chegaram à decisão: Flamengo (2013 e 2017), Athletico-PR (2013 e 2019), Atlético-MG (2014 e 2016), Cruzeiro (2014, 2017 e 2018), Santos, Palmeiras (2015 e 2020), Grêmio (2016 e 2020), Corinthians e Internacional. Entre os 16 finalistas do período, somente seis jogaram todas as partidas possíveis. A hegemonia fica mais ampla no recorte das últimas três edições, quando todos os times da decisão pegaram o atalho.
Na edição de 2020, Palmeiras e Grêmio reforçaram a elitização. Os dois times chegaram à final seguindo o mesmo caminho. Começaram nas oitavas de final e passaram por outras duas fases até se enfrentarem na decisão. Ambos disputaram a Libertadores e, com isso, ganharam o direito de ter a trajetória encurtada no torneio nacional. Marcada para ter bola rolando na próxima quarta-feira, a Copa do Brasil 2021 terá a missão de resgatar o panorama histórico e mostrar que, nem sempre, os clubes menores se transformam em vítimas da primeira fase.
Milhões a quem menos precisa
Conforme foi se elitizando, a Copa do Brasil ficou cada vez mais valiosa. Porém, os times agraciados com verbas milionárias são, justamente, os mais poderosos. Nas fases inicias, por exemplo, há um recorte definido pelo ranking de clubes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A faixa de remuneração de elite, paga aos mais bem posicionados — como Corinthians e Cruzeiro serão na edição 2021 —, foi de R$ 1,1 milhão no jogo de estreia e R$ 1,3 milhão na etapa seguinte. No grupo 3, composto por participantes de menor cacife — casos de Gama e Real Brasília —, a verba começa em R$ 540 mil e sobe para R$ 650 mil em caso de classificação.
Para este ano, a CBF promoveu uma sutil mudança no regulamento e desviou o atalho das oitavas de final para a terceira fase. Com isso, ainda não há definição concreta do valor destinado aos times que chegarem nesta etapa. A esta altura da Copa do Brasil de 2020, a CBF pagou, de forma igualitária, R$ 1,5 milhão para cada participante. Quando o corte de classificados chegou a 32 clubes - soma dos classificados das fases iniciais com a entrada dos times adicionais deste ano - o orçamento subiu para R$ 2 milhões. Por ser um dos doze clubes que aguarda na fase mais aguda da competição nacional, o Brasiliense deve embolsar algo próximo disso.
Jacaré estreia no Candangão
Classificado para a terceira fase da Copa do Brasil, o Brasiliense estreia, hoje, no Campeonato Candango. Às 15h30, o time amarelo visita o Luziânia, no estádio Serra do Lago. Ontem, o time amarelo anunciou a contratação de mais um medalhão para o elenco. Aos 38 anos, o meia-atacante Jorge Henrique, ex-Corinthians e Vasco, se junta a nomes experientes como o atacante Zé Love.
Principais jogos da 1ª fase
Moto Club x Botafogo
Campinense x Bahia
Gama x Ponte Preta
Juazeirense x Sport
Galvez x Atlético-GO
Salgueiro x Corinthians
Caldense x Vasco
São Raimundo x Cruzeiro
Real Brasília x América-RN
Mirasol x Bragantino
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